Ramaphosa promete “nova era” na África do Sul

O novo Presidente quer deixar para trás o passado recente marcado pela corrupção do seu antecessor e pela falta de oportunidades económicas para a população.

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Ramaphosa tomou posse esta semana, após a demissão de Zuma EPA/GIANLUIGI GUERCIA / POOL

O recém-empossado Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, fez esta sexta-feira um muito antecipado discurso sobre o estado da nação, em que prometeu a criação de emprego e prestou homenagem à herança de Nelson Mandela. Ramaphosa disse ainda que o país está a entrar numa “nova era” que deixará para trás a corrupção.

“Iremos construir uma nova nação e confrontar as injustiças do passado e as desigualdades do presente”, declarou Ramaphosa, no discurso na Cidade do Cabo.

O novo Presidente prometeu continuar a “longa caminhada” iniciada por Nelson Mandela com o objectivo de alcançar uma “sociedade democrática, justa e igualitária”. “Estamos a continuar a longa caminhada que ele iniciou, para construir uma sociedade em que todos somos livres, em que todos somos iguais perante a lei e na qual todos podem partilhar as riquezas da nossa terra”, afirmou Ramaphosa, durante o discurso.

A expectativa para o primeiro discurso oficial de Ramaphosa enquanto Presidente era elevada. O discurso do estado da nação tinha sido adiado no início do mês, enquanto o ANC definia o destino do seu antecessor, Jacob Zuma. O partido que liderou a luta contra o apartheid e que está no poder desde 1994 atravessa uma crise de legitimidade sem precedentes, por causa do envolvimento de Zuma em vários casos de corrupção. O objectivo é agora tentar travar a progressão do descrédito a tempo de evitar dissabores nas eleições legislativas do próximo ano, nas quais existe a possibilidade de perder a maioria.

Espera-se também que Ramaphosa promova a recuperação de uma economia que atravessa um momento particularmente difícil. O desemprego é elevado e o investimento quase inexistente, pelo que analistas e investidores externos aguardavam por sinais de que os próximos tempos serão diferentes.

Durante o discurso não foram apresentadas muitas medidas concretas, embora Ramaphosa tenha prometido a criação de um milhão de estágios remunerados para jovens, mas deixando o aviso de que será necessário tomar “decisões duras” para controlar o défice. O orçamento de Estado é apresentado na semana que vem, mas vários analistas antecipavam que o actual ministro das Finanças possa ser demitido até lá. Esta é uma exigência do líder do partido da oposição Combatentes pela Liberdade Económica, Julius Malema.

Ramaphosa terá de encontrar um ponto de equilíbrio complexo. Ao mesmo tempo que tem de sinalizar uma mudança nas políticas económicas para atrair investimento, tem também de ser cuidadoso e não pôr em causa medidas encaradas como vitórias para as classes mais baixas – que compõem a base de apoio do ANC. Um dos desafios, por exemplo, será o da implementação da abolição das propinas no ensino superior público, uma medida apresentada ainda por Zuma no final do ano passado.

“Ramaphosa não é um messias”, avisa o professor da Universidade de Witwatersrand, David Everatt, num artigo publicado no site The Conversation. “Ele tem uma tarefa gigantesca à sua frente para tentar fazer renascer o orgulho nacional, a auto-estima e a confiança mútua.”

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