Mafioso italiano confessou roubo de pintura de Caravaggio

Natividade com S. Francisco e S. Lourenço furtado de uma capela de Palermo em 1969, poderá ter sido retalhado em pedaços para venda no mercado clandestino.

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Imagem da tela original DR

Não se trata ainda da revelação do que verdadeiramente aconteceu a Natividade com S. Francisco e S. Lourenço, o quadro de Michelangelo Caravaggio (1571-1610) que foi furtado no dia 17 de Outubro de 1969 de uma capela de Palermo, e que integra a lista dos mais célebres roubos da história da arte. Mas é mais uma achega para a história misteriosa deste caso, que tem vindo a apaixonar os meios artísticos internacionais: um membro da Mafia disse à Justiça italiana que a obra não foi destruída, mas dividida em seis ou oito partes, tendo eventualmente entrado depois, assim retalhada, no mercado clandestino da arte.

A notícia foi lançada esta quarta-feira pelo jornal italiano La Repubblica, que divulga parte do relatório final da investigação levada a cabo por uma comissão parlamentar anti-Mafia, presidida por Rosy Bindi. O documento regista o testemunho do um mafioso arrependido, Gaetano Grado, que fez perante a comissão uma detalhada exposição sobre o caso.

Natividade com S. Francisco e S. Lourenço foi transferido, em 1970, por Gaetano Badalamenti, um grande chefe da Mafia, para fora de Itália, “provavelmente para a Suíça, mediante o pagamento de uma avultada quantia em francos”, disse Grado à comissão.

“Badalamenti disse-me que, provavelmente, a pintura terá sido retalhada para ser vendida no mercado clandestino”, acrescentou o ex-membro da Mafia. E acrescentou que o receptador terá sido um antiquário suíço – cuja fotografia Grado reconheceu no tribunal –, que se deslocou a Palermo propositadamente para o negócio.

Acontece, no entanto, que esse intermediário já morreu há vários anos. Mas a sua identificação é um detalhe que a polícia italiana considera de grande importância para a reconstituição não apenas do roubo como do que depois aconteceu a esta obra maior do mestre barroco do chiaroscuro.

O La Repubblica refere ainda que, segundo Gaetano Grado, o quadro de Caravaggio era exposto nas reuniões da cúpula da Mafia como forma de ostentação de prestígio e afirmação do poder da organização.

Natividade com S. Francisco e S. Lourenço, um quadro com as dimensões de 2,68x1,97 metros, foi pintado em 1609, praticamente no final da vida do pintor, e retrata o nascimento de Jesus num ambiente de pobreza, com S. Francisco de Assis e S. Lourenço acompanhando a Sagrada Família.

Alguns anos após o roubo, a moldura no oratório de S. Lourenço duma capela de Palermo foi preenchida com uma cópia realizada a partir de uma fotografia da obra tirada em 1968. Mas em Dezembro de 2015 esta cópia foi substituída por uma réplica trabalhada digitalmente por uma empresa de Madrid – e a cerimónia de “inauguração” contou mesmo com a presença do Presidente italiano, Sergio Mattarella.

Apesar do “milagre” desta duplicação, nada poderá substituir o original, cujo roubo foi desde o início atribuído à Cosa Nostra. Se as indicações agora registadas pela Justiça italiana irão ou não permitir descobrir mais sobre o efectivo paradeiro da pintura de Caravaggio, inteiro ou em pedaços, é algo que só o futuro dirá.

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