United we stand, divided we fall

Foi o congresso dos pedidos e dos desejos de união no PSD. Rui Rio até a deu como garantida depois dos acordos com Santana, mas também ficaram sinais de que podem surgir pedras no caminho do novo presidente.

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Rio e Santana tentaram dar um sinal de unidade que o congresso ?se encarregaria ?de desmontar Miguel Manso
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Miguel Manso

A frase, diz a Wikipedia, nasceu na Grécia antiga, mas foi ganhando peso ao ser repetida ao longo dos séculos em várias latitudes políticas, especialmente nos Estados Unidos. United we stand, divided we fall. Em português: Unidos estaremos de pé, divididos cairemos. Este poderia ter sido o lema do 37º Congresso do PSD, tal foi a vontade manifestada em ter um partido unido ao lado do novo líder.

Depois de militantes do partido e comentadores andarem durante semanas a afirmar que o partido estava dividido e que Rui Rio iria enfrentar uma guerra por parte de alguns dos homens que estiveram com Passos Coelho, a maioria dos social-democratas uniu-se para pedir… unidade.

A palavra foi usada vezes sem conta no Centro de Congressos de Lisboa. Essa tão desejada união teve momentos significativos, mas também ficaram alguns sinais de que o novo presidente do PSD poderá vir a encontrar algumas pedras na caminhada que agora inicia.

Sinais de unidade

O primeiro momento da vontade de união foi dado por Rui Rio, o mais interessado em tê-la, logo na sexta-feira. O presidente eleito fez recolher antecipadamente as suas acreditações para o congresso e as de Santana Lopes. Entraram no pavilhão por uma porta lateral para, depois de aberto o conclave, surgirem juntos na sala. O povo social-democrata gostava do que via e levantou-se para lhes oferecer um forte aplauso.

A abertura dos discursos coube, porém, ao líder que estava de saída. Passos Coelho aproveitou a ocasião para enaltecer o trabalho seu governo e para desancar a "gerigonça". Ao novo presidente disse, ainda que por outras palavras, que ia continuar a andar por aí, mas para colaborar: “Rui, estou aqui como um soldado pronto para contribuir para a difícil missão do nosso partido.”

Logo a seguir, Rui Rio respondeu-lhe, devolvendo os elogios, mas também não poupou nas simpatias a Santana. Tantas que o candidato derrotado nas directas quase foi às lágrimas. Seguiram-se fortes abraços entre Rio, Santana e Passos. O congresso começava com sinais de unidade.

Esses sinais e desejos voltaram surgir no sábado de várias maneiras. O mais significativo foi quando o novo líder, já ao final da tarde, anunciou que o processo de elaboração das listas aos órgãos nacionais eram resultado de um acordo entre o presidente eleito e o candidato derrotado. Santana era mesmo o primeiro nome na lista Conselho Nacional. Os negociadores das duas partes vieram de imediato a público dizer que tudo tinha corrido às mil maravilhas.

Rio dava mesmo a unidade no PSD como um facto adquirido: “Aquilo que é relevante é a unidade política, a unidade que se conseguiu entre os apoiantes, particularmente entre o doutor Pedro Santana Lopes e eu próprio, isso é que é importante."

Santana só quebrou o silêncio na madrugada de domingo e com uma promessa: Rio podia contar com “unidade e convergência”. E até reconheceu coragem ao novo presidente: "Reconheço essa coragem e por isso mesmo este combate, que é tão difícil, se estivermos todos unidos no essencial vamos ser capazes."

No meio de tudo isto ficava um aviso de Alberto João Jardim: "Se continuarem a fazer disto uma guerra de alecrim e manjerona, terei de vir aqui para dar umas bengaladas nos meninos mal comportados. Agora, mais do que nunca vamos unir-nos."

Sinais de divisão

O primeiro grande sinal de que a tão cantada unidade poderia ter problemas foi dado pelo antigo líder da bancada parlamentar do PSD na tarde sábado. Luís Montenegro anunciou que ia deixar o Parlamento e avisou que também vai andar por aí. Atento e com pouca vontade de ser um simples soldado. "Conhecem a minha convicção e a minha determinação, se for preciso estar cá, eu cá estarei, para o que der e vier, sem receio de nada e sem estar por conta de ninguém, sou totalmente livre. (…) Desta vez decidi não, se algum dia entender dizer sim, já sabem que não vou pedir licença a ninguém", avisou. A sala aplaudiu fortemente.

Pouco tempo depois, surgiu um novo aborrecimento à tão desejada unidade. Após saber-se que Elina Fraga seria uma das vice-presidentes, o PÚBLICO lembrava que antiga bastonária da Ordem dos Advogados tinha um passado de fortes críticas ao Governo de Passos. Tinha mesmo ameaçado avançar com um processo-crime a todos os ministros.

Paula Teixeira da Cruz, antiga ministra da justiça, chamou a nomeação de Fraga “uma traição” e o congresso dividiu-se entre lamentos e críticas e tentativas de esvaziar a polémica. Fraga acabou mesmo por ser alvo de uma muito audível assobiadela por parte dos delegados quando foi chamada a ocupar o seu lugar na mesa da direcção.

No meio da polémica, que se estendeu até ao fim do congresso, a declaração mais curiosa partiu de Pedro Pinto, presidente da distrital de Lisboa do PSD: “Nem sabia que era militante.” No lado do descontentamento ficaram também as críticas de algumas estruturas distritais que apoiaram Rio e não gostaram de ver os lugares que podiam ser seus em algumas listas ocupados por homens de Santana.

Ainda assim, a vontade de união parece ter saído vencedora do 37º Congresso do PSD. Manter-se-á no futuro? Uma pergunta que, para já, não pode ser respondida por ninguém.

Na verdade, com unidade ou sem ela, ainda há quem se excite, e muito, com os congressos do PSD. É o caso do militante Paulo Colaço que o confirmou num inflamado discurso. “Não durmo direito há duas noites com tanta excitação. Ao fim de tantos anos, vocês ainda me excitam tanto.”

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