A rainha da velocidade começou a reinar há mais de uma década

Ireen Wust tornou-se na holandesa mais medalhada de sempre com o ouro conquistado em Pyeongchang, na patinagem de velocidade. Mas ainda ainda pode ganhar mais.

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LUSA/KIMIMASA MAYAMA

Não, os holandeses não são os melhores do mundo na patinagem de velocidade porque, durante o Inverno, vão a patinar para o trabalho em canais e lagos congelados (e nem todos trabalham em moinhos). Esta era a explicação que Katie Couric, uma jornalista norte-americana, dava na transmissão da NBC da cerimónia de abertura dos Jogos de Inverno enquanto desfilava a comitiva holandesa. Couric falhou a explicação – e foi muito gozada por isso – mas acertou no facto e os Jogos de Pyeongchang estão, mais uma vez, a provar o poderio holandês na disciplina, com uma protagonista a reforçar o seu lugar na história. Com o que tem feito nestes Jogos coreanos, Ireen Wust já bateu vários recordes e, quase de certeza, não vai ficar por aqui.

Em Pyeongchang, Wust, de 31 anos, já conquistou uma medalha de prata e uma de ouro, elevando o seu número de pódios olímpicos para dez, um número que faz dela a atleta olímpica mais medalhada da história da Holanda – descolou da nadadora Inge de Bruijn e do também patinador (ainda em actividade) Sven Kramer, ambos com oito, sendo que ela é a primeira do seu país com cinco títulos. Outro recorde que Wust alcançou foi o de se ter tornado na patinadora de velocidade com mais sucesso na história dos Jogos, ultrapassando as nove medalhas da alemã Claudia Pechstein.

Wust não tinha começado os Jogos de Pyeongchang da maneira ideal. Na prova de 3000m, que tinha vencido em Sochi 2014 e Turim 2006, Wust falhou a medalha de ouro por míseros 0,08s, mas sem consequência o domínio holandês que foi total no pódio – ouro para Carljin Achtereekte, prata para Wust, bronze para Antoinette de Jong. Dois dias depois, tinha a oportunidade para se redimir e não falhou na prova mais curta (1500m), precisamente 12 anos depois do seu primeiro título em Turim.

“Havia muita pressão e muita dessa pressão fui eu que coloquei em mim própria. Depois de ficar em segundo nos 3000m, queria mesmo ganhar os 1500m”, confessou no final a patinadora, que só vai celebrar todas as conquistas após cumprir o seu caderno de encargos em Pyeongchang (1000m e a perseguição por equipas), um pouco ao estilo de Michael Phelps na natação ou de Carl Lewis no atletismo em Jogos de Verão consecutivos.

Estes vão ser os últimos Jogos Olímpicos da patinadora holandesa, depois de mais de uma década ao mais alto nível. Quando tudo começou, nos Jogos de Turim, Wust tinha apenas 19 anos e logou ali bateu o seu primeiro recorde, o de mais jovem campeã olímpica da história da Holanda – ainda conquistaria mais uma medalha de bronze em Turim. Quatro anos depois, em Vancouver, apenas ganhou uma medalha de ouro, mas Sochi 2014 seriam os “seus” Jogos, com dois títulos, mais três medalhas de prata. Ao palmarés olímpico, Wust junta um total de 18 títulos mundiais e cinco títulos europeus.

Com tudo o que tem marcado os Jogos de Pyeongchang (a diplomacia desportiva das Coreias, os atletas russos), não tem sido assunto a sexualidade de Wust, pelo menos não da forma como foi há quatro anos em Sochi. A patinadora holandesa assumiu-se como bissexual numa entrevista em 2009 e esta condição assumiu especial relevância na Rússia, um país com leis discriminatórias no que diz respeito à comunidade LGBT. Mas Wust, que tem uma relação com outra patinadora holandesa, não se vê como uma activista e não acha que a sua sexualidade seja relevante para a parte pública da sua vida.

“Não perguntam ao Sven Kramer sobre a relação dele. Por que razão é que me perguntam a mim. Se tivesse uma relação com um homem não me perguntavam nada”, contava Wust nessa entrevista em 2009. E quando se encontrou brevemente com Vladimir Putin durante os Jogos de Sochi, também não foi assunto. “Deu-me os parabéns, perguntou-me se estava tudo bem na Rússia. E até demos um abraço.”

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