Regime iraniano deteve 29 mulheres que retiraram o hijab

A Amnistia Internacional apelou às autoridades iranianas “que acabem com a perseguição de mulheres" que protestam contra o uso obrigatório do lenço islâmico.

Foto
Vida Movahed, 31 anos, a mulher que fez o primeiro de muitos protestos contra o uso do véu no Irão DR

A polícia iraniana anunciou que deteve 29 mulheres nos últimos dias por terem retirado o seu hijab (véu islâmico) como parte de um protesto.

A agência iraniana Tasnim, que deu a notícia, diz que as mulheres “enganadas” estavam a participar num protesto contra o uso do hijab. Activistas por trás da campanha explicam, no entanto, que esta não pretende protestar contra o uso do véu mas sim contra a sua obrigatoriedade.

O mais recente protesto começou com uma uma mulher que subiu para cima de uma caixa de electricidade e retirou o seu hijab, pendurando-o num pau que segurava. A fotografia desta acção tornou-se viral e a imagem icónica, inspirando várias mulheres a fazer o mesmo, e ainda alguns homens e também outras mulheres que, apesar de usarem o véu, imitavam a pose do protesto segurando um lenço num pau, em solidariedade pela possibilidade de escolher.

A página My Stealthy Freedom, da jornalista e activista Masih Alinejad, que leva a cabo a campanha há meses de mulheres que usam lenço branco às quartas-feiras como protesto pela obrigatoriedade do seu uso, tem recebido, e depois publicado, imagens de mulheres retirando os véus em protesto nas ruas de cidades iranianas.

“Não é por prenderem as nossas irmãs que vamos desistir”, diz a legenda de um vídeo de quatro mulheres que retiraram os seus hijabs e acenam com eles a quem passa. “É assim que se responde às prisões: levamos o nosso protesto a mais sítios e gritamos mais alto”, diz-se na legenda de uma imagem de um grupo de duas mulheres e dois homens, elas sem véu, mas todos de cara tapada.  

A agência que deu a notícia das detenções cita a polícia argumentando que as mulheres foram “enganadas” e levadas a tirar o hijab por uma campanha da responsabilidade de "iranianos a viver no estrangeiro".

Não nomeavam Masih Alinejad, mas a jornalista, a viver em Nova Iorque desde 2009, tem sofrido ameaças vindas do Irão, onde comentadores a insultaram publicamente.

A última onda de protestos, contra as más condições de muitos trabalhadores e a corrupção, foi também considerada obra dos “inimigos do Irão” no exterior pelo regime. Estes protestos acabaram com muitas detenções e pelo menos 22 mortes.

As mulheres que retirem o hijab em público podem ser sujeitas a penas de multa ou detidas. A primeira mulher a tirar o lenço em protesto e que inspirou os protestos seguintes esteve um mês presa.

A Amnistia Internacional apelou às autoridades iranianas “que acabem com a perseguição de mulheres que falem contra o véu obrigatório e que acabem com esta obrigação discriminatória e humilhante”.

A obrigatoriedade do uso do hijab no Irão data da Revolução Islâmica de 1979.  

Sugerir correcção
Ler 20 comentários