Beija-Flor ganha o Carnaval do Rio com enredo altamente politizado num ano cheio de monstros

Desfile de 2018 foi marcado por duras críticas à situação que o Brasil atravessa, com as denúncias de corrupção à cabeça. Um dos carros alegóricos transformou o Presidente Michel Temer num vampiro.

Os chapéus em forma de barris de petróleo da Beija-Flor, numa crítica pouco subtil à corrupção na Petrobras
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Os chapéus em forma de barris de petróleo da Beija-Flor, numa crítica pouco subtil à corrupção na Petrobras Reuters/PILAR OLIVARES
Um dos carros da Beija-Flor, denunciando as várias formas de violência contra as crianças
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Um dos carros da Beija-Flor, denunciando as várias formas de violência contra as crianças LUSA/Marcelo Sayao
A rainha da bateria da escola campeã, Raissa de Oliveira, durante o desfile
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A rainha da bateria da escola campeã, Raissa de Oliveira, durante o desfile Reuters/PILAR OLIVARES
Raissa de Oliveira no meio da bateria
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Raissa de Oliveira no meio da bateria Reuters/PILAR OLIVARES
A Paraíso da Tuiuti durante o desfile
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A Paraíso da Tuiuti durante o desfile Reuters/PILAR OLIVARES
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Paraíso da Tuiuti LUSA/ANTONIO LACERDA
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Paraíso da Tuiuti Reuters/PILAR OLIVARES
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Paraíso da Tuiuti Reuters/RICARDO MORAES
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Salgueiro
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Salgueiro LUSA/MARCELO SAYAO
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Salgueiro Reuters/SERGIO MORAES
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Salgueiro LUSA/MARCELO SAYAO

A escola vencedora resolveu ir buscar o romance Frankenstein para falar das condições em que hoje vive a esmagadora maioria da população e levou para a Avenida aquilo a que chamou “Brasil monstruoso”, transformando os políticos em protagonistas ao fazer desfilar “os roedores dos cofres públicos” e os tradicionais “lobos em pele de cordeiro”.

Os resultados divulgados na noite de quarta-feira deram à Beija-Flor da Nilópolis o seu 14.º título no maior carnaval do mundo, o que a deixa atrás apenas da Portela e da Mangueira no total de vitórias no Grupo Especial (formado pelas escolas mais importantes).

E para os que ainda tivessem dúvidas do propósito denunciador do samba-enredo Monstro é aquele que não sabe amar (Os filhos abandonados da pátria que os pariu), um olhar mais atento aos carros alegóricos e às fantasias dos entusiastas que dançaram no Sambódromo da Marquês de Sapucaí com as cores da Beija-Flor dissipá-las-iam. O escândalo de corrupção na grande petrolífera brasileira – a Petrobras – foi evocado num carro em que o edifício da empresa era representado atrás de um rato, acompanhado por foliões que sambavam com chapéus a lembrar barris de petróleo; a luta contra a intolerância racial e o preconceito de género marcou outro dos carros em que as estrelas eram a cantora Jojo Todynho e o compositor e drag queen Pabllo Vittar. Mas no “terror” desta evocação brasileira da obra maior de Mary Shelley, sempre enquadrada pela voz de Neguinho da Beija-Flor, couberam ainda críticas à violência, à desigualdade social, ao sistema de saúde, à carga fiscal excessiva, à poluição e à forma como são abandonados muitas das crianças brasileiras.

A Beija-Flor regressou, assim, a um samba denunciador à semelhança do que fizera já em 1989 com um enredo sobre o lixo de que fazia parte um carro alegórico que mostrava Cristo numa favela e que acabou censurado por uma decisão judicial, desfilando envolto num saco plástico e com uma faixa em que podia ler-se “Mesmo proibido, olhai por nós”.

Em 2003, a escola também politizou o seu desfile, mas fê-lo de forma positiva homenageando o Presidente Lula da Silva, que acabara de chegar ao Palácio do Planalto.

Lembra o jornal Folha de S. Paulo que a Beija-Flor arriscou muito no enredo deste ano, já que tem telhados de vidro quando se trata de denunciar a criminalidade – o bicheiro Aniz Abraão David, hoje com 80 anos, patrono e presidente honorário da escola, já esteve preso sob acusação de chefiar a máfia que controla o jogo do bicho no Rio e está envolvido em vários processos judiciais, que não excluem suspeitas de corrupção de políticos.

As críticas não foram, no entanto, um exclusivo da campeã no carnaval de 2018. A segunda classificada, a Paraíso de Tuiuti e a Mangueira também não quiseram ficar caladas. A Paraíso, cujo principal carro mostrava um enorme vampiro com a faixa presidencial (Michel Temer, é claro), optou por contar a história da escravatura no Brasil para condenar a reforma trabalhista aprovada recentemente. A Mangueira manteve as denúncias mais perto de casa e arremessou contra a Prefeitura do Rio e os cortes nos apoios às escolas de samba.

A questão da escravatura numa escola cujo nome evoca o genocídio da população do Paraguai às mãos de uma aliança de que o Brasil fazia parte, financiada pelos britânicos, não passou despercebida a muitos dos que comentaram os resultados nas redes sociais. Para esses, o carnaval também serve para “deixar a nu a farsa da história oficial, denunciando os crimes que há séculos vêm sendo cometidos contra todas as pessoas esmagadas pelos interesses de meia dúzia de donos do poder, fantoches de poderes ainda maiores e mais sanguinários” (Marcos Bagno, Facebook).

Este sábado o sambódromo do Rio de Janeiro volta a encher-se de cor para receber o desfile das escolas campeãs, com a Beija-Flor à cabeça de um grupo que inclui a Paraíso de Tuiuti, a Salgueiro, a Portela, a Mangueira e a Mocidade Independente de Padre Miguel.

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Drum queen Viviane Araujo from Salgueiro performs during the second night of the Carnival parade at the Sambadrome in Rio de Janeiro, Brazil February 13, 2018. REUTERS/Ricardo Moraes Reuters/RICARDO MORAES
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Drum queen Sabrina Sato from Vila Isabel Samba school performs during the first night of the Carnival parade at the Sambadrome in Rio de Janeiro, Brazil February 11, 2018. REUTERS/Ricardo Moraes Reuters/RICARDO MORAES
Revellers from Vila Isabel Samba school perform during the first night of the Carnival parade at the Sambadrome in Rio de Janeiro, Brazil February 12, 2018. REUTERS/Pilar Olivares Reuters/PILAR OLIVARES
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