O que preocupa o partido? Roteiro do dia 2 do congresso

Pelo palco do 37.º congresso do PSD passaram mais palavras do que pessoas. Fizemos a lista das mais marcantes.

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Entendimentos (Rio quer assinar)

Afinal, o que fará Rui Rio? Entendimentos com o PS, ou não? No discurso de abertura, o novo líder disse não a um Bloco Central, mas acrescentou que há bloqueios do país que só se resolvem com consensos. Este sábado, numa entrevista à Antena 1, concretizou: não há tempo, até 2019, para materializar as reformas necessárias, “mas há tempo para se darem os primeiros passos, assinarem declarações de intenções para se pôr em andamento o início das reformas”, disse. 

A aproximação ao PS foi, claro, o tema central no dia 2 do congresso – sendo raro o congressista que, no palanque, não se referisse ele. E, sem surpresa, acabou por ser uma linha vermelha traçada por Luís Montenegro: “No dia em que nos juntarmos a este PS bloquista vamos capitular”. 

A verdade é que Costa tem dossiês na mão, à espera de Rio (fundos europeus, descentralização, etc.). E Rio deixou pistas dos dossiês que prefere: justiça, sistema político e reforma do Estado. Cabe-lhe, no discurso de encerramento, dar o primeiro passo.

Marcelo (um elogio e, já agora, um pedido)

Se os consensos são divisivos no PSD, Nuno Morais Sarmento, de novo vice-presidente do partido, subiu ao palco para pedir um empurrão do Presidente da República: que Marcelo identifique “os bloqueios do país”, abrindo caminho à “discussão” sobre que compromissos são necessários. Sarmento diz que fez o mesmo desafio a Cavaco quando este chegou a Belém – e anota que só no final ele se rendeu à evidência desta necessidade de consensos. Agora, repete o desafio a Marcelo, a quem deixou um grande elogio: “Um verdadeiro exemplo” de alguém que segue “os princípios da social-democracia, que a esquerda proclama mas não pratica”. “Devemos-lhe uma palavra de admiração e agradecimento”, disse Sarmento, nas primeiras palavras do congresso para Marcelo. 

Ganhar (mas ganhar é o quê)? 

As eleições legislativas são já em Outubro de 2019 – e Rui Rio disse logo no discurso de arranque que o seu objectivo é ganhar. Montenegro, que se posicionou como “reserva” para a liderança, foi claro na exigência também: “O PSD tem que ganhar as terceiras eleições consecutivas”. O congresso aplaudiu – e Rui Rio pôs uma cara séria. Mas a verdade é que, sendo “difícil”, a meta imposta por Montenegro nem foi a pior possível: ninguém no partido pediu a Rio que conseguisse uma maioria para governar, aquela que Passos (ganhando) não teve em 2015. O prémio para discurso optimista do dia foi para Carlos Moedas: “Não nos deixemos desmoralizar pelos vaticínios catastrofistas dos bem-pensantes”, a vitória é possível. 

Socialistas (afinal são o diabo ou nem tanto?) 

O PS é o adversário, mas a extrema-esquerda foi o alvo comum dos discursos – de Paulo Rangel a Hugo Soares. E a frase mais divertida terá sido a dita por Ricardo Baptista Leite, deputado: “Não há droga que nos valha contra a governação da extrema-esquerda. Para combater isso, precisamos de ganhar as eleições”. Mas foi outro deputado, Cristóvão Norte, quem deixou uma dúvida no congresso: Costa é “o último dos moderados no PS”, depois vem uma geração “mais radical” (o mesmo que dizer mais à esquerda). O day after de que se fala no PSD, assim, não é só sobre o desta liderança.

Críticos (Montenegro e pouco mais)

Fez o discurso do dia – ouvido entre silêncio religioso e muitos aplausos. Disse que não seria oposição interna, mas que não ia pedir autorização para se candidatar no futuro. Depois, a nova direcção reagiu (Castro Almeida disse que saberia conviver com a divergência). E os outros outsiders prometeram apoio: Moedas, Pedro Duarte, Rangel (“Não é tempo nem momento de batalhas virtuais”). Balanço? O PSD teve a sua clarificação e entrou num intervalo de paz. 

Renovação (à maneira de Rio)

Montenegro avisou que o PSD não podia transformar-se num “clube dos amigos de Rui Rio”. E foi seguido por mais congressistas, como Duarte Freitas (Açores) ou Pedro Duarte (“é mais fácil termos renovação de ideias quando temos renovações de rostos”). Rio entrou em modo Sinatra e fez as listas a ouvir My Way. Este domingo veremos se com mais ou menos votos.

Madeira (a primeira batalha)

As eleições regionais da Madeira serão no início de 2019 e podem não ser o habitual passeio para o PSD. Paulo Cafôfo deve receber o apoio dos socialistas para se candidatar – e pode ter o apoio da esquerda. Sarmento avisou que, “no continente, a esquerda veio pelas costas e na Madeira prepara-se para ir disfarçada” a eleições. Miguel Albuquerque também subiu ao púlpito, para atacar a geringonça e marcar território. O líder regional também procurou a unidade: foi falar com Jardim e indicou o seu ex-adversário interno para a direcção de Rio. Chegará para evitar uma surpresa?

Europa (e já quase ninguém fala do CDS)

Paulo Rangel subiu ao palco como já-quase-candidato-nas-europeias. Acusou o PS de “encher a boca com a Europa” quando governa “em Portugal com dois partidos profundamente anti-europeus – que em Bruxelas votam sistematicamente ao lado dos populistas de esquerda e, pasme-se, em quase 80% dos votos, com os populistas de Le Pen”, recordou. “Que política europeia é esta [do PS]?”, disparou o eurodeputado, explicando por que razão é importante um triunfo do PSD no Parlamento Europeu. A missão é difícil: em 2014, o PS venceu com quase 4% de vantagem. E nessa altura o PSD ia junto com o CDS. Esse é outro dado curioso do congresso: Cristas anunciou que o CDS vai, desta vez, sozinho – e todos deram o cenário por fechado.

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