Perto de dois mil motociclistas desfilam em protesto

Os motociclistas queixam-se da imposição de inspecções e da obrigatoriedade de ter carta de moto para conduzir algumas viaturas, quando até agora bastava ter carta de automóveis. A manifestação também estava marcada para outras cidades, como Lisboa, Faro, Coimbra — e também nas ilhas.

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Os motards encheram as ruas do Porto LUSA/RICARDO CASTELO
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Perto de dois mil motociclistas protestaram neste domingo pelas ruas do Porto contra medidas anunciadas pelo Governo sobre inspecções e cartas de condução, num desfile de cerca de 12 quilómetros e duas horas, que começou pelas 16h, revelou à Lusa a PSP.

O Grupo de Acção Motociclista (GAM) anunciou para a tarde deste domingo um protesto em seis cidades, indicando para o Porto uma concentração às 15h nos Aliados, mas antes dessa hora já estava tudo articulado com a Divisão de Trânsito da PSP para iniciar um "passeio" pela cidade, passando pelas ruas Sá da Bandeira, Gonçalo Cristóvão, Praça da República, rotunda da Boavista, rua Júlio Dinis, Palácio de Cristal, Hospital de Santo António e Clérigos.

De acordo com Paulo Ribeiro, do GAM e do Moto-Clube do Porto, a manifestação pretende "mostrar as manipulações" de que os motociclistas se queixam, com a imposição de inspecções aos motociclos e da obrigatoriedade de carta de moto para conduzir viaturas até 125 cm de cilindrada, quando até agora bastava ter habilitação para conduzir automóveis. "Estas medidas não são uma mais-valia em termos de segurança. Não é impondo estas acções que vamos reduzir a sinistralidade na estrada", resumiu Paulo Ribeiro.

A organização esperava "mais de mil motas" e, pelas 15h30, a contabilidade da PSP apontava para isso e para cerca de 1500 pessoas, segundo informações de António Antunes, subcomissário da Divisão de Trânsito da PSP do Porto. Depois das 16h, quando a "cabeça da coluna" da manifestação chegava já à praça da República, o responsável da PSP revelou à Lusa estarem nas ruas do Porto "perto de dois mil motociclos".

Paulo Ribeiro, do GAM, insistiu na questão das inspecções e da necessidade de carta de mota para quem já conduz motas com cartas de carro, dizendo não poder "pactuar com uma manipulação de números". "O aumento do número de mortos que é referido pelo Governo é falso, atendendo ao aumento de motos atualmente a circular e que são constantemente esquecidos nos relatórios do MAI", frisou.

José Antunes, 65 anos, deslocou-se de Barcelos até ao Porto para se manifestar contra as pretensões do Governo. Tem "carta de carro há 30 anos" e "há cerca de dez", comprou uma Vespa, porque "não precisava de tirar carta de mota", bastava a que já tinha. Conduz desde então o motociclo vermelho com menos de 125 cm de cilindrada, que enfeitou "cheia de galos", e "nunca" teve "um acidente".

Tirar uma carta de mota, estudar para isso, não é coisa que lhe apeteça aos 65 anos, pelo que, a avançar a medida prevista pelo Governo, a Vespa vermelha "vai ficar para lá encostada". "Já estou velhote, não vou estar agora a estudar. Se for para tirar carta a mota vai ficar lá encostada, quem é que ma vai comprar?", observa, notando que os "grandes acidentes" de mota acontecem com as "de grande cilindrada".

A bancária Marta Reis, de 38 anos, também esteve nos Aliados a protestar "contra as inspecções", por considerar ser uma medida "mais para ir buscar dinheiro do que para verificarem a segurança das motas". "Isto é um negócio", lamentou, lembrando que "há muitas motas modificadas" que, para passar na inspecção teriam de ser repostas como "de origem", o que "vai ser muito complicado".

De acordo com António Antunes, subcomissário da Divisão de Trânsito da PSP do Porto, o desfile de protesto pelo Porto foi acompanhado por cerca de 25 elementos da PSP, estando a cargo de nove motociclos daquela força policial assinalar o corte das ruas necessário para a passagem dos manifestantes.

De acordo com o subcomissário da Divisão de Trânsito da PSP do Porto, cada corte de rua deve demorar "cerca de 15 minutos" para permitir a passagem de uma "coluna de motociclos concentrada" ao longo de dez a 12 quilómetros da cidade, esperando-se a conclusão do passeio pelas 18h.

Em Janeiro, o ministro da Administração Interna anunciou que as inspecções periódicas a motociclos vão avançar no primeiro semestre de 2018, justificando esta medida com o aumento do número de acidentes mortais com motociclos em 2017. O Governo quer também tornar obrigatória a carta de condução para quem conduzir motociclos a partir de 125 cm de cilindrada, mesmo que tenha já carta de automóvel.

Por lei, a inspecção periódica dos motociclos, triciclos e quadriciclos com cilindrada superior a 250 cm está prevista no Decreto-Lei n.º 133/2012, de 11 de Julho. Esta lei veio obrigar os centros de inspecção a adaptarem-se para fazerem inspecção a motas, mas ficou por sair a regulamentação.

Manifestações pelo resto do país

Além do Porto, milhares de motociclistas iniciaram na tarde deste domingo concentrações por várias cidades do país, em protesto contra a "farsa das inspecções às motos" e manipulação da sinistralidade rodoviária. Segundo António João, do Grupo de Acção Motociclista (GAM), que organiza a concentração, afluíram ao Rossio, no centro de Lisboa, cerca de três mil motociclistas. Os motociclistas têm programado um desfile em Lisboa, que terminará na Assembleia da República, onde vão entregar um manifesto.

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Manuel de Almeida/LUSA

O protesto reúne ainda centenas de motociclistas em Faro, estando ainda previstas concentrações em Coimbra, no Funchal e em Ponta Delgada.

A caravana de protesto que reuniu várias centenas de motociclistas em Faro iniciou-se no Largo de São Francisco, no centro da cidade, de onde seguiu em direcção ao aeroporto, num percurso de aproximadamente seis quilómetros, terminando depois novamente na baixa de Faro, no Jardim Manuel Bívar. "Inspecção garante receita, não previne sinistralidade", "Não a esta farsa" e "Segurança sim, negócio não" eram algumas das frases expostas nas motos dos participantes no protesto. Há quase 40 anos que Faro recebe, todos os anos, uma concentração internacional de motos, o que faz desta uma cidade com uma forte tradição "motard".

Segundo a polícia, também em Coimbra cerca de 200 motociclistas se manifestaram na tarde de domingo, no âmbito do protesto nacional. Uma fonte da PSP disse à agência Lusa que a iniciativa ainda decorria, às 16h, na praça da República, uma das zonas mais movimentadas da cidade, frequentada sobretudo por estudantes universitários. A concentração realizou-se "com normalidade, não havendo àquela hora qualquer perturbação da ordem pública, sublinhou.

Cerca de 250 motociclistas associaram-se à manifestação no Funchal, tendo em caravana percorrido a marginal da cidade numa iniciativa "apenas ruidosa e pacifica", após a leitura do manifesto que será entregue na Assembleia da República. "Quisemos também manifestar a nossa posição contra a implementação das inspecções periódicas obrigatórias para as motas", disse à agência Lusa o vice-presidente da Associação de Motociclismo da Madeira.

Nélio Olim ainda considerou que esta iniciativa é um protesto contra o "retrocesso e um voltar ao passado em termos de legislação europeia", ou seja, a exigência de exame de condução para veículos com duas rodas até 125 cc e 11 kw.

Nos Açores, foram cerca de 150 os motociclistas da ilha de São Miguel que se manifestaram nas Portas da Cidade, em Ponta Delgada, pelas 14h locais (mais uma em Lisboa) para se associarem à manifestação que decorre neste domingo por todo o país, para defesa dos interesses de todos os motociclistas.

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