O Nobel da Paz

Esta sexta-feira, na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, as duas Coreias casam-se de mãos dadas. Seremos um só, mais uma vez e, quem sabe, para sempre

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Kim Hong-Ji/Reuters

Esta sexta-feira, na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, desfilaremos sob uma única bandeira e seremos um só, mais uma vez e, quem sabe, para sempre.

Esta sexta-feira, ao entrarmos no estádio, seremos iguais, indistintos, altivos, orgulhosos, vitoriosos cara a cara com o mundo, o mesmo mundo que nos dividiu, separou e afastou há mais de 70 anos.

E sim, as notícias não serão boas para o Ocidente, ou talvez sejam, quando, em pleno estádio, gritarmos por um ideal maior, o da união de todo um povo cansado de uma guerra sem sentido, como sem sentido são todas as guerras.

E sim, as notícias não serão boas para o armamento, derrotado pelo desporto, pelo suor, pelas lágrimas e pela glória de uma medalha e o nosso nome no Olimpo. Porque o importante é competir, sem Norte e sem Sul, sem Este nem Oeste e que se dane a rosa-dos-ventos quando falamos numa língua só.

Esta sexta-feira, enterramos o machado, sem capitalismo nem comunismo, sem russos nem americanos, sem fronteiras nem paralelos, apenas nós, as pessoas comuns, sem nome e sem história, pelo menos até sexta-feira. E o mundo será nosso a troco de nada, a troco do desporto, e a vida devia ser sempre assim, em campo, uns contra os outros, mas abraçados no fim.

Esta sexta-feira, as duas Coreias casam-se de mãos dadas, e se o Nobel da Paz nunca será seu, que o mesmo seja atribuído ao desporto e a quem o pratica todos os dias, mais rápido, mais alto, mais forte, sem espingardas nem pistolas, sem balas, apenas cravos nos canos ou, quando muito, uma bola e este golo na baliza, um pequeno passo para estes homens e mulheres, mas um imenso salto em frente para a Humanidade.

Esta sexta-feira, depomos as armas, esperemos que o resto do mundo faça o mesmo.

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