Produção de cinema europeu com crescimento “estrondoso” nos últimos dez anos

A força dos documentários e das co-produções está em destaque no relatório do Observatório Europeu do Cinema, que mostra que produção aumentou 49% entre 2007 e 2016.

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Rodagem do documentario Vozes do Silêncio de Cristophe Bisson, em Portugal em 2014 Nelson Garrido

Nos últimos dez anos, a produção de cinema na Europa cresceu 49%, um aumento que o Observatório Europeu do Cinema classifica como “estrondoso”, com mais de 18 mil filmes produzidos entre 2007 e 2016. Uma das áreas em que o crescimento foi mais evidente foi a do documentário, quase duplicou no mesmo período. A força das co-produções, bem como a dos principais países produtores, é analisada num novo estudo do organismo.

Film production in Europe — Production volume, co-production and worldwide circulation é o documento que o Observatório divulgou na terça-feira e que indica que, se em 2007 foram produzidos 1422 filmes europeus, em 2016 esse número cresceu para 2123 produções. A tendência de aumento foi visível em quase todos os anos e 20,4% desses títulos foram co-produções, destacando-se então os documentários.

Em 2016 foram produzidos 698 filmes documentais, um aumento de quase 50% face a 2007. Os países onde a produção de documentário é acima da média são Espanha e a Suíça, e Portugal ergue-se acima dos valores que o resto do estudo lhe atribui no que toca à produção quando falamos de cinema documental – está na 18.ª posição entre os 36 países cujos dados são coligidos no relatório, e é mesmo o 5.º país com maior percentagem de documentários que são fruto de co-produção.

Quanto à ficção, o aumento nesta década foi de 33% em toda a Europa. É um número significativo sobretudo porque há anos que a produção de ficção está nos mesmos valores e porque desde 2010, e com o contributo de países europeus que não pertencem à União Europeia, como a Rússia, a Turquia ou a Suíça, ela voltou a crescer.

Os principais países produtores de cinema europeu não são surpresa: Reino Unido, França e Alemanha, seguidos por Espanha e Itália. Países com economias e públicos a condizer com a sua tradição cinematográfica e que juntos representam 53,6% da produção nos 36 países europeus. Todos fizeram mais de 1500 filmes no período em análise, e Portugal encontra-se no grupo de 18 países que durante esta última década produziram menos do que 25 filmes anuais. Na metade inferior da tabela (na 22.ª posição entre 36 países), Portugal tem quase a mesma proporção de filmes exclusivamente nacionais e de co-produções neste período.

Portugal está na categoria de “países produtores de tamanho médio que tentam maximizar o seu potencial de produção procurando co-produções com parceiros estrangeiros”. É, por exemplo, o sétimo país que mais co-produções tem no total de filmes produzidos na última década. E é o quarto país que mais teve parceiros fora da Europa.

O crescimento não foi homogéneo, com o Reino Unido, por exemplo, a registar uma quebra na produção entre 2007 e 2008 e 2015 e 2016, acompanhado por Bélgica, Estónia e Hungria. O maior crescimento nacional veio dos países do Leste da Europa, assinala o estudo, focado no poder das co-produções como ferramenta de vitalidade e afirmação do cinema europeu. Nesse âmbito, aumentou o número de países envolvidos nas co-produções, com a média a crescer de 1,48 em 2010 para 1,65 em 2015, espelhando a ligeira fragmentação do financiamento.

Quanto à circulação e comercialização dos filmes europeus, o Observatório do Cinema indica ainda que 39,5% dos filmes produzidos na Europa entre 2010 e 2015 estrearam em mais do que um país – ou seja, além do país onde foram produzidos, e não só países europeus – e esse número escala para os 62,9% quando se fala de co-produções. “Em média, a circulação das co-produções europeias aumenta para quase mais do dobro do que as produções exclusivamente nacionais (32,1%).”

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