Bragança quer captar médicos jovens e aproximar população dos serviços de saúde

Como fixar jovens profissionais no interior do país? Tema marcou a visita do secretário de Estado Adjunto e da Saúde.

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Joana Gonçalves
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O secretário de Estado Adjunto e da Saúde visitou, na manhã desta sexta-feira, o serviço de urgência e o serviço de cuidados intensivos do Hospital de Bragança e ficou “impressionado” com a “resposta de qualidade para os cidadãos de Bragança”. “Não vimos doentes à espera nos corredores. E vimos uma equipa médica bem motivada, integrada”, argumentou Fernando Araújo. Mas se a visita encontrou profissionais tranquilos, a discussão que reuniu diversos dirigentes do Ministério da Saúde e de outras instituições tocou em vários pontos sensíveis: a escassez de profissionais do sector, no interior do país, e a necessidade de serem criadas novas estratégias para fixar jovens médicos em regiões como o distrito de Bragança, que possui uma população especialmente dispersa e idosa.

Para além da falta de médicos, o aumento da idade média destes profissionais é outra das preocupações. “Num prazo de quatro a seis anos, muitos destes médicos irão para a reforma”, alertou António Araújo, presidente da secção do Norte da Ordem dos Médicos. Por isso, o conselho regional do Norte da Ordem dos Médicos pediu ao Instituto Politécnico de Bragança um estudo sobre as expectativas e incentivos que podem levar os jovens médicos a optar pelo interior. As conclusões vão ser apresentadas no final de Maio.

António Araújo reforça que a captação dos trabalhadores “não pode passar só pelo aumento salarial”: “As pessoas só escolhem o interior do país se sentirem que têm projectos de vida profissional e pessoal.” E esse é um esforço que deve vir não só da tutela, mas também das autarquias, acrescenta.

Pinto de Sousa é cirurgião e está no Hospital de Bragança há cerca de seis meses. Mudou-se para o interior depois de 26 anos ao serviço do Hospital de São João, no Porto, e outros quatro em Penafiel. Chegou com o projecto de reestruturar os serviços de cirurgia, numa instituição que tem “uma carência muito grande de recursos humanos” em quase todas as áreas, explica. Um “projecto de vida” é a única coisa que pode atrair os jovens profissionais para as zonas periféricas, diz. O que passa por um ajuste aos salários, mas não só. Condições de trabalho, de habitação, possibilidades de exercer investigação são focos de motivação numa realidade bem distinta à que se vive no litoral: “Para ir a uma consulta ao hospital, para tirar um sinal, por exemplo, é preciso fazer mais de 200 km. É essa a distância de ida e volta a partir de Miranda do Douro. E há idosos cujos filhos, noras e genros já não vivem cá, estão sós. É uma realidade muito particular. E esse também foi um dos desafios que me motivou a querer ajudar.”

Daniel Carquejo é uma das caras jovens do Centro de Saúde de Mirandela II. Natural de Vila Real, e especializado em medicina geral e familiar, está há cerca de cinco anos na instituição. O “ser transmontano” e a “proximidade” com a sua terra natal foram factores importantes para estar onde está. Para incentivar outros como ele, acredita que “o incentivo monetário não é tudo”. A estabilidade “social e familiar” são essenciais.

Projectos-piloto em Bragança

Em Mirandela, instituições como a Unidade Local de Saúde do Nordeste, a Associação Nacional de Farmácias, os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, o Infarmed e as ordens dos médicos e dos farmacêuticos juntaram-se para apresentar dois projectos destinados a “tornar a saúde mais próxima”, explicou o secretário de Estado. Um destes, o “Serviço Nacional de Assistência Farmacêutica” (SAFE), quer facilitar o acesso dos utentes aos medicamentos urgentes e escolheu Bragança como sede para o teste piloto.

Desde Dezembro de 2017 que todos os utentes que necessitem de medicação considerada urgente, após terem sido atendidos durante a noite num hospital ou centro de saúde, podem ficar a saber que farmácias têm os medicamentos prescritos. Há ainda a possibilidade de se pedir entrega ao domicílio, que chegará num prazo máximo de duas horas. Basta ligar para o 800 24 14 00, o contacto de um centro de atendimento especializado constituído por farmacêuticos. O serviço funciona entre as 21h e as 9h de segunda a sábado. Nos domingos e feriados funciona todo o dia e é uma forma do utente evitar viagens de quilómetros entre a habitação, a urgência e as farmácias.

Já o projecto “Notas Terapêuticas Simples” quer que os médicos e os farmacêuticos comuniquem entre si. A partir da prescrição, o farmacêutico pode informar o médico se os medicamentos prescritos foram dispensados pelo utente, ou não, e quais as justificações. Por sua vez, os médicos podem ainda responder esclarecendo se a informação foi ou não útil. Este serviço está a funcionar desde Julho nas unidades locais de saúde do Alto Minho e vai entrar em vigor em Bragança neste mês.

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