Todos de acordo com reabertura da linha de Leixões ao tráfego de passageiros

A linha já existe e basta um investimento não muito elevado na adaptação e construção de estações para que esta possa ser aproveitada para corredor ferroviário suburbano.

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Em 2009 houve uma reabertura mal planeada do troço da linha de Leixões que não deu resultado NELSON GARRIDO

“Estude-se primeiro” ou “reabra-se já”. É isto que separa o PS do PCP nas propostas que fizeram na Assembleia da República para que a linha de Leixões venha a ser utilizada para o serviço de passageiros. O primeiro viu o seu projecto de resolução aprovado por unanimidade, o segundo contou com a abstenção do PS e do PSD, mas ambas vão no sentido de colocar ao serviço da população do Grande Porto uma infraestrutura que já existe desde 1938 e que desde 1966 está afecta apenas aos comboios de mercadorias.

As duas propostas vão no sentido de reabrir a linha entre Contumil e Leixões, permitindo assim que se criasse um serviço suburbano desde de S. Bento, Campanhã, ou até Gaia, para uma futura estação intermodal de Leixões, constituindo-se assim uma verdade via ferroviária da cintura interna do Porto.

Esta linha aproveitaria as estações de S. Gemil, S. Mamede de Infesta e Leça do Balio, mas teriam de ser construídas novas paragens para adequar o serviço às nova realidade urbanística da região. Onde? No Hospital de S. João (Arroteia) e junto ao porto de Leixões, que teria aí uma estação intermodal.

As propostas dos dois partidos sublinham que esta linha passa por importantes núcleos habitacionais da Maia e de Matosinhos, bem como o Hospital de S. João, o pólo universitário da Asprela e zonas industriais onde laboram empresas como a Efacec e a Unicer. Um factor decisivo é que cruza várias linhas dos STCP, bem como o Metro do Porto em três pontos: no Hospital de S. João, em Guifões e em Leixões.

O investimento não é muito elevado porque a linha está operacional, é electrificada e possui sinalização electrónica. Apesar de não ser uma via dupla, é possível gerir à distância os cruzamentos nas estações, permitindo fluidez na circulação e a coexistência com os comboios de mercadorias.

Uma estação na Arroteia (que serviria o hospital e o pólo universitário) poderá custar entre 100 mil a 150 mil euros e a gare intermodal de Leixões deverá rondar o meio milhão de euros, incluindo uma zona de estacionamento no terreno da Administração dos Portos de Douro e Leixões e o interface com o Metro.  

A presidente da Câmara de Matosinhos, Luísa Salgueiro, em declarações ao JPN, mostrou-se cautelosa. “Não basta reabri-la [a linha]. Repetir a experiência que teve em funcionamento entre 2009 e 2011 é provavelmente levar a uma situação idêntica à que conduziu ao seu encerramento”, disse, numa alusão a uma aventura liderada pela então secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, que inaugurou um curto troço daquela infra-estrutura entre Ermesinde e Leça do Balio, deixando de fora as zonas que tinham maior potencial de tráfego.

Os dois diplomas são uma espécie de ovo de Colombo para a mobilidade portuense uma vez que aproveitam a infraestrutura já existente sem necessidade de investimentos que, a ser feitos hoje, custariam muitos milhões. Daí que autarcas e especialistas da região se tenham pronunciado já que faria sentido criar linhas de suburbanos de Gaia a Leixões, descongestionando Campanhã, bem como ligações directas de Leixões para os eixos do Douro e Minho.

Uma linha esquecida que liga Campanhã à Alfândega

A linha de Leixões não é a única infra-estrutura desafectada (do serviço de passageiros) que pode voltar a ter utilização. Há no Porto quem defenda um novo uso para o ramal de Alfândega, uma antiga via férrea que liga a estação de Campanhã à Alfândega, cujo traçado é em grande parte feito em túnel.

Inaugurado em 1888 o ramal destinava-se a servir a zona portuária ribeirinha e tem uma extensão de 3,9 quilómetros que representou para a época uma complexa obra de engenharia através das escarpas do Douro. A linha tem duas pontes (uma sobre a rua do Freixo e outro sobre a Rua da China) e duas pequenas galerias que antecedem um verdadeiro túnel de 1320 metros.

A construção do porto de Leixões retirou importância a esta linha que acabou por fechar em 1989. Mas a infra-estrutura – que se fosse feita hoje custaria muitos milhões – ainda lá está e pode ser aproveitada para uma rápida ligação da Ribeira a Campanhã, a qual poderia ser através de uma linha de Metro ou da continuação da linha do eléctrico que já vem da Foz.  

 

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