Moody's diz que Portugal “está prestes” a sair do lixo

Analista Evan Wohlmann afirmou esta quinta-feira, em Lisboa, que a revisão da perspectiva portuguesa reflecte as “melhorias notáveis na frente orçamental e económica”

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Miguel Manso

A Moody’s deverá retirar Portugal do “lixo” em Abril, devido às “melhorias notáveis” nas contas públicas e na economia, mas alerta que a dívida elevada está a limitar a margem do país para investir e reagir a choques.

“Portugal está prestes a regressar à nota de investimento”, segundo a apresentação de Evan Wohlmann, vice-presidente responsável pela avaliação do risco soberano da Moody’s, numa conferência promovida pela agência de rating, esta quinta-feira, em Lisboa.

Em Setembro, a Moody’s melhorou a perspectiva sobre a dívida pública portuguesa de “estável” para “positiva”, mantendo, no entanto, a notação atribuída a Portugal em “Ba1”, um nível especulativo, vulgarmente chamado “lixo”. Uma perspectiva positiva indica que a notação poderá ser melhorada num horizonte de até 18 meses e a Moody’s tem agendada a próxima revisão do rating português para 20 de Abril.

Apesar de na conferência Evan Wohlmann se ter mostrado optimista, quando questionado directamente pela agência Lusa sobre se uma melhoria do rating na próxima revisão está garantida, o analista disse estar à espera de sinais positivos também para o médio prazo.

“Claro que quando há uma perspectiva positiva, ela exerce uma pressão para a revisão em alta do rating”, afirmou Evan Wohlmann em declarações à Lusa, acrescentando que “aguarda a confirmação de que estas tendências [positivas] podem ser sustentadas e de que a dívida vai começar a seguir uma tendência de queda”.

O analista da Moody’s disse que a avaliação não respeita apenas a 2017 ou 2018, mas que está relacionada também com o médio prazo: “Precisamos de estar confiantes de que o perfil de crédito de Portugal pode manter-se quando o ciclo mudar, absorver choques que possam acontecer no futuro”, disse. Ainda assim, “os desenvolvimentos até aqui têm estado em linha com as expectativas” da Moody’s, a única agência de rating que ainda mantém Portugal num nível especulativo.

Na conferência, Evan Wohlmann afirmou que a perspectiva portuguesa reflecte as “melhorias notáveis na frente orçamental e económica”, admitindo que as previsões para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para o conjunto de 2017 “ultrapassaram as expectativas”.

Recorde-se que, na quarta-feira, a Comissão Europeia reviu em alta a previsão para o crescimento do PIB português para 2,7% no conjunto do ano passado. Apenas na próxima semana é que o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulga a primeira estimativa rápida sobre esse indicador.

“A recuperação é abrangente a todas as componentes e tem uma diferença em relação a outros anos, o investimento”, disse o analista da Moody’s, destacando também o aumento das exportações. Na frente orçamental, notou a redução do défice, mas lembrou que Portugal se insere na grande maioria dos países que este ano deverá ver um agravamento do seu saldo estrutural (que não tem em consideração os impactos do ciclo económico).

Apesar das questões positivas, o analista afirmou que a crise deixou legados em Portugal que ainda continuam a pesar na economia: a elevada dívida pública, que a Moody’s espera que “finalmente comece a descer”, e os “créditos não-performativos” (NPL, na sigla em inglês). Na sua opinião, a dívida pública “reduz a margem orçamental para absorver outros choques e para investir”.

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