Rui Rio desafiado a assumir estratégia sobre PS no congresso

Distritais do partido reuniram-se para dar um sinal de que são uma estrutura a ter em conta no novo ciclo.

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Entre os partidários de Rio há quem defenda que a moção da distrital de Lisboa devia ser excluída, por extravasar o âmbito sectorial,Entre os partidários de Rio há quem defenda que a moção da distrital de Lisboa devia ser excluída, por extravasar o âmbito sectorial ADRIANO MIRANDA,ADRIANO MIRANDA
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Oposição marca terreno no PSD Daniel Rocha

Entre as 20 moções temáticas apresentadas ao congresso do PSD há uma que está a ser vista como um condicionamento a Rui Rio. É a proposta da distrital de Lisboa, aprovada esta semana numa reunião que teve discussão acesa, e que quer ver o partido já a dizer “não ao PS, a este PS”.

Pouco depois de a moção ter sido tornada pública, os líderes das distritais do partido juntaram-se num jantar para defender que o PSD tem de construir uma alternativa ao PS. A iniciativa foi promovida por Pedro Alves, líder da distrital de Viseu e apoiante de Rui Rio, mas está a ser vista como um sinal de que as estruturas não podem ser ignoradas e que têm uma palavra a dizer no novo ciclo.

Sob o título PSD - liderando uma única alternativa, a moção da distrital de Lisboa centra-se num assunto: a estratégia nacional do partido no novo ciclo. Em causa estão as eventuais alianças com o PS e até mesmo o bloco central. Os defensores da tese da “única alternativa” querem que Rui Rio “diga ao que vem”, afirmou ao PÚBLICO um dos subscritores, lembrando que as próximas legislativas representam o fim do voto útil.

O líder do PSD-Lisboa, Pedro Pinto, figura próxima de Passos Coelho e apoiante de Santana Lopes nestas últimas directas, é mais cauteloso sobre os objectivos da moção. “É para clarificar a posição interna. Pode haver dúvidas na sociedade. Não é para condicionar o líder”, disse ao PÚBLICO quando confrontado sobre os motivos por detrás da proposta. “Não se fazem desafios ao líder, mas acho que é uma matéria que vale a pena ser desenvolvida”, acrescentou.

Do lado dos apoiantes de Rui Rio a leitura é outra e isso também terá ficado explícito na mesma reunião que serviu para aprovar a moção. Ouviram-se críticas ao teor do texto, por ser um assunto de âmbito nacional e não se enquadrar numa moção sectorial e houve até quem propusesse levar o caso ao Conselho de Jurisdição do partido. Mas a proposta acabou por ser aprovada pela maioria dos militantes. “A moção tenta condicionar Rui Rio”, diz um dos seus apoiantes que vê a distrital de Lisboa como um “projecto de poder”. 

Sem uma posição explícita na moção de estratégia global sobre as relações com o PS ou um eventual bloco central, Rui Rio admitiu, durante a campanha interna, que viabiliza um Governo PS, nas legislativas de 2019, caso o PSD não ganhe eleições. A hipótese foi polémica e muito criticada por santanistas. O ex-autarca do Porto admitiu fazer acordos com os socialistas sobre matérias estruturantes —como a descentralização de competências — mas reconheceu que esses entendimentos são difíceis até ao final da legislatura.

Sem contrariar directamente a ideia de que é possível viabilizar um Governo PS em 2019, a proposta da distrital de Lisboa recorda que a coligação PSD/CDS ganhou as eleições de 2015 e que o PS preferiu a esquerda para governar — um discurso próximo do de Santana Lopes em campanha. “O PS, este PS, criou um fosso ao centro do espectro político. Saltou para o lado esquerdo do fosso do qual não pretende regressar”, lê-se no texto que recupera as palavras recentes do primeiro-ministro António Costa sobre os seus parceiros: “Alegando razões de estabilidade política e social, na busca de suporte para combates futuros, o PS continua a contar com o apoio dos actuais companheiros de viagem”.

Assumindo que o PSD tem de dizer “‘não’ a este PS”, a moção defende que “compete ao partido demonstrar claramente a sua alternativa.” E é precisamente a construção dessa alternativa ao PS que domina o espírito do jantar promovido nesta sexta-feira, em Anadia, e do qual resultará um comunicado assinado pelos líderes ou representantes das distritais, quer os que estiveram ao lado de Rui Rio quer os que apoiaram Santana Lopes. A mensagem será a de união em torno do líder eleito, mas entre os apoiantes de Rui Rio há quem discorde desta iniciativa, sobretudo, por acontecer antes do congresso. “Isto não é normal. O que é normal é haver congresso, haver equipa e moção aprovada e depois as distritais reunirem-se com o novo líder”, lamentou uma fonte social-democrata. Outros desvalorizam as críticas e lembram que este tipo de jantares já existia no tempo da liderança de Pedro Passos Coelho. Pedro Pinto está confortável com a iniciativa: “É bom que [este tipo de jantares] aconteçam agora e mais tarde.”

A afirmação do PSD como alternativa ao PS e à maioria de esquerda foi o mote do discurso do ex-líder parlamentar Luís Montenegro na véspera das directas, enquanto apoiante de Pedro Santana Lopes. O deputado lembrou que os “21 meses que faltam para o PSD ganhar as terceiras eleições legislativas consecutivas” é o tempo “para construir uma alternativa”. O tema da estratégia em torno das relações com o PS antes e depois das legislativas pode ganhar fôlego no congresso marcado para daqui a 15 dias. Luís Montenegro escusa-se a adiantar o teor da sua intervenção e afirmou ao PÚBLICO que só nesse momento falará sobre o PSD.

Outro tema que poderá marcar o congresso é o da liderança parlamentar, caso Rui Rio não torne pública até lá qualquer decisão sobre a continuidade de Hugo Soares. Há quem veja essa situação como um risco para o líder eleito já que a bancada está dividida. Certo é que muitos vêem com bons olhos que Hugo Soares se mantenha no lugar mesmo com uma ou outra alteração nos vice-presidentes. A questão pode ser resolvida na semana anterior ao conclave ainda que eventuais eleições possam ocorrer depois da reunião magna.

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