Justiça belga pede 20 anos de prisão para Salah Abdeslam

“O silêncio não faz de mim nem culpado nem criminoso”, diz o principal suspeito e único sobrevivente dos jihadistas envolvidos nos atentados de Paris em 2015.

Um retrato de Salah Abdeslam, esta segunda-feira em Bruxelas
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Um retrato de Salah Abdeslam, esta segunda-feira em Bruxelas Reuters/STRINGER
Salah Abdeslam foi o único sobrevivente do grupo de jihadistas envolvidos no ataque
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Salah Abdeslam foi o único sobrevivente do grupo de jihadistas envolvidos no ataque Reuters/STRINGER

O Ministério Público belga pediu a condenação a 20 anos de prisão, com cumprimento efectivo de dois terços da pena, para Salah Abdeslam, que começou a ser julgado nesta segunda-feira em Bruxelas por tentativa de homicídio durante um tiroteio com a polícia num bairro de Bruxelas.

A mesma pena foi pedida para Sofiane Ayari, acusado de ser cúmplice de Abdeslam nos disparos contra a polícia no bairro de Forest, em Março de 2016.

Salah Abdeslam é o principal suspeito e único sobrevivente da célula jihadista responsável pelos atentados terroristas de Paris de 13 de Novembro de 2015. Manteve-se em silêncio na primeira sessão do seu julgamento em Bruxelas, excepto para explicar que o facto de não desejar responder a qualquer pergunta não faz dele “nem culpado, nem criminoso” e para reclamar de ter sido “tratado como um cão”.

“Mandaram-me vir. Há um processo em curso, no qual eu sou o actor principal. Mas mantenho-me em silêncio. O silêncio não faz de mim nem culpado, nem criminoso. É a minha defesa”, declarou Abdeslam, que se apresentou em tribunal vestido de cinzento e preto e com uma barba comprida, e recusou levantar-se da cadeira a pedido da juíza que preside a audiência, Marie-France Keutgen.

O processo a que se referia, e que corre na justiça belga, não diz respeito à sua participação nos atentados de Paris, que fizeram 130 vítimas e dezenas de feridos,  refere-se à sua participação num tiroteio ocorrido de 15 de Março de 2016 na Rue du Dries de Forest, no bairro de Molenbeek de Bruxelas — e que pôs fim à sua fuga às autoridades.  Sofien Ayari, um cidadão tunisino de 24 anos,  foi detido três dias depois do tiroteio juntamente com o suspeito de Paris. Os dois são acusados de posse ilegal de armas e de homicídio na forma tentada, num “contexto de terrorismo”.

Ayari, que esteve na Síria até regressar à Europa, em Agosto de 2015, através da Alemanha, admitiu a sua presença no apartamento de Forest, mas não prestou mais informações nem sobre a origem e o uso das armas encontradas pela polícia no local, nem sobre o que se passou nos três dias em que esteve escondido das autoridades. A única certeza que deu foi que “só Mohamed Belkaid atirou sobre a polícia” na rusga ao apartamento — Belkaid era o terceiro suspeito e foi mortalmente atingido durante a troca de tiros.

Quanto às suas razões para se encontrar envolvido com este grupo, o tunisino nada adiantou, dizendo que já tinha dado explicações “suficientes” em anteriores audiências, e recusando prestar mais esclarecimentos sobre os seus movimentos no mesmo dia dos atentados em Paris. Ayari aceitou responder a uma pergunta sobre os atentados cometidos em território europeu em nome do Daesh, negando ter alguma vez participado em qualquer ataque e dizendo que só foi para a Síria para fugir da Tunísia, onde estava em risco de ser preso.

Depois do curto interrogatório a Sofien Ayari, a juíza deu início à inquirição de Salah Abdeslam, que fora transferido durante a noite da prisão de Fleury-Mérogis, na região de Paris, para comparecer no Palácio da Justiça de Bruxelas. O principal suspeito dos atentados de Paris usou a mesma estratégia do silêncio que tem seguido com os procuradores franceses (o seu julgamento em França não deverá começar antes de 2019): será o seu advogado Sven Mary quem falará em sua representação, anunciou. De resto, prosseguiu antes de a juíza interromper a sessão: “Podem julgar-me e fazer de mim o que quiserem; é em Alá que deposito toda a minha confiança e não tenho mais nada a dizer”.

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