Facebook: o último a sair apaga a luz?

A mexida que Mark Zuckerberg anunciou recentemente de que o Facebook vai passar a privilegiar mais o conteúdo produzido pelas pessoas do que o produzido pelas empresas pode ser um passo para o suicídio do negócio.

Não há discussão acerca de que o Facebook exibe indicadores de saúde em termos de lucratividade. Entretanto, como empresa, o FB não revela todos os indicadores de vitalidade do negócio, nem tampouco possibilita auditoria independente de medição da audiência. Portanto podemos conjeturar. De minha parte tenho reparado mudanças muito eloquentes de que o FB já não tem mais aquele apelo todo.

De acordo com minhas observações cotidianas, os mais jovens já saíram há muito tempo do FB. Mudaram de comportamento e de canais. Fácil de explicar. Em primeiro lugar sentem-se incomodados pela invasão dos respetivos vovôs e vovós que encontraram na rede digital um lugar de socialização online, com um comportamento que acaba constrangendo seus descendentes. Não é difícil entender o motivo deste constrangimento. Se alguém tiver que explicar para si, pode ter certeza de que você faz parte dos “sem-noção”. Em segundo lugar porque aqueles jovens do início do FB dos idos de 2005 cresceram e amadureceram. Já estão nos trinta e tal, portanto tem mais coisa que fazer na vida do que ficar botando postizinho adolescente.

Outra observação importante é a perda de credibilidade que vai se tornando cada vez mais evidente deste veículo. A desconfiança do público relativamente ao tal do “algoritmo” faz com que todo mundo reclame de uma maneira ou outra, seja pelo que aparece ou pelo que deixou de aparecer em suas respetivas linhas do tempo. A credibilidade cai mais ainda por que as pessoas estão mais e mais a compreender que o FB é um meio ambiente descontrolado no que diz respeito à fabricação de notícias falsas. Os factos estão aí e as consequências são em alguns casos desastrosas, como a empurrada dos cyber russos na eleição do Trump.

Para muita gente o FB era principalmente um canal de entretenimento. A malta ama se distrair e passar o tempo a rir, e isso foi uma das razões do passado histórico de crescimento exponencial da televisão. Mas o FB vai a deixar de entreter para enervar. Isso pelo fato de ser por excelência o canal da polarização. “Cansei das brigas e discussões” é certamente uma das queixas que mais oiço quando alguém se refere ao FB. Assim é que “aborrecido” é cada vez mais um adjetivo aplicado ao Facebook. E isso é chato para qualquer negócio, convenhamos.

Do ponto de vista dos anunciantes o tempo está a fechar para o FB, como fica claro no que disse na semana passada, para o Financial Times, Keith Weed, presidente do grupo Unilever, com as credenciais de quem investe em marketing algo como 7,7 mil milhões de euros anualmente: "Não podemos continuar a apoiar uma cadeia de fornecedores digitais, que distribui mais de um quarto da nossa publicidade dirigida aos consumidores, que normalmente é tão transparente como um pântano... Enquanto um dos maiores anunciantes do mundo, não podemos ter um ambiente em que os nossos consumidores não confiam naquilo que vêem online."

A mexida que Mark Zuckerberg anunciou recentemente de que o FB vai passar a privilegiar mais o conteúdo produzido pelas pessoas do que o produzido pelas empresas pode ser um passo para o suicídio do negócio. As consequências estão a aparecer. Muitas empresas de comunicação estão a reavaliar o FB como canal de anunciante. Em alguns casos estão a radicalizar e a deixar de postar completamente neste canal, como foi o caso da Folha de São Paulo, terceiro maior jornal no Brasil, anunciado na última semana.

O declínio do FB é uma hipótese bem provável e na minha modesta opinião é mais uma questão de velocidade. Pode ser na forma de estouro da boiada ou pode ser sangria lenta. De qualquer forma, não há bem que sempre dure, nem mal que nunca termine. E isso vale para tudo na vida. E o mais impressionante são aquelas coisas que aparentam solidez, escala, poder e que, de repente, se desmancham no ar ou simplesmente implodem, como a URSS.

Não sei qual o coelho que Zuckerberg pretende tirar da cartola. Mas sinto que o momento está a amadurecer é para uma coisa bem diferente desse modelo de negócio de rede social baseado no conceito “onde todo mundo está”. Que venha aí a nova moda do mundo digital.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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