Partidos unânimes: revisão das licenças poluidoras e mais fiscalização já

Há entre todas as forças políticas um raro consenso sobre o que é necessário fazer com urgência para travar a carga poluidora no maior rio português.

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Partidos estão de acordo para atenuar a poluição no Tejo Ricardo Lopes

Os partidos com representação parlamentar convergem no que respeita às medidas urgentes para redução da carga poluidora no Tejo. Revisão das licenças ambientais das empresas que operam no rio, reduzindo o valor das autorizações das emissões de descarga, e mais fiscalização e mais eficaz são os pontos em que todos os partidos estão em sintonia.

Já depois de o primeiro-ministro ter garantido, na passada semana, no Parlamento, que a redução de emissões vai mesmo avançar, o PS, através do deputado João Torres, salienta três passos que aponta como fundamentais: “remoção da matéria orgânica acumulada no fundo das albufeiras, depositada sob a forma de sedimentos”, que garante já ter começado a ser feita; “revisão das licenças ambientais das empresas que operam no rio Tejo, seguindo os princípios ‘adaptar’ e ‘mitigar’, em face da nova realidade deste recurso hídrico”; e limitar o “volume de efluentes rejeitados pela empresa Celtejo, enquanto não estiver concluído o plano de investimentos previsto pela empresa”.

Mais meios

Entre os partidos que sustentam o Governo, o BE diz que “o problema da poluição do rio Tejo tem responsáveis identificados e uma história de propostas apresentadas num passado recente”. Porém, o deputado Pedro Soares afirma que “o Governo tomou duas decisões importantes em relação a empresas comprovadamente responsáveis pela descarga de efluentes nas águas do Tejo”, destacando o encerramento da empresa Fabrióleo e a obrigação da Celtejo diminuir a sua produção durante dez dias.

“Num caso como noutro, trata-se de propostas que o Bloco desde há muito apresenta na Assembleia da República e cuja atempada aprovação teria travado esta sucessão de incidentes”, diz Pedro Soares. As duas propostas foram chumbadas com o voto contra dos socialistas, entre os de outras forças políticas à esquerda e à direita.

Já o PCP coloca mais o foco na fiscalização. “No imediato é necessário o reforço das acções de fiscalização pelas autoridades competentes para garantir o cumprimento da legislação em vigor em matéria ambiental. É preciso fazer cumprir as normas ambientais pelos prevaricadores”, salienta a deputada Paula Santos.

Simultaneamente, acrescenta, “é necessário tomar medidas eficazes para garantir a existência de caudais mínimos que preservem o bom estado das águas do rio Tejo, assim como os ecossistemas e a biodiversidade”. Os comunistas dizem que não é possível “assegurar uma adequada fiscalização e uma pronta intervenção sem o reforço de meios humanos e técnicos das referidas autoridades competentes”.

Além da “revisão urgentíssima das licenças de descarga, designadamente das celuloses como a Celtejo, Navigator e Paper Prime”, o Partido Ecologista Os Verdes (PEV) diz ter de haver a garantia “de que todas as estações de monitorização estão a funcionar, para proceder à monitorização diária das águas do Tejo”. “Reforço e intensificação das inspecções ambientais (não anunciadas previamente) e garantia de meios humanos de fiscalização” são outras propostas feitas pela deputada Heloísa Apolónia.

Fechar empresas

Já o deputado André Silva, do PAN (Pessoas-Animais-Natureza), avança com a proposta mais radical: “Sendo que os factores de poluição são públicos e factuais, a medida mais crítica e eficaz para proteger o Tejo seria suspender, com critério de urgência, as actividades das empresas que poluem o rio internacional, nomeadamente a Navigator, a Celtejo e a Paper Prime.” O deputado acrescenta não se rever “nas operações pontuais, circunstanciais e ineficazes promovidas até então pelo Ministério do Ambiente no que concerne a poluição que grassa nos rios portugueses e mais patentemente visível na zona de Vila Velha de Rodão”.

A mesma luta à direita

Os partidos à direita do Governo convergem com a esquerda no que concerne às medidas urgentes para reduzir a carga poluidora no rio.

O social-democrata Duarte Marques diz que, no imediato, o mais importante é “garantir que as empresas cumprem as licenças de descarga que têm” e “depois ajustar e flexibilizar essas licenças às oscilações de caudais. Defende ainda a instalação de “sistemas de monitorização permanente, quer nos rios quer no interior das fábricas”, e “garantir a sua consulta independente e autónoma, sem intervenção da empresa em causa”. Pede também mais meios humanos e tecnológicos no terreno e a criação de um “tribunal especializado em ambiente e recursos naturais que tenha recursos especializados, quer no apoio, quer assessoria dos magistrados nestes assuntos”.

O CDS, por sua vez, diz que quando, “nas acções de fiscalização, ocorrem sucessivamente incumprimentos, as amostras pontuais sucessivas decorrentes dessas análises têm de ser válidas como meio de prova”. A deputada Patrícia Fonseca junta a sua voz à necessidade de reforçar a fiscalização e à “inquestionável necessidade de revisão das licenças de descarga emitidas”.

“Para além disso, tem sido também divulgado que, nos casos em que as entidades inspectivas instauram um processo de infracção e aplicam coimas, essas coimas são frequentemente substancialmente reduzidas pelos tribunais, o que denota uma falta de cultura ambiental que deve ser promovida com urgência”, acrescenta.

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