Os combates e as pedras no sapato de Vieira

O essencial dos desafios externos do presidente do Benfica ao longo destes 14 anos.

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Luís Filipe Vieira Ricardo Campos

Há um antes e um depois do processo Apito Dourado no longo reinado de Luís Filipe Vieira como presidente do Benfica. O “antes” configura uma atitude de contestação militante ao domínio do FC Porto, alicerçada no discurso do combate à “corrupção permanente e tráfico de influências”; o “depois” revela uma faceta mais diplomática e menos interventiva na esfera pública, que ganhou outra dimensão com a obtenção do sucesso desportivo. Desde Novembro de 2003, foram vários os sobressaltos que promoveu e que teve de enfrentar. E alguns, particularmente delicados, continuam por resolver.

Apito Dourado

Foi o cavalo de batalha de Vieira nos primeiros anos de mandato. “É gravíssimo o que se passou e continua a passar no futebol português. É claro que há corrupção, por isso, assumam isso abertamente”, enunciou em Dezembro de 2006, numa referência às escutas que envolviam dirigentes do FC Porto e numa mensagem dirigida também ao então presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Gilberto Madaíl. A troca de acusações com Pinto da Costa era frequente e o facto de o próprio líder do Benfica ter sido apanhado numa outra escuta telefónica, a negociar directamente com o então presidente da Liga, Valentim Loureiro, a escolha do árbitro para as meias-finais da Taça de Portugal de 2003-04, só contribuiu para inflamar ainda mais a discussão. Da parte dos “encarnados”, a bandeira do Apito Dourado só começou a deixar de ser exibida a meio do segundo mandato de Luís Filipe Vieira, ainda que, de quando em vez, saia de novo da gaveta.

Claques ilegais

“Não faz sentido que haja registadas no Instituto Português da Juventude (IPDJ) 23 claques oficiais dos clubes, que não conste nenhuma do Benfica e que, no entanto, a federação [Portuguesa de Futebol] as reconheça”. Esta crítica ainda fresca de Pinto da Costa, presidente do FC Porto, mantém e manterá actualidade se a direcção do Benfica não mudar de posição relativamente aos grupos organizados de adeptos, com os No Name Boys e os Diabos Vermelhos à cabeça. O tema voltou à ribalta depois da morte de um adepto italiano do Sporting, em Abril de 2017, na sequência de uma rixa entre claques, nas imediações do Estádio da Luz. Desde então, a visão de Vieira a respeito do tema tem permanecido intocável: "Claques? Não sei que palavra é essa. Sei o que são sócios organizados. Se disserem que naquele espaço [no estádio] não estão sócios do Benfica... São todos sócios do Benfica e têm os mesmos direitos do que eu”.

Vouchers

Foi um assunto que deu pano para mangas. Desencadeada por Bruno de Carvalho, presidente do Sporting, em 2015, a discussão em torno das ofertas do Benfica aos árbitros que apitam no Estádio da Luz chegou à esfera da Comissão de Instrução e Inquéritos da Liga, do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol e, finalmente, do Tribunal Arbitral do Desporto. Em causa estava a entrega, à equipa de arbitragem, de um kit que continha vouchers de refeições e uma camisola de Eusébio, numa edição comemorativa, e que foi encarada pelo líder leonino como uma possível tentativa de condicionamento. O entendimento das instâncias decisórias foi outro: “As ofertas não eram feitas de molde a colocar em causa a integridade e a credibilidade dos referidos agentes desportivos, nem tão pouco aptas a afectar a imparcialidade dos mesmos e, com isso, a verdade desportiva", concluiu o TAD. O caso acabou arquivado nas instâncias desportivas, mas prossegue fora delas, pela mão do Ministério Público.

Emails

Desta vez, tem sido o FC Porto a denunciar, desde o ano passado, uma alegada rede de contactos, supostamente montada pelo Benfica, para influenciar as classificações e as nomeações dos árbitros nas últimas épocas. Aos “dragões” chegou um conjunto de emails, alegadamente enviados para antigos responsáveis do sector da arbitragem por funcionários do clube rival, que têm sido semanalmente divulgados no Porto Canal e que já mereceram do Benfica uma intervenção junto das autoridades por devassa de correspondência privada. Certo é que a novela continua e que vários árbitros já foram notificados para prestarem declarações como testemunhas no inquérito aberto pela Comissão de Instrutores da Liga. Para além disso, o caso acabou por ser unido, num só processo, ao dos vouchers, pelo DIAP de Lisboa.

Viciação de resultados

Há um mês, a mais recente controvérsia estourou com uma notícia do Correio da Manhã sobre uma investigação da Polícia Judiciária às suspeitas de pagamento a jogadores do Rio Ave, alegadamente para perderem o encontro disputado com o Benfica, da 31.ª jornada da Liga 2015-16. Em comunicado, os “encarnados” rejeitaram liminarmente o cenário e falaram de uma “vasta campanha montada de forma a denegrir a imagem” do clube “e o mérito das suas vitórias”. Dos quatro jogadores vila-condenses citados, só dois participaram no encontro, que terminaria com um triunfo dos “encarnados”, por 1-0. Fora do país, desta vez Luís Filipe Vieira deixou uma mensagem em jeito de reacção: “Nunca ninguém comprou qualquer árbitro ou jogador de uma equipa adversária, ou em qualquer circunstância procurou manipular a verdade desportiva".

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