Rui Rio escolhe direcção da sua total confiança

Escolhas do novo líder do PSD geraram descontentamento em algumas distritais que se sentiram excluídas dos órgãos nacionais.

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Sem surpresas, o novo líder do PSD escolheu pessoas da sua inteira confiança para os lugares de direcção do partido. Os nomes foram recebidos com alguma frieza na sala, acompanhando o clima de descontentamento de algumas distritais que se sentiram excluídas do processo. Curiosamente, o acordo alcançado entre Rui Rio e Santana Lopes, na madrugada de sábado, fazia antever um clima de unidade à volta do líder, mas à medida que a distribuição de lugares foi sendo conhecida instalou-se a contestação. Nos corredores do congresso, os apoiantes de Rio, alguns deles bastantes críticos, desabafavam que este foi o consenso possível.

Ao fim da tarde, Rui Rio subiu à tribuna para apresentar as suas escolhas para os órgãos nacionais em função do acordo com Pedro Santana Lopes, à excepção da comissão política nacional. O entendimento foi conseguido entre apoiantes dos dois lados, mas o líder eleito fez questão de colocar os seus indefectíveis enquanto Santana Lopes tratou de colocar os seus mais próximos, deixando de fora os que o apoiaram na campanha para as directas.

Para a comissão política nacional, o novo presidente do partido escolheu os que estiveram consigo, como David Justino (coordenador da moção de estratégia global), Nuno Morais Sarmento (mandatário nacional da candidatura) e Salvador Malheiro (director nacional de campanha). A equipa integra ainda um nome polémico: Elina Fraga, ex-bastonária da Ordem dos Advogados. Mal foi conhecido o nome de Elina Fraga alguns sociais-democratas depressa lembraram as críticas que a advogada fez ao anterior Governo. Outra mulher na vice-presidência de Rio é Isabel Meirelles, especialista em assuntos europeus e que se candidatou em 2009 à câmara de Oeiras.  

Manuel Castro Almeida, ex-presidente da câmara de São João da Madeira, ex-secretário de Estado do Desenvolvimento Regional e amigo do líder, também foi chamado para trabalhar para a nova equipa. Entre os vogais da comissão política nacional está ainda o deputado António Topa, que também é figura ligada à distrital de Aveiro. A opção de Rio de escolher três nomes de Aveiro foi, aliás, considerava excessiva, tendo em conta que houve distritais quase sem representação nos lugares cimeiros das listas.

Entre os outros vogais da direcção nacional estão figuras que são próximas de Rio, como António Maló de Abreu, médico ligado à distrital de Coimbra, Manuel Teixeira, ex-chefe de gabinete de Rui Rio na câmara do Porto e o seu estratega. Os caminhos entre os dois sociais-democratas cruzam-se desde o tempo em que Rio era da JSD e Manuel Teixeira era jornalista no jornal O Comércio do Porto.

António Carvalho Martins outro compagnon de route de Rio, ex-governador civil de Viana do Castelo, antigo deputado e empresário, foi chamado para vogal da direcção. Na comissão política nacional Rio também premiou quem trabalhou de perto consigo nos últimos meses. É o caso de André Coelho Lima, mandatário distrital do Rio, e de Rui Rocha, líder da distrital de Leiria e apoiante de Rio desde o primeiro momento. A ex-ministra da Ciência e do Ensino Superior no Governo liderado por Durão Barroso, Maria da Graça Carvalho, aceitou o convite de Rio para vogal da sua comissão política, da qual fazem parte também Ofélia Ramos, presidente da concelhia de Faro, e Cláudia André, do PSD de Castelo Branco.

Outra escolha da estrita confiança do líder e que o acompanhou na preparação da corrida à liderança do partido é Feliciano Barreiras Duarte. Já para o conselho nacional – o órgão mais importante entre congressos – a lista é liderada pelo próprio Santana Lopes, tem o eurodeputado Paulo Rangel em número dois e o antigo ministro da Agricultura, Arlindo Cunha, em terceiro lugar. Para a presidência da mesa do congresso, Rio escolheu um antigo vice-presidente de Manuela Ferreira Leite, Paulo Mota Pinto, e colocou em número dois o mandatário nacional de Santana Lopes, Almeida Henriques, presidente da câmara de Viseu.

Apesar da tentativa de gerar uma ideia de unidade através do acordo celebrado com Santana Lopes, algumas distritais ficaram desagradadas com as escolhas e não esconderam o seu descontentamento ao longo dos trabalhos dos congressos.

Pedro Alves, líder da distrital de Viseu, onde Rio teve o segundo melhor resultado nacional nas directas, assumiu a crítica. “As listas não são um negócio, mas servem sim para dar um sinal político”, afirmou aos jornalistas, referindo que Viseu – um “distrito do interior” – “não se sente representado”.

Ainda sem os nomes oficialmente confirmados, o ex-líder parlamentar Luís Montenegro dava o tom, reflectindo o clima que se vivia na sala. Dirigiu-se ao novo líder e avisou: “Não deixe que o PSD se transforme no grupo de amigos de Rui Rio”. Era a resposta às próprias palavras de Rio na noite em que assumiu a vitória das directas.

Os delegados eleitos pelo Porto chegaram a ponderar apresentar uma lista ao Conselho Nacional, num sinal de descontentamento, mas essa ideia terá ficado pelo caminho. "Somos um partido em que as bases são o grande suporte e de algum modo este acordo entre o presidente e o candidato veio de alguma forma pôr em causa esta grande tradição do PSD, mas não é isso que nos vai fazer deitar a toalha ao chão", disse o secretário-geral do PSD-Porto, José Manuel Soares. Em contrapartida, Bruno Vitorino, deputado e líder da distrital de Setúbal, subscreveu uma lista ao Conselho Nacional, que intregra representantes de oito distritos e que granjeou muitos apoios de estruturas desagradadas com as opções de Rio.

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