Um em cada dez deputados foi financiado por empresas acusadas de escravatura

Os dados são citados no relatório de uma organização não-governamental brasileira, com base nos dados recolhidos da campanha eleitoral do Brasil.

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Comissão eleitoral de Temer também está envolvida Reuters/DIEGO VARA

Pelo menos um em cada dez deputados federais brasileiros financiou a sua campanha com dinheiro de empresas com ligações à exploração de mão-de-obra sujeita a “escravatura moderna”. A denúncia resulta de uma investigação publicada nas últimas semanas e conduzida pela organização não-governamental Repórter Brasil, uma premiada organização fundada em 2001 e constituída por jornalistas, cientistas sociais e professores.

De acordo com os números da organização, em 2014, 51 dos 513 deputados receberam 3,5 milhões de reais (aproximadamente 870 mil euros) de empresas que foram ou são acusadas de exploração laboral. Entre eles estão líderes partidários, secretários de Estado e pelo menos cinco ministros da ex-Presidente Dilma Rousseff, como Maria do Rosário, tutelar da pasta dos Direitos Humanos entre 2011 e 2014.

Mas não só. Também a equipa eleitoral do actual Presidente brasileiro, Michel Temer — então candidato a vice-presidente —, é acusada de ter recebido 700 mil reais (cerca de 173 mil euros) da construtora OAS, uma empresa acusada de ter mantido 111 trabalhadores em condições de escravatura durante as obras de expansão ao aeroporto de São Paulo, em 2013.

O Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) reúne a maioria dos deputados financiados com estes fundos. No total, 13 membros deste partido receberam financiamento de empresas acusadas de explorar os seus funcionários, o que representa 20% da bancada do PMDB. Segue-se o Partido dos Trabalhadores (PT), com 11 deputados, o equivalente a 16% da bancada do partido.

Aponta a organização não-governamental que receber donativos de empresas acusadas de exploração laboral ou infracção ambiental “não configura crime, nem é proibido pela lei eleitoral”, mas ressalva que esta “é uma informação relevante, que pode sinalizar alguns dos interesses dos financiadores ao investir na campanha de deputados”.

O deputado da actual legislatura que mais dinheiro recebeu destas empresas foi Samuel Moreira, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) de São Paulo. Recebeu 500 mil reais (cerca de 123 mil euros) da Tratenge Engenharia, uma empresa acusada de trabalho escravo durante a construção do Hospital Universitário da Federal de Juiz de Fora, em Março de 2013, um ano antes das eleições.

Nem Marco Montes escapa da lista. O deputado de Minas Gerais já votou repetidamente a favor dos direitos dos trabalhadores e contra os casos de escravatura no Brasil. No entanto, recebeu donativos de duas entidades acusadas, entre as quais está o empresário agrícola Marco Barbosa, que em 2007 foi acusado de manter oito funcionários sujeitos a condições extremas de escravatura.

Deputados negam 

O gabinete de Temer já respondeu às revelações, afirmando que a equipa não tinha conhecimento do caso de exploração laboral e sublinha que os donativos eleitorais não tiveram qualquer influência nas suas decisões políticas. Diz ainda a assessoria da Presidência da República que o “dinheiro era repassado para os candidatos citados”.

Não responderam aos pedidos de comentário as empresas CCM Construtora, OAS, Tratenge e Tiisa. 

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