Pedida prisão preventiva de Tariq Ramadan por duas acusações de violação

Académico suíço esteve esta sexta-feira em tribunal para um primeiro interrogatório como arguido, diz o Le Monde. Uma das alegadas vítimas enfrentou o islamólogo e descreveu os actos de que o acusa.

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Tariq Ramadan Stephane Mahe/Reuters

O académico suíço Tariq Ramadan, de 55 anos, que esteve nas últimas 48 horas à disposição das autoridades para ser ouvido sobre as duas acusações de violação que sobre ele pendem, foi presente esta sexta-feira a três juizes de instrução para um primeiro interrogatório como arguido. Segundo o diário francês Le Monde, a Procuradoria de Paris pediu que seja colocado sob prisão preventiva. 

Citando fonte judiciária, o Le Monde indica que os investigadores têm estado a acompanhar o caso nos últimos três meses – quando foram feitas duas acusações distintas de violação por duas mulheres em 2009 e 2012 – e que a decisão para o chamar para interrogatório, o que sucedeu quarta-feira, foi “metodicamente” tomada.

A fonte fala de como as duas mulheres, a escritora e líder associativa Henda Ayari e outra vítima que preferiu ficar anónima, descreveram “o mesmo modus operandi” do alegado perpetrador. E se Ayari não chegou a confrontar o seu testemunho com o seu alegado atacante, a outra vítima, cujo nome não foi revelado – conhece-se apenas um pseudónimo que lhe foi atribuído pela polícia – mas contou a sua história à versão francesa da Vanity Fair, divulgada online esta sexta-feira, aceitou fazer uma acareação na presença dos advogados de ambos.

O Le Monde adianta ainda que antes dessa acareação, ocorrida quinta-feira, tal como precisa outro diário francês, o Le Parisien, foram feitas buscas às duas residências do académico e especialista em Estudos Islâmicos, em França e na fronteira franco-suíça.

Os detalhes do alegado crime, de contornos brutais e de grande violência, não só de cariz sexual – agressões e golpes por todo o corpo e repetidas violações –, foram relatados pela mulher, que agora tem 45 anos. “Falso”, disse Tariq Ramadan, sobre qualquer contacto sexual, e sobre violação e agressões, como conta o Le Monde.

O Le Parisien indica que Tariq Ramadan reconheceu ter existido, sim, uma relação de sedução, que começou com contactos online, segundo descreve a Vanity Fair. Quando a alegada vítima descreveu parte da anatomia e uma cicatriz específica do académico, este recusou-se a assinar a transcrição da acareação.

A polémica gerada pelas acusações fizeram com que Tariq Ramadan, um dos principais nomes do islão intelectual europeu,um académico e orador reputado, entrasse de licença em Novembro do cargo de professor de Estudos Islâmicos Contemporâneos na Universidade de Oxford, no Reino Unido. Na altura, a licença foi anunciada como “uma decisão por mútuo acordo”.

Alguma imprensa francesa, do Le Monde ao Le Point, passando pelo 20 Minutes, cita as mesmas fontes – o politólogo Antonio Amaniera e um académico com contactos em Doha – dizendo que Ramadan foi agora aconselhado a não visitar o Qatar, país que financia o centro de investigação em Estudos Islâmicos Contemporâneos na Universidade de Oxford em cujo quadro o intelectual muçulmano ensina.

Neto de Hassan al-Banna, fundador da Irmandade Muçulmana, Tariq Ramadan negou sempre as acusações de que é alvo e processou mesmo Henda Ayari por difamação.

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