DGS diz que não há condições para fazer colonoscopia a toda a população de risco

Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia propôs exame para todas as pessoas a partir dos 50 anos. Organismo público defende eficácia do teste primário com pesquisa de sangue oculto nas fezes, em linha, diz com as recomendações europeias.

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Cancro colorrectal mata todos os anos 4000 portugueses Rui Gaudêncio

A Direcção-Geral de Saúde (DGS) reconhece que “não existe disponibilidade no país” para garantir que todas as pessoas com mais de 50 anos realizem uma colonoscopia, como forma de prevenir o cancro colorrectal, que mata todos os anos 4000 portugueses.

O organismo público tutelado pelo Ministério da Saúde reconhece que este exame tem “maior capacidade de diagnóstico de lesões pré-malignas” do que o teste que está generalizado – pesquisa de sangue oculto nas fezes. No entanto o país não tem condições “para assegurar de forma integral a abordagem por endoscopia a todos os utentes abrangidos nos grupos-alvo”, a população assintomática entre os 50 e os 74 anos e sem outros factores de risco.

Além disto, as colonoscopias “estão também associados a menores taxas de adesão ao rastreio”.

Em comunicado, a DGS nota, contudo, que "no âmbito do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas, o rastreio do cancro colorrectal é reconhecidamente uma necessidade, pela morbilidade e mortalidade associada a estas neoplasias, sabendo-se que os programas de rastreio podem ter um impacto significativo na redução de incidência e de mortalidade. Esta necessidade foi assumida a nível europeu, tendo sido preconizada a realização com teste primário com pesquisa de sangue oculto nas fezes" sendo que "aos doentes com pesquisa de sangue oculto positivo" é proposta a realização de colonoscopia. Este programa, diz, diminui a mortalidade por cancro colorrectal em aproximadamente 16%.

A DGS sublinha ainda que "as recomendações europeias continuam a ser a realização de pesquisa de sangue oculto como teste primário" e que esta é a prática "na maioria dos países" como Austrália, Holanda, Reino Unido, Itália, Irlanda, Croácia, França, Eslovénia, Japão e Coreia do Sul.

Este comunicado da DGS foi emitido depois de o presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG), Luís Tomé, ter defendido que todas as pessoas a partir dos 50 anos deviam realizar uma colonoscopia.

"As pessoas não se apercebem da dimensão da questão, mas é uma coisa verdadeiramente brutal. Estamos perante um problema em que há uma mortalidade oito vezes superior àquela que acontece como consequência dos acidentes de viação", disse o especialista à agência Lusa, na quinta-feira à margem da Reunião Monotemática da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, que se prolongou até este sábado, na Figueira da Foz.

De acordo com o especialista, a mortalidade associada ao cancro colorrectal não tem parado de aumentar em Portugal, enquanto outros países já conseguiram inverter essa tendência. De 2008 para 2014 houve mais 500 casos mortais em Portugal. Actualmente, este cancro mata cerca de 4000 pessoas por ano.

Os cancros do intestino grosso são possíveis de prevenir "porque os tumores desenvolvem-se quase sempre em cima de pólipos, que quando crescem de uma certa maneira transformam-se em estruturas malignas", afirmou Tomé. "Quando encontrarmos os pólipos [através da colonoscopia] e os removermos, evitamos que se desenvolvam tumores nos intestinos."

Tomé considera ainda que a alternativa apresentada pela DGS – pesquisa de sangue oculto nas fezes – “é pouco sensível para detectar os pólipos, sendo mais sensível para detectar os tumores". O método, acrescenta, "não é propriamente rigoroso".

Nos Estados Unidos da América, por exemplo, a prevenção assenta exclusivamente em colonoscopias, que permitam a remoção dos pólipos durante o exame. Enquanto uma colonoscopia deve ser realizada de 10 em 10 anos, os testes de sangue oculto nas fezes tem de ser realizado todos os anos e a "experiência mostra-nos que as pessoas perdem a paciência e deixam de o fazer".

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