O que preocupa Marcelo

Se hoje, tudo são incógnitas, na segunda-feira, já depois do congresso e quando receber Rui Rio em Belém, Marcelo já terá mais dados para medir o pulso ao que se segue. Depois do intervalo, virá o quê?

O Presidente da República recebe a partir de hoje os partidos, medindo o pulso à segunda fase da legislatura.

O que estamos a viver há um mês é um tempo de intervalo. A saída de Passos Coelho deixou o país político suspenso, fazendo adivinhar um renovado diálogo ao centro.

Essa será a primeira preocupação do Presidente: desbloquear o país político. Há pelo menos dois dossiês que aguardam as primeiras palavras do líder eleito do PSD: o novo passo na descentralização (que se arrasta há mais de um ano); e o novo ciclo de fundos europeus (que precisa de decisões ainda este semestre). São dois temas habitualmente geridos ao centro, porque PS e PSD têm a esmagadora maioria dos autarcas eleitos do país; e porque são eles que, à vez, vão liderando os sucessivos governos. E se, com Passos Coelho, o diálogo era difícil, é ainda uma incógnita saber se Rui Rio está disposto a negociar, influenciando um Governo liderado pelo partido que teve menos votos que o seu PSD, mas que conseguiu uma maioria para governar.

Mas uma solução pode trazer um novo problema: o início de um diálogo entre os dois maiores partidos irá desequilibrar a maioria de esquerda que apoia o Governo? Os sinais deste mês de intervalo mostram que esse risco existe: PCP e Bloco têm carregado nas críticas, deixando sucessivos avisos a Costa de que não pode “estar de bem com Deus e com o diabo”, nas palavras escolhidas por Jerónimo de Sousa. Não é, por isso, por acaso que o Presidente escolhe o momento em que Rio toma posse para ouvir a esquerda sobre “o próximo Orçamento do Estado e o período que vai até às eleições e até ao termo da legislatura” - Marcelo dixit. Voltará o risco de uma ruptura na maioria, como antecipava Santana Lopes este sábado, numa entrevista ao Expresso?

A dúvida pode parecer rocambolesca, tendo em conta a estabilidade que a “geringonça” ganhou, mas é legítima: para BE e PCP, que sentido faz manter o apoio a um Governo que prefere negociar com o PSD dossiês centrais para a legislatura seguinte?

Mas antes deste novo jogo de equilíbrios começar, o que mais preocupará o Presidente é saber como arranca este novo PSD. Até ao congresso, Rui Rio tem uma equipa por formar: escolher uma direcção, decidir sobre a liderança parlamentar. Os nomes que apresentar serão lidos em Belém - e ditarão o tom com que se apresenta ao país. Porque Rui Rio ganhou as directas, mas só agora começa o seu maior desafio. 

Se hoje, tudo são incógnitas, na segunda-feira, já depois do congresso e quando receber Rui Rio em Belém, Marcelo já terá mais dados para medir o pulso ao que se segue. Depois do intervalo, virá o quê?

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