Instituto Superior Técnico mostra a magia da química a alunos do básico e secundário

O Departamento de Engenharia Química do Instituto Superior Técnico abriu esta semana as portas a mais de 2000 alunos mais novos. Lá pregaram, por exemplo, pregos com um martelo de papel, para o qual já foi pedida uma patente.

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Joana Brilha é aluna do Instituto Superior Técnico e foi uma das monitoras da iniciativa Sebastião Almeida
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Sebastião Almeida
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Sebastião Almeida

Num laboratório chamado “Coisas que só acontecem com muito frio”, no Departamento de Engenharia Química do Instituto Superior Técnico (IST), em Lisboa, alunos do secundário enfrentam um desafio: conseguir pregar um prego em madeira com um martelo de papel. É Joana Brilha, aluna de Engenharia Química, quem os desafia: “Vou fazer-vos passar este martelo pelas vossas mãos. Acham que conseguem pregar um prego com ele?” Os alunos dizem em uníssono: “Sim!” E Joana Brilha mete-se com eles: “Estou a ver que temos aqui gente forte.” Uma das alunas chega-se à frente, põe uma luva numa das mãos (o martelo está muito frio) e noutra segura o prego. Chega o momento da verdade: o martelo funciona na perfeição. “Uau”, reagem os alunos.

Estamos na iniciativa Laboratórios Abertos do Departamento de Engenharia Química do IST, onde mais de 2000 alunos do ensino básico e secundário assistiram a palestras e experiências interactivas durante a última semana. Uma dessas experiências foi então com o martelo de papel, que, além de uma experiência divertida, pode ser bastante útil.

A ver as experiências estão os criadores do martelo: Fernanda Carvalho e José Silva, ambos professores do Departamento de Engenharia Química. “Antes tínhamos umas experiências com materiais comestíveis, o que nos desagrava porque estávamos a estragá-los”, conta-nos Fernanda Carvalho. Surgiu então a ideia de fazer a experiência com papel.

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Os alunos pregaram pregos na madeira com um martelo de papel (na fotografia) Sebastião Almeida

Utiliza-se papel poroso, como guardanapos ou papel de cozinha, para fazer o martelo e molha-se com água. Por fim, mergulha-se o martelo em azoto líquido, a 196 graus Celsius negativos. Podemos conservá-lo num congelador. “Também fizemos uma broca”, diz José Silva. E Fernanda Carvalho mostra-nos um vídeo no telemóvel com essa experiência.  

“Pode ser usado em zonas muito frias”, informa o professor. Além de servir para partir gelo, pode ser usado na madeira. “É um material leve, barato, reciclável e ambientalmente favorável”, acrescenta a professora. Neste momento, já pediram uma patente para este martelo no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Também foi feito um pedido de internacionalização da patente ao INPI.

Antes de os alunos abandonarem este laboratório, observam a experiência do “caldeirão mágico”. Numa panela está detergente e água quente a cerca de 80 graus Celsius. Depois, uma das alunas deita azoto líquido a 196 graus Celsius negativos e ocorre um choque térmico. Surgem bolhas de sabão e um dos alunos até diz: “Posso levar estas bolhas para casa?”

Neste caso, os alunos “só” podem levar o conhecimento que adquiriram. António Santos vai levar o que aprendeu sobre o estado dos materiais. “Serviu para aprender as temperaturas de ebulição de certos gases”, diz o aluno de 16 anos da Escola Secundária de Amora. “E gostei muito da última experiência: quando a espuma saiu, fez-me lembrar a panela de pressão. Explica bem o choque térmico!” Agora tem de correr para outro módulo com outras experiências.

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Cerca de 100 alunos do Instituto Superior Técnico foram monitores nesta iniciativa Sebastião Almeida

Ao todo, grupos de cerca de 20 alunos observam (e fazem) seis módulos com várias experiências durante 20 minutos cada. É já a 14.ª edição desta iniciativa. Aqui, alunos do básico e secundário percebem como funciona a química, a engenharia química e a engenharia de materiais. “Gostamos muito de divulgar o que é a ciência e dar a conhecer o ambiente universitário”, diz Dulce Simão, professora do Departamento de Engenharia Química e organizadora desta semana. “Assim, despertamo-los para a ciência e atraímos alunos para o Técnico.”

Pulseiras quimioluminescentes

Ao seu lado, nesta semana, estiveram cerca de dez docentes, oito funcionários e 100 alunos. “Todos os monitores são alunos. É tudo coordenado pelo núcleo de alunos de Engenharia Química. E até temos alunos de outros cursos que gostam de participar”, diz Dulce Simão satisfeita, acrescentando que hoje o IST já tem alunos que participaram nestes laboratórios no passado.

Joana Brilha é aluna do 3.º ano de Engenharia Química e este é o primeiro ano em que é monitora. “Estava um pouco receosa porque não sabia como era a comunicar com estudantes. Mas, no primeiro dia, correu logo bem”, conta a sorrir. “Alguns alunos ficam espantados como as coisas funcionam na química.” E Joana Brilha ajuda a que isso aconteça: “Temos de mostrar entusiasmo pelo que fazemos. Também fiz visitas destas no secundário e foi isso que despertou em mim o interesse pela engenharia química.” Agora só está arrependida de uma coisa: não ter participado como monitora desde o seu primeiro ano no IST.

Sempre a acompanhar as experiências, Dulce Simão garante-nos que haverá mais para o ano. Por enquanto, um livro electrónico com as palestras e experiências desta iniciativa vai ficar online na página do departamento na próxima semana.

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Os alunos levaram para casa pulseiras quimioluminescentes Sebastião Almeida

Mas passemos ainda pelo módulo “Câmara Escura”, onde um grupo de alunos abana umas pulseiras quimioluminescentes de várias cores. Estamos perante uma reacção de quimioluminescência: há uma reacção química e dá-se a emissão de luz fria. Esta luz fria dura cerca de 12 a 14 horas e pode ser usada no campismo, pelos militares, na pesca ou no pulso de alunos que visitaram esta semana o IST. Nas escadas do edifício do departamento, os alunos esperam as próximas experiências e usam as pulseiras oferecidas no final do módulo “Câmara Escura”. E é melhor aproveitarem: daqui a umas horas a magia da quimioluminescência termina. 

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