Dezenas de queixas de doentes por atrasos nas consultas e tratamentos em oncologia

Problemas são comuns aos três institutos de oncologia, mas é o de Lisboa que soma a maior parte das reclamações. Entidade Reguladora da Saúde recomenda procedimentos mais céleres.

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rui Gaudencio

Atrasos nas consultas, na realização de exames e no acesso a tratamentos. São estas as principais situações identificadas pela Entidade Reguladora da Saúde (ERS) que analisou dezenas de queixas apresentadas, em 2016 e 2017, por doentes com cancro relativamente aos três institutos de oncologia do país. Embora tenha sido o IPO de Lisboa a somar o maior número de reclamações, foi ao do Porto que o regulador da saúde emitiu maior número de recomendações.

No caso do IPO de Lisboa, a análise da Entidade Reguladora da Saúde (ERS) teve por base sete reclamações de utentes, tendo esta percebido durante a sua análise que em 2016 e 2017 mais 41 queixas tinha sido apresentadas tendo por base o mesmo teor: demora no acesso aos processos clínicos, problemas nos transportes, dificuldades no acesso a tratamentos por problemas nos serviços de farmácia, demora no acesso ao serviço de urgência/atendimento não programado e falhas na marcação de consultas e de exames por avarias no sistema informático.

Queixas em quase tudo comuns às reclamações que a ERS analisou em relação aos IPOs de Coimbra (16) e do Porto (19). Também aqui os doentes se queixaram de problemas nos transportes, dificuldades e atrasos nos serviços de farmácia, marcações de consultas, exames e tratamentos em bloco na recepção de resultados de exames ou relatórios clínicos. Os processos de avaliações da ERS aconteceram no ano passado, mas as conclusões foram publicadas nesta segunda-feira no site da ERS.

Alterações suficientes

Questionado pela ERS sobre a indisponibilidade dos processos clínicos e problemas informáticos, o IPO de Lisboa explicou que em Dezembro de 2016 procedeu à alteração do sistema informático e que estava também a implementar quiosques electrónicos para os doentes possam ter acesso a algumas “funcionalidades administrativas”. Medidas que poderão mitigar “de forma gradual” as dificuldades sentidas no acesso à prestação de cuidados “por indisponibilidade dos processos clínicos”.

O IPO Lisboa adiantou que criou uma central de transportes, a funcionar desde 1 de Junho, e que a generalização da receita electrónica agilizará o processo de acesso aos medicamentos. Sobre o atendimento não programado, o IPO esclareceu que não havendo o serviço de urgência, não existe uma equipa fixa em permanência. “O que gera tempos de espera e insatisfação”, reconheceu o hospital, que já emitiu orientações para melhorar este funcionamento.

O IPO de Coimbra, por seu turno, disse que implementou um mecanismo que permite ao médico agendar um exame logo no momento da consulta com o doente, procurando assim resolver os atrasos na realização de meios complementares de diagnóstico. Já sobre os atrasos no transporte de doentes, a administração referiu que deixou de atribuir serviços a uma empresa de transportes, cuja “deficiente prestação […] já era recorrente”. Quanto ao atraso na preparação de medicamentos, explicou que procedeu à remodelação do edifício de oncologia médica que contemplou o hospital de dia, reforçando a capacidade de tratamento.

Perante as explicações, a ERS concluiu que as medidas tomadas pelos dois institutos de oncologia serão suficientes para resolver os problemas denunciados pelos doentes. Ainda assim, recomendou que façam tudo para adequar os seus procedimentos às características dos pacientes e de forma a que aumentem a qualidade, celeridade, prontidão e humanização da resposta.

Exames têm de ser mais rápidos

No caso do IPO Porto, foi o atraso na entregue dos resultados dos exames que leva a ERS a emitir uma recomendação directa a esta unidade. Tempo de espera que a administração do hospital justificou com o facto de ter recursos humanos limitados na área da radiologia, que a obrigam a recorrer a prestadores de serviço. Os quais também reconheceram a falta de profissionais nesta área, fazendo com que o envio dos relatórios possa levar mais tempo. “Este facto pode criar prejuízo para alguns doentes, mas não foi ainda possível encontrar melhor solução”, disse o IPO na resposta à ERS.

A ERS considerou que as medidas que o IPO do Porto diz ter tomado para acelerar a realização dos relatórios clínicos não são suficientes para resolver os constrangimentos. Por isso, instruiu-o a adoptar procedimentos internos que garantam que os doentes e médicos recebam “da forma mais expedita possível” os resultados. O regulador deu 30 dias ao IPO para cumprir a instrução.

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