Emanuel Câmara: quem é o homem que ganhou o PS-Madeira?

Foi durante duas décadas o crónico candidato a uma autarquia no Norte da Madeira. Perdeu sempre, até 2013. Agora, depois de nova vitória em Outubro, Emanuel Câmara ganhou o PS-Madeira para entregar o governo regional a Paulo Cafôfo.

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Emanuel Câmara no encerramento do congresso de 3 e 4 de Fevereiro, entre a secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, e o presidente da Câmara do Funchal, Paulo Cafôfo Homem de Gouveia/Lusa

Cinco derrotas. Cinco vezes concorreu para a Câmara Municipal do Porto Moniz, uma pequena vila no Norte da ilha da Madeira, cinco vezes perdeu. 1993, 1997, 2001, 2005, 2009... Emanuel Câmara, o novo presidente do PS-Madeira, ostenta os desaires autárquicos passados como medalhas reluzentes ao peito.

“Fui candidato cinco vezes, e perdi cinco vezes. É preciso não desistir das nossas convicções”, diz ao PÚBLICO, acrescentando que sempre acreditou que, um dia, o “trabalho e a dedicação” iam ser reconhecido pelas pessoas do Porto Moniz. Esse dia chegou a 29 de Setembro de 2013 quando, duas décadas depois da primeira candidatura, conseguiu convencer os eleitores e, por meia centena de votos de diferença, venceu as eleições.

Mesmo os adversários, os internos - porque a luta pelo poder no PS-Madeira foi dura e deixou marcas - e os externos, reconhecem-lhe a perseverança e a dedicação à política. “O que eu consegui no Porto Moniz derramou-se pelo Norte e eu quero agora que se espalhe por toda a Madeira”, diz o autarca que, nas autárquicas de Outubro passado repetiu a vitória, agora com uma maioria folgada (65,36%), elegendo quatro vereadores.

Aos 57 anos, o homem que é "ex" muita coisa – ex-jogador de futebol, ex-árbitro da I Divisão, ex-funcionário hoteleiro, ex-professor de Introdução à Economia e de Geografia, ex-deputado no parlamento regional –  quer mais, mas, apontam-lhe os críticos, não muito mais. Quer conquistar a Madeira para o "seu" PS, mas não quer o lugar na Quinta Vigia, sede da presidência do governo madeirense. Esse quer dá-lo a Paulo Cafôfo, o independente apoiado por uma coliugação que inclui PS e Bloco que conquistou a Câmara do Funchal em 2013, repetindo a vitória em 2017, já com maioria absoluta.

“O Paulo Cafôfo entrou neste projecto no momento em que eu anunciei a minha candidatura. Sou presidente do PS, mas o meu candidato a presidente do governo regional é Paulo Cafôfo. Foi esta ideia que eu apresentei aos militantes socialistas, e foi esta opção que eles votaram”, diz o líder socialista que tomou posse no congresso de 3 e 4 de Fevereiro. É uma estratégia que, não sendo inédita no PS-Madeira – em 2011, o então líder Jacinto Serrão escolheu Maximiano Martins para cabeça de lista às regionais –, não reuniu consensos dentro do partido.

Câmara derrotou Carlos Pereira, o então líder dos socialistas madeirenses por uma margem curta (57%), face ao que se perspectivava. Durante a campanha interna, colaram-se-lhe epítetos como “lebre do norte” ou “barriga de aluguer”. Em causa estava (está) o peso considerável do PS-Funchal, povoado por figuras próximas de Cafôfo, no projecto de Emanuel Câmara. Tal como antes, também agora o líder dos socialistas madeirenses finta as críticas, como fazia nos tempos de extremo-direito nos juvenis do Marítimo.

“A campanha acabou. Está a falar com um homem que já fez muitas campanhas. Que perdeu cinco eleições consecutivas para uma câmara. Temos que aceitar os resultados. Ter a dignidade para aceitar tanto as vitórias, como as derrotas”, argumenta, dizendo que o tempo é para união em torno de um projecto comum: “ganhar a Madeira em 2019”.

Como? Emanuel Câmara não aprofunda, mas deixa pistas. Primeiro, quer reavivar os estados gerais do partido, para “coligar-se com a sociedade civil” e aí encontrar contributos para o programa de governo a apresentar no próximo ano. Em paralelo, “continuar” a desmistificar a dialéctica de quatro décadas de jardinismo, que assentava na ideia de que a oposição não tinha quadros, nem competência para ser poder. “Temos que mostrar nos concelhos onde somos poder que somos tão bons, e mesmo melhores que o PSD. É com esta sustentação no poder autárquico, câmaras e juntas de freguesia, que vamos convencer os eleitores”, adianta o líder socialista, que tem sido acusado de dar pouca profundidade ao discurso político.

Durante a campanha interna, recusou sempre o debate com o adversário e mesmo no congresso falou pouco de ideias concretas. “A seu tempo”, responde ao PÚBLICO, este técnico de administração tributária, “divorciado e bom rapaz”, pai de três filhos, dois deles na política. Olavo, o mais velho, é presidente da JS-Madeira e tem passado pelo parlamento regional em substituição. Nicodemo, o do meio, lidera a JS-Funchal, e o mais novo estuda Direito em Lisboa.

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