Elon Musk desafia concorrência para uma “corrida no espaço”

Depois do sucesso do lançamento do Falcon Heavy, a SpaceX acompanha a viagem do carro Tesla Roadster que se terá desviado da órbita de Marte. Elon Musk prometeu novas e maiores proezas e lançou um desafio aos concorrentes no negócio aeroespacial.

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Dois dos Falcon 9 que faziam parte do foguetão regressaram à base de Cabo Canaveral, na Florida SpaceX/REUTERS

A aventura da SpaceX continua depois do lançamento de sucesso, na terça-feira à noite, do mais potente foguetão que existe actualmente. Milhares de pessoas viram a impressionante descolagem do Falcon Heavy que deixou um Tesla Roadster vermelho no espaço, com um boneco chamado Starman ao volante, que deveria dirigir-se para Marte. No entanto, ao que tudo indica, o carro não está no rumo certo e seguiu em direcção à cintura de asteróides. Longe de estar desanimado, Elon Musk festejou o sucesso da operação e aproveitou para falar do futuro da SpaceX no espaço.

O dono da empresa confessou ontem que temeu o pior. “Tinha imaginado uma explosão gigante na plataforma de lançamento, com rodas a saltar pela estrada e o logótipo a aterrar nalgum lugar com um estrondo. Mas, felizmente, não foi isso que aconteceu”, referiu, acrescentando que “há coisas doidas que se tornam realidade”. “Ainda estou a assimilar tudo o que aconteceu. Parece surreal”, acrescentou Elon Musk na conferência de imprensa, onde também falou sobre os planos da empresa para o futuro.

Este projecto abre novas possibilidades”, disse, acrescentando: “Queremos uma nova corrida no espaço. As corridas no espaço são entusiasmantes.” Na conferência de imprensa realizada algumas horas após o lançamento de sucesso do Falcon Heavy, o dono da SpaceX referia que este projecto “abre uma nova classe de transporte de carga” para longe da Terra. “Podemos levar coisas para Plutão ou mais longe ainda”, disse, reforçando que esta experiência deve servir de inspiração para outras empresas e países. O empresário adiantou ainda que já tem uma lista de “clientes” para o Falcon Heavy.

Mas o imparável Elon Musk já sonha com novos desafios. A SpaceX anunciou em Fevereiro de 2017 que o Falcon Heavy ia levar duas pessoas numa espécie de viagem turística à volta da Lua. Ontem, Elon Musk anunciou que o Falcon Heavy deverá ser usado apenas para transporte de carga e que agora está sobretudo focado no projecto de um grande foguetão Falcon (Big Falcon Rocket, BFR na sigla em inglês), anunciado em Setembro. “Fazer progressos na cápsula Dragon, para transportar pessoas, é a nossa absoluta prioridade neste momento. Esperamos conseguir colocar uma tripulação a voar no final deste ano”, adiantou.

Enquanto isso, espera também que a concorrência reaja ao sucesso do Falcon Heavy que, além de ser potente e barato (um lançamento custará à volta de 74,5 milhões de euros) é um veículo reutilizável para transporte de carga. E, depois do Saturno V que levou os astronautas à Lua em 1969, é também o veículo com maior capacidade de carga (quase 70 toneladas) para uma órbita baixa da Terra. A SpaceX tem concorrência privada e governamental. A agência espacial norte-americana NASA, por exemplo, está a construir um foguetão pesado (Space Launch System, SLS na sigla em inglês) que será mais potente do que o Falcon Heavy, mas também muito mais caro. O lançamento está planeado para o final de 2019, mas esse primeiro voo poderá ser adiado. A concorrente privada United Launch Alliance também está a desenvolver um foguetão para transporte de cargas pesadas chamado Vulcan e a Blue Origin, outra empresa no mercado espacial, aposta num foguetão orbital chamado New Glenn. A corrida está lançada com metas definidas.

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Elon Musk, proprietário da SpaceX REUTERS/Joe Skipper

Elon Musk surge nesta competição com a vantagem da vitória de terça-feira à noite. Três das quatro partes principais do gigante Heavy Rocket, formado por três foguetões Falcon 9 unidos, regressaram de forma mais ou menos feliz à Terra, pouco tempo depois do lançamento. Dois dos foguetões laterais voltaram e aterraram ao mesmo tempo, quando ainda não tinham passado oito minutos da contagem decrescente para a descolagem, na Base de Cabo Canaveral, na Florida, EUA. O terceiro foguetão, o bloco central, despedaçou-se num mergulho no Atlântico, a uma velocidade de quase 500 quilómetros por hora e a cerca de 100 metros do navio-drone (chamado Of Course I Still Love You) que o esperava.

A notícia da perda do Falcon 9 que deveria ter aterrado na plataforma do navio só surgiu após quase duas horas de silêncio sobre o desfecho desta etapa da operação que quis demonstrar que é possível usar foguetões potentes e reutilizáveis para transporte de carga para longe da Terra. Na conferência de imprensa sobre esta mediática operação de engenharia espacial, Elon Musk confirmou o fim do Falcon 9 central, mas adiantou que não estava nos planos da empresa reutilizar este foguetão em particular. Segundo acrescentou, o foguetão atingiu a água a uma velocidade que causou um impacto capaz de destruir dois motores do navio-drone e provocou uma chuva de estilhaços na plataforma flutuante.

Quanto a nariz do foguetão central que na terça-feira se encontrava na órbita da Terra com um carro vermelho descapotável e um boneco chamado Starman ao volante a exibir-se para o universo, Elon Musk fez uma actualização desta etapa no Twitter, algumas horas depois do lançamento: “Excedeu a órbita de Marte e continuou dirigindo-se para a cintura de asteróides.” A aventura vai continuar.

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