Vice-presidência do BCE decidida entre um político e um técnico

Luis de Guindos é o favorito, mas a capacidade técnica e independência do candidato irlandês Philip Lane pode baralhar as contas.

Luís de Guindos, ministro espanhol das Finanças
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Luís de Guindos, ministro espanhol das Finanças Reuters/SUSANA VERA
Philip Lane, governador do banco central irlandês
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Philip Lane, governador do banco central irlandês Rui Gaudencio

Será entre a Espanha e a Irlanda que se irá decidir o próximo grande cargo na zona euro. Com a esperada candidatura de Luis de Guindos esta quarta-feira, juntando-se ao já anteriormente apresentado Philip Lane, ficou definido quem serão os protagonistas do duelo para ocupar a vice-presidência do Banco Central Europeu (BCE), que Vítor Constâncio abandonará no final do próximo mês de Maio.

O prazo para a apresentação de candidaturas termina esta quarta-feira. Há duas semanas, o governo irlandês avançou com o nome de Philip Lane, actualmente governador do banco central irlandês. Agora, no último dia disponível mas sem qualquer surpresa, foi a vez de o executivo espanhol indicar o actual ministro das Finanças como candidato. O Eurogrupo fará a sua escolha já no próximo dia 19 de Fevereiro, que depois será formalizada pelos líderes dos governos no conselho agendado para 22 de Março.

Luis de Guindos é, há já vários meses, visto como o grande favorito a ocupar o lugar. Madrid sente que chegou a altura de voltar a ter um membro no conselho executivo do BCE (algo que não acontece desde 2012), abdicou de uma candidatura à presidência do Eurogrupo para apostar tudo neste lugar e confia que a boa conta em que Luis de Guindos é tido pelos outros ministros das Finanças lhe dá uma vantagem importante.

No entanto, a candidatura apresentada pela Irlanda veio baralhar algumas das contas já feitas nestas eleições. A questão é que Philip Lane tem um perfil que torna mais claras as fragilidades da candidatura de Luis de Guindos. O governador irlandês é um dos economistas europeus mais reputados na área da política monetária, conta com uma experiência prática muito importante graças à sua presença no conselho de governadores do BCE e tem uma ligação suficientemente distante dos governos para não criar dúvidas quanto à sua independência.

Em oposição, a de Guindos não lhe são atribuídos conhecimentos e experiência na área da política monetária. O ministro espanhol é um político, em vez de um técnico, e as suas ligações aos governos, seja o espanhol, seja através do Eurogrupo, não poderiam ser mais estreitas.

É por isso que, embora Mario Draghi se mantenha em absoluto silêncio sobre esta questão, tem sido noticiado por diversos meios de comunicação social europeus que o presidente do BCE tem uma preferência por Philip Lane para ser o seu principal ajudante durante o último ano de mandato à frente da instituição.

É também por isso que, de forma aberta, vário membros do Parlamento Europeu (que pode emitir um parecer não vinculativo sobre a questão) têm manifestado a sua oposição à candidatura espanhola. “Não seria aceitável que um ministro passasse directamente do Eurogrupo para a vice-presidência do BCE”, afirmou à Bloomberg um deputado alemão pertencente ao comité dos assuntos económicos e monetários do Parlamento Europeu, Sven Giegold.

De qualquer modo, mais do que o perfil individual dos candidatos, aquilo que deverá pesar mais na escolha a ser tomada é a sua nacionalidade e forma como esta joga com a substituição de Mario Draghi na presidência, que ocorrerá em 2019.

Aqui, a Espanha tem dois trunfos e uma potencial desvantagem. Como “país grande” que é, pode ver-lhe concedido o direito a não ficar mais tempo fora do conselho executivo do BCE, onde estão neste momento a Itália, a França e a Alemanha. E, caso Berlim decida apostar num candidato alemão para substituir Mario Draghi na presidência em 2019, seria bem visto que na vice-presidência estivesse alguém proveniente de um país do Sul.

No entanto, se a Alemanha vir como difícil a escolha de um nome para a liderança do BCE e optar por deixar essa tarefa para um francês, seria difícil aceitar que a vice-presidência fosse de um país do Sul, como a Espanha. Nos últimos anos, o BCE tem tido um italiano e um português a ocupar os dois lugares, algo que entre a opinião pública alemã não é fácil de digerir.

Para já, na conferência de imprensa em que apresentou a candidatura, Luis de Guindos disse estar confiante que o Executivo espanhol já assegurou os apoios necessários. Um desses apoios é o de Portugal, já que António Costa já manifestou publicamente a intenção de votar no candidato do país vizinho.

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