Alertado para possível ataque, FBI admite ter falhado na investigação ao autor do tiroteio

A polícia federal norte-americana admite que não seguiu o protocolo estabelecido depois de ter recebido uma pista que dizia que Nikolas Cruz tinha armas e "vontade de matar pessoas". O governador da Florida pediu a demissão do director do FBI.

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Ex-aluno atacou antigos colegas e funcionários da escola secundária Marjory Stoneman Douglas, em Parkland Reuters/THOM BAUR

O FBI recebeu uma pista em Janeiro que dava conta que Nikolas Cruz – que matou 17 pessoas na quarta-feira num liceu do estado norte-americano da Florida – poderia levar a cabo um tiroteio numa escola. A pista foi dada por uma pessoa próxima do jovem de 19 anos, que confessou os crimes. Segundo um comunicado divulgado pelo FBI nesta sexta-feira, a polícia federal norte-americana falhou: não seguiu a pista nem passou a informação à delegação de Miami.

A indicação dada ao FBI referia que Cruz tinha armas, que fazia publicações “perturbadoras” nas redes sociais e que, devido ao seu “comportamento instável”, poderia levar a cabo um tiroteio numa escola. O denunciante que ligou para a linha de telefone pública do FBI disse ainda que o jovem tinha "vontade de matar pessoas". 

“Segundo o protocolo, a informação dada deveria ter sido analisada como uma possível ameaça à vida humana”, referiu o FBI no comunicado. “A informação deveria então ter sido remetida para a delegação do FBI em Miami, onde seriam tomadas as medidas de investigação adequadas. Admitimos que estes protocolos não foram seguidos”. Como a pista não chegou a Miami, não foi feita qualquer “investigação adicional”.

“Falámos com as vítimas e com as famílias, e lamentamos profundamente a dor que isto causa a todos os afectados por esta terrível tragédia”, disse o director do FBI Christopher Wray, citado no comunicado. “Ainda estamos a investigar. Estou empenhado em perceber o que verdadeiramente aconteceu, e a rever os procedimentos para dar resposta à informação que recebemos da população”, acrescentou. Wray admitiu ainda que todos os norte-americanos devem estar alerta, mas que está nas mãos do FBI “agir de forma rápida e adequada” nestes casos.

Pedido de demissão e um curso patrocinado pela NRA

Na sequência do anúncio do FBI, o procurador-geral dos Estados Unidos, Jeff Sessions, pediu que fosse feita uma inspecção às medidas tomadas pela polícia federal e pelo Departamento de Justiça norte-americano. Segundo a Reuters, o governador do estado da Florida, Rick Scott, foi mais longe e disse que o director do FBI, Christopher Wray, se deveria demitir do cargo. “A falha do FBI é inaceitável”, concluiu.

Num comentário que o atirador fez no YouTube (e em que não revelava quem era), Cruz disse que um dia iria ser “um atirador profissional numa escola”. A frase fez com que um utilizador da plataforma avisasse o FBI. “O FBI investigou, mas não conseguiu identificar a pessoa que fez o comentário”, disse um representante da polícia na Florida. Segundo a Reuters, esta indicação não está relacionada com as pistas que o FBI recebeu por telefone e que não investigou.

Nikolas abriu fogo na escola de onde tinha sido expulso em 2017 com uma arma semiautomática AR-15, comprada legalmente, acabando por matar 17 pessoas, ferindo outras 14. Compareceu em tribunal nesta quinta-feira e é acusado de 17 crimes de homicídio premeditado – os advogados de defesa dizem que Nikolas está “cheio de remorsos” e que é “um ser humano destroçado”.

O jovem tinha feito parte de um curso de tiro ao alvo (onde foi aprovado com excelência), patrocinado pelo grupo a favor da posse de armas National Rifle Association (NRA), com o intuito de incentivar os grupos de tiro frequentados por jovens, noticia a AP nesta sexta-feira. Um dos seus antigos colegas de equipa disse que a pontaria de Nikolas Cruz era “muito boa”.

Em 2016, a associação norte-americana distribuiu cerca de dois milhões de dólares (o equivalente a 1,7 milhões de euros) por 30 estados do país; no estado da Florida, 18 escolas receberam este financiamento, que viria a ser aplicado em bolsas, em formações sobre segurança e em material para os grupos de tiro escolares.

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