Jogar futebol faz bem à saúde?

Neste texto damos a resposta, não aplicada aos praticantes de elite que vemos na TV, mas a todos aqueles que escolhem o futebol recreativo – no parque, na escola, no pavilhão entre amigos – como a sua atividade física preferida. Futsal incluído!

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Em Portugal, país campeão da Europa de futebol e futsal, há um potencial enorme, ainda por explorar, para promover o futebol recreativo Enric Vives-Rubio

A robustez de evidência científica face ao papel da atividade física na prevenção e tratamento de doenças como a hipertensão, diabetes tipo 2 e osteoporose exige que, atualmente, a investigação em exercício e saúde se centre, cada vez mais, nos efeitos concretos de programas de exercício físico que possam ser mantidos a longo prazo e por muitas pessoas.

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A robustez de evidência científica face ao papel da atividade física na prevenção e tratamento de doenças como a hipertensão, diabetes tipo 2 e osteoporose exige que, atualmente, a investigação em exercício e saúde se centre, cada vez mais, nos efeitos concretos de programas de exercício físico que possam ser mantidos a longo prazo e por muitas pessoas.

Durante a última década, diversos estudos foram publicados acerca dos efeitos da prática recreativa de futebol em vários indicadores de saúde. A ideia original terá surgido na Dinamarca: sendo o futebol recreativo uma atividade tão popular e, deste modo, capaz de manter os jogadores motivados para a prática, faria sentido conhecer cientificamente os seus efeitos na saúde. Este foi o tema principal de discussão da primeira conferência internacional "Football is Medicine", realizada na Cidade do Futebol, sede da Federação Portuguesa de Futebol, em janeiro de 2018. A iniciativa trouxe a Portugal os principais investigadores mundiais na área do futebol recreativo enquanto veículo promotor de saúde e lançou as bases para uma plataforma de divulgação e implementação de programas comunitários de atividade física que possam ser disseminados a nível mundial.

Uma sessão de treino de futebol recreativo é, no que respeita às suas exigências físicas e fisiológicas, muito semelhante a uma sessão de treino de futebol federado num clube. No entanto, o futebol recreativo é extremamente fácil de ser implementado, pois não depende de uma organização formal e estruturada. Na verdade, são necessários apenas alguns elementos simples: uma bola e um espaço para se jogar. As regras, as dimensões do campo, as balizas e o número de jogadores podem ser adaptados.

Mostram os estudos que, independentemente do número de participantes na sessão de treino (podem ser jogos reduzidos de 3 vs. 3, 5 vs. 5 ou 7 vs. 7), do espaço de jogo disponível (sejam espaços desportivos comunitários, pavilhões gimnodesportivos ou ringues de futsal no exterior), ou da superfície onde se pratica (relva natural ou artificial, cimento, asfalto, terra ou areia), o futebol recreativo tende a ser uma atividade de natureza intermitente, de intensidade moderada a vigorosa, exercendo uma forte ação sobre os sistemas cardiorrespiratório, metabólico e músculo-esquelético. Os benefícios são transversais aos diferentes escalões etários, a homens e mulheres, e visíveis tanto em indivíduos saudáveis como com patologias crónicas.

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O futebol recreativo já foi testado em algumas populações clínicas, nomeadamente em indivíduos com diabetes tipo II, com hipertensão, mulheres com osteopénia, homens em tratamento para o cancro da próstata e crianças e adolescentes com obesidade, verificando-se em todos benefícios assinaláveis. Estão também em curso projetos que visam estudar os efeitos do futebol recreativo em mulheres com cancro da mama e em homens com doença de Parkinson. Como não há competição formal, o risco lesional encontra-se muito reduzido e os benefícios desta prática parecem ser muito superiores aos riscos.

Uma meta-análise recentemente publicada, que reuniu informação de 31 estudos, concluiu que, em homens e mulheres previamente sedentários entre os 18 e 65 anos, 2 treinos semanais de 1 hora durante 3 a 6 meses levam a uma melhoria na aptidão cardiorrespiratória, no perfil lipídico, no desempenho em testes funcionais e a uma diminuição da massa gorda e da frequência cardíaca de repouso. Em pessoas com hipertensão ligeira a moderada, é expectável uma redução da pressão arterial sistólica e diastólica, em 11 e 7 mmHg respetivamente.

Em comparação com outro tipo de exercícios, o futebol tem um impacto na capacidade aeróbia semelhante ao treino intervalado de alta intensidade, mas – e muito importante – com uma perceção de esforço menor. Este facto torna este tipo de exercício mais agradável em comparação com outras atividades percecionadas como mais exigentes (ver infografia).

Uma das questões fundamentais para o sucesso a longo prazo de qualquer programa de atividade física passa por aspetos psicológicos e de envolvimento social dos participantes. Neste âmbito, a prática recreativa de futebol, enquanto desporto coletivo, está associada a elevados níveis de diversão e gosto pelo jogo, mas também de desenvolvimento de capital social e relacionamento entre os participantes. Isto favorece que a prática se mantenha ao longo do tempo, o que é o desejável (e também o mais difícil) na mudança comportamental em saúde.

A popularidade do futebol em todo o mundo é indiscutível. Em Portugal, país campeão da Europa de futebol e futsal, há um potencial enorme, ainda por explorar, para promover o futebol recreativo. A prática regular e mantida ao longo do tempo pode trazer claros benefícios à saúde da nossa população, ao aproximar mais pessoas do cumprimento das recomendações atuais de atividade física da Organização Mundial de Saúde.