Trabalhadores da Caixa apresentam cartão vermelho a Paulo Macedo

Os sindicatos dizem que reestruturação está a ser feita “de forma cruel” para os funcionários

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PAULO PIMENTA

Este sábado, a Caixa Geral de Depósitos promove um encontro de quadros no Europarque, em Santa Maria da Feira, onde é esperada a presença de Paulo Macedo. A recebê-lo estarão trabalhadores da instituição, a manifestar o seu descontentamento pela forma como têm sido afectados pelas decisões de fecho de balcões, redução do número de efectivos, perdas salariais e ainda, dizem os sindicatos, a falta de perspectivas em relação ao futuro.

A concentração está a ser apoiada por vários sindicatos, nomeadamente a Febase – Federação do Sector Financeiro, que agrega, entre outros, o Sindicato dos Bancários do Norte (SBN), o Sindicato dos Bancários do Centro e o Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas, mas também pelo Sindicato dos Trabalhadores das Empresas do Grupo CGD.

Objectivos "quase inantingíveis"

Mário Mourão, presidente do Sindicato dos Bancários do Norte, disse ao PÚBLICO que a iniciativa pretende “denunciar a pressão que tem sido exercida sobre os trabalhadores, que os obriga a aceitar acordos de saída”. Quem não são sai também se “sente perseguido, sem perspectivas de carreira, e ameaçados por mais encerramentos de balcões. E entre as formas de pressão o líder sindical destaca “a imposição de objectivos [venda de produtos] que são quase inatingíveis”.

Desafiado a avaliar o primeiro ano de gestão de Paulo Macedo, o presidente do SBN diz que, na vertente social, dos trabalhadores, não faz “um balanço muito positivo”.

Também o presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Empresas do Grupo Caixa Geral de Depósitos, João Lopes, fala em “pessoas inquietas, encostadas à parede”.  E desabafa: “às vezes tenho dúvidas se o apoio que prestamos aos trabalhadores é o de um sindicato ou de um consultório de apoio psicológico”.

Em relação aos números fixados no âmbito do plano de reestruturação negociado com Bruxelas, de que diz nunca ter tido informação oficial, João Lopes admite que terá sido cumprido. “Não denotam preocupação, o que faz crer que está dentro do estimado ou até acima”, refere.

Do que vem sendo divulgado, o plano de redução do número de trabalhadores variaria entre 2200 e 2300 em quatro anos. Mas a estimativa para 2017 é que já tenham superado os 500 trabalhadores previstos. No encerramento de balcões, os números apontavam para 180 balcões em quatro anos, e em 2017 já deverão ter sido concretizados cerca de 70, o que faz prever que o objectivo total seja antecipado para 2019.

Para João Lopes, o plano poderia ser cumprido com mais ou menos "dor" para os trabalhadores, e o que está a acontecer é a sua concretização “com bastante dor”. E ainda sobre “a dor" desabafa : “Temos sérias dúvidas que de seja uma preocupação da gestão”.

No cenário futuro não se adivinha fácil para os trabalhadores que ficam, muitos dos quais perdem estatuto (cargos) e remuneração, na componente variável. “A perda da remuneração variável já está acontecer, mas pode assumir maiores proporções”, adianta. “E como fica um trabalhador a quem foram oferecidos incentivos suplementares, e agora, de um dia para outro, perde tudo isso?”, refere, acrescentando que independentemente das razões económicas, a sua aplicação prática é "cruel”.

Para além do sacrifício dos trabalhadores, o que está a ser imposto à Caixa é uma perda para os clientes e para o país: “Até agora, a Caixa era um banco diferente dos outros e agora estão aplicar-lhe uma matriz que é dos outros bancos, não é a nossa”. Se tivesse que apresentar um cartão à gestão, João Lopes diz que seria “amarelo, já com traços vermelhos”.

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