Alegre: investigação a Centeno “é totalmente inadmissível”

Antigo candidato presidencial e Prémio Camões considera necessário “combater esse populismo inorgânico das redes sociais e de alguns sectores da comunicação social e do Ministério Público”. E defende que o Presidente da República, o Parlamento e o Conselho Superior da Magistratura deviam agir.

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"Entre o TEjo e a Celtejo, tem de se escolher o Tejo", diz Manuel Alegre NFACTOS / FERNANDO VELUDO

Manuel Alegre gostaria de ver o Presidente da República, o Parlamento e o Conselho Superior da Magistratura a actuar no chamado caso Centeno, a investigação à suspeita de troca de favores entre a Autoridade Tributária e o pedido do ministro das Finanças de dois bilhetes para um jogo do Benfica. “Aquela coisa do Centeno preocupou-me muito, porque é uma provocação, um desafio, aquilo é uma coisa totalmente inadmissível”, porque “atinge um político brilhante, que está numa alto cargo na Europa, prestigiando o país”, afirmou o antigo conselheiro de Estado e candidato presidencial por duas vezes em entrevista à Antena 1.

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Manuel Alegre gostaria de ver o Presidente da República, o Parlamento e o Conselho Superior da Magistratura a actuar no chamado caso Centeno, a investigação à suspeita de troca de favores entre a Autoridade Tributária e o pedido do ministro das Finanças de dois bilhetes para um jogo do Benfica. “Aquela coisa do Centeno preocupou-me muito, porque é uma provocação, um desafio, aquilo é uma coisa totalmente inadmissível”, porque “atinge um político brilhante, que está numa alto cargo na Europa, prestigiando o país”, afirmou o antigo conselheiro de Estado e candidato presidencial por duas vezes em entrevista à Antena 1.

"Aquilo não pode ficar sem consequências, porque isso já nem tem nada a ver com a justiça nem com o Estado de Direito, é contra o Estado de Direito, contra a Democracia, contra um sentido democrático de aplicação da justiça", defendeu o último Prémio Camões, nomeado para Nobel da Literatura. “O que é que se pretende com aquilo? Quem é que controla os controladores, quem é que investiga os investigadores? Aquilo não pode ficar, não devia ficar sem consequências”, reiterou.

Questionado por Maria Flor Pedroso sobre quem deveria ter agido, Manuel Alegre dispara, "o Presidente da República, Assembleia da República, Conselho Superior de Magistratura e no Ministério Público há quem possa agir também". Mesmo sem responder sobre que tipo de consequências devia haver, o ex-deputado defendeu que “deviam passar por saber quem é que, sem a presença e o mandado de um juiz, vai ver um computador de pessoas que trabalham directamente com o ministro das Finanças”.

A escrever um novo livro, da infância até ao exílio, Manuel Alegre manifesta-se veemente contra o populismo "inorgânico" que sente estar a crescer "nas redes sociais, em sectores da comunicação social, sectores do Ministério Público e também no Parlamento", com a “cedência e complacência” dos deputados, para promover "leis absurdas, excessivas, que nunca existiram nem têm que existir" como a dos presentes até 150 euros. 

Considera o poeta e político que foi Prémio Pessoa em 1999 que os deputados estão a ser complacentes, "como se se sentissem previamente culpados", legislando “no pior sentido da anti-política portuguesa”. “Nós temos as leis suficientes para combater a corrupção, mas o "combate à corrupção não pode ser utilizado para fins políticos" porque isso “favorece o populismo”. 

“O político que é eleito não é potencialmente um criminoso, nem deve tratar-se a si mesmo como se fosse um criminoso. Não deve legislar nesse sentido de estar a defender-se. Isso é enfraquecer a política e os políticos e a democracia". Na sua opinião, a solução para os abusos deve ser a posteriori: Os corruptos “devem pagar. Alguns estão a pagar, outros ainda vão pagar. Espero que as coisas se clarifiquem”.

Manuel Alegre defende que, a contrario, os deputados têm de ter “a coragem de afirmar os valores políticos, a coragem de ser impopular, combater esse populismo inorgânico das redes sociais, sectores da comunicação social, sectores do Ministério Público ou quem quer que seja que dá certas informações e combater também a cedência que fazem os partidos políticos”.

Mas, por outro lado, o deputado constituinte retoma o discurso do Estado "capturado por interesses particulares" e dá um exemplo concreto e paradigmático: as descargas poluentes no rio Tejo. Sem hesitar, defende que "entre o Tejo e a Celtejo, tem de se escolher o Tejo, não pode haver complacência e tem havido. Se não houvesse eles não faziam aquilo que estão a fazer”.