Anulada suspensão de 28 atletas russos, mas isso não lhes dá os Jogos

O TAD considerou insuficientes as provas de violações ao regulamento antidoping e reverteu a decisão do COI, mas este ainda não decidiu se vai deixar estes atletas competir em Pyeongchang

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As suspeitas de doping têm ensombrado a a participação da Rússia nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2019 LUSA/VASSIL DONEV

Falta uma semana para o início dos Jogos Olímpicos de Inverno, em Pyeongchang, e ainda não é certo quantos atletas russos vão estar presentes, depois do Tribunal Arbitral do Desporto (TAD) ter anulado a suspensão vitalícia de 28 dos 43 atletas russos banidos pelo Comité Olímpico Internacional (COI) por violações ao regulamento antidoping nos Jogos de Sochi, em 2014. Se esta decisão do TAD obriga a que os medalhados deste grupo recebam as medalhas de volta, já a mesma não garante que estes possam estar em Pyeongchang. Para que tal aconteça, é preciso que tenham um convite do COI e o organismo não parece disposto a fazê-lo.

A decisão do TAD acaba por ser uma derrota quase total para o COI e, tal como acontecera na véspera dos Jogos do Rio, em 2016, volta a lançar o olimpismo numa tremenda confusão.

Em Dezembro do ano passado, o COI decidiu excluir a Rússia dos Jogos de Pyeongchang, mas deixou a porta aberta aos atletas russos que provassem estar “limpos” e, nesta condição, 169 atletas receberam um convite para participar nos Jogos coreanos, enquanto 43 atletas foram banidos para toda a vida da competição olímpica. Quase todos recorreram para o TAD e a maioria ganhou o apelo, sendo que 11 viram a pena de exclusão limitada a estes Jogos — as audiências para outros três foram adiadas e apenas um decidiu não recorrer.

Depois das audiências que decorreram em Janeiro, em Lausana, e que incluíram depoimentos de todos os atletas e de Grigory Rodchenkov, o principal denunciante do sistema de doping e encobrimento em Sochi, o TAD entendeu que não havia factos suficientes para provar as violações de 28 atletas, referindo que o seu mandato era o de analisar cada caso individualmente e não de “determinar a existência de um sistema organizado para permitir a manipulação de amostras no laboratório de Sochi” em 2014.

Em comunicado, o COI reagiu com as duas faces à “desautorização” do TAD. Por um lado, o organismo presidido por Thomas Bach congratulou-se pela decisão de manter a suspensão, ainda que limitada, a 11 atletas e que serve como prova da “existência de manipulação sistemática do sistema antidoping em Sochi”. Por outro, lamenta a anulação das suspensões, entendendo que pode “ter um impacto muito sério na luta contra o doping”, garantindo que vai ponderar um recurso no tribunal federal suíço. O que não garante é que os 28 atletas liberados para competir sejam convidados para estarem presentes em Pyeongchang. “Como disse o secretário-geral do TAD, a decisão não quer dizer que estes 28 sejam inocentes”, conclui o COI no comunicado.

Também o principal denunciante do escândalo do doping russo, Grigory Rodchenkov, se declarou contra esta decisão do TAD. “A decisão apenas encoraja os batoteiros, torna mais difícil a vitória dos atletas ‘limpos’. Dá uma vitória injusta ao sistema corrupto russo como um todo e a Vladimir Putin em particular”, declarou o antigo director do laboratório antidopagem de Moscovo, actualmente a viver nos EUA, depois de ter feito as denúncias de um sistema de doping e encobrimento no desporto russo com patrocínio estatal.

Do lado russo, para além de entenderem as alegações de doping com apoio estatal como um ataque do Ocidente ao país, pede-se a reintegração imediata destes atletas na família olímpica e a sua presença na Coreia. “Esta é uma decisão que nos enche de alegria e só confirma a nossa posição de que a grande maioria dos nossos atletas estão ‘limpos’”, declarou o presidente russo Vladimir Putin. “Esperamos que o COI se decida a favor de todos os atletas ‘limpos’ que conquistaram o direito de competir nos Jogos Olímpicos”, acrescentou Pavel Kolobkov, ministro russo dos desportos, em jeito de apelo.

Sem ainda se saber se algum destes 28 atletas estará na Coreia, é certo que a Rússia terá cerca de 160 representantes com a designação “Atletas Olímpicos da Rússia” e sem direito a bandeira na cerimónia de abertura e sem bandeira e hino caso ganhem medalhas, sendo que nem todos aceitaram o convite para estarem na Coreia.

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