Vítimas dos incêndios de Outubro reclamam prejuízos de quatro mil milhões de euros

Produtores agrícolas e florestais protestaram em Lisboa por mais apoios para as vítimas. Ministro da Agricultura diz que a manifestação “tem meros intuitos políticos”.

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Fotografia da manifestação desta sexta-feira Sebastião Almeida

Trouxeram chocalhos, cartazes com pedidos de ajuda e muita revolta. Cerca de 200 produtores florestais e agrícolas da região Centro vítimas dos incêndios de 15 de Outubro do ano passado manifestaram-se nesta sexta-feira no Terreiro do Paço, em Lisboa, frente ao Ministério da Agricultura para pedirem apoios que dizem não estar a chegar.

Uma enorme faixa encabeçava o protesto e justificava-o: “Vivemos uma tragédia com os incêndios, queremos ajuda para o mundo rural”. Os manifestantes garantem que “há milhares de pessoas afectadas que ainda não receberam um tostão”, que “os que receberam alguma coisa para pouco chega”, e pedem "a reabertura das candidaturas aos apoios" na área agrícola e "preços justos para a madeira queimada" nos fogos de 2017.

Fernando Pereira, do Movimento Associativo de Apoio às Vítimas dos Incêndios de Midões (MAAVIM), freguesia do concelho da Tábua, diz que “há gente a passar fome e a viver na rua” e “animais a morrerem por falta de alimento.” “Há centenas de pessoas que não conseguiram candidatar-se aos apoios e que não têm nada. Só peço que venham para o terreno ver a desgraça que graça por toda a região Centro”, afirma.

Isménio Oliveira, da Associação Distrital dos Agricultores de Coimbra (ADACO), também promotora do protesto, afirma que, “no imediato, o mais importante é a reabertura das candidaturas para apoios. “Nos incêndios de Pedrogão as candidaturas estiveram abertas três meses, na região centro só estiveram um mês. Há portugueses de primeira e outros de segunda”, reclama.

Nas fotos dos manifestantes há imagens de casas e florestas queimadas. Sob as fotos estão os nomes das localidades afectadas. Miara, Vila Nova de Poiares, Oliveira dos Hospital, Cantanhede, Arganil e muitas outras. Cada pessoa tem um relato do terror que viveu no dia dos incêndios de 15 de Outubro e uma lista de perdas.

Fernando Cunha, 77 anos, de Arganil, perdeu árvores, animais, barracões de arrumos e 270 colmeias “cheiinhas de mel”. Candidatou-se para ter um reparo das perdas, mas assegura que ainda não recebeu nada. Maria Nogueira, 65 anos, de São Martinho da Cortiça, Concelho de Arganil, perdeu “centenas de árvores, hortas e animais”. Também ela diz não ter recebido nada embora tivesse pedido ajuda à junta de freguesia. As histórias repetem-se.

João Diniz, da Confederação nacional da Agricultura (CNA), endurece o discurso: “Só para o banco BANIF foram mil milhões, rios de dinheiro. Tem de haver dinheiro para as vítimas dos incêndios. Senhor ministro da Agricultura deixe-se de tretas. É preciso abrir os cordões à bolsa. Os prejuízos dos incêndios foram de quatro mil milhões de euros. Tem de haver dinheiro para as vítimas.”

Ministro estupefacto

Enquanto decorria a manifestação, uma assessora do ministério da Agricultura disponibilizava aos jornalistas um comunicado em que era revelado que o Governo aprovou apoios para os agricultores vítimas num valor “superior a 58 milhões de euros” e que “o restante, no valor 12,5 milhões, será pago até ao final do mês”.

Já o ministro da Agricultura, Capoulas dos Santos, de visita a Reguengos de Monsaraz (Évora) à hora em que decorria a manifestação em Lisboa, mostrou-se estupefacto com o protesto. "Vejo com muita estranheza e estupefacção porque o Ministério da Agricultura fez um esforço gigantesco para responder àquelas que eram as primeiras preocupações e as principais reivindicações dos agricultores, que era pagar rapidamente porque, quem sofreu aquela tragédia, estava numa situação em que necessitava de ajuda", afirmou à Agência Lusa.

Para o governante, a manifestação “tem meros intuitos políticos” e visa "denegrir a imagem do Governo e o enorme esforço, um esforço sem precedentes, feito para compensar prejuízos", os quais, "para quem os sofre, serão sempre insuficientes, mas que representam um esforço financeiro gigantesco”.

Os manifestantes terminaram o protesto a meio da tarde com uma garantia. “Hoje fomos 200, se dentro de um mês nada for feito, seremos milhares a reclamar o que nos devem aqui, frente ao ministério da Agricultura”, assegurou Fernando Pereira, do MAAVIM.

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