O mundo vai descobrir quanto vale um Kennedy na era Trump

O congressista Joe Kennedy III, neto de Robert e sobrinho-neto de John, foi escolhido pelo Partido Democrata para responder ao discurso do Estado da União do Presidente Trump.

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Joe Kennedy III é membro da Câmara dos Representantes pelo Massachusetts REUTERS/Brian Snyder

Do pouco que o Partido Democrata podia fazer para ofuscar o primeiro discurso do Estado da União do Presidente Trump, o nome escolhido para ler a resposta da oposição é uma jogada interessante. Aos 37 anos, Joe Kennedy III ainda diz pouco aos eleitores, mas dentro de algumas horas já deverá estar sentado, com o seu carisma e o apelido sonante, num cantinho do imaginário popular dos norte-americanos.

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Do pouco que o Partido Democrata podia fazer para ofuscar o primeiro discurso do Estado da União do Presidente Trump, o nome escolhido para ler a resposta da oposição é uma jogada interessante. Aos 37 anos, Joe Kennedy III ainda diz pouco aos eleitores, mas dentro de algumas horas já deverá estar sentado, com o seu carisma e o apelido sonante, num cantinho do imaginário popular dos norte-americanos.

Numa época em que cada tweet conta, e ainda por cima em ano de eleições para o Congresso, o Partido Democrata estava obrigado a não fazer asneira na escolha do rosto que vai aparecer nas televisões a responder ao discurso de Trump. Entra Joe Kennedy III, eleito em 2012 para a Câmara dos Representantes e reeleito em 2014 e 2016.

Apesar do nome e de alguns momentos em que atingiu o estatuto de celebridade nas redes sociais, após intervenções contra o fim do Obamacare, o mais recente Kennedy a fazer ondas na política estava ainda longe de ser um valor seguro para o seu partido — não é difícil encontrar artigos em que é falado como possível candidato à Casa Branca, mas é isso que acontece sempre quando se mistura as palavras "Kennedy" e "política" na mesma frase.

Neto de Robert Kennedy, (o attorney general assassinado em 1968 quando fazia campanha para a Casa Branca), e sobrinho-neto do Presidente John F. Kennedy, Joe tem o carisma e a boa relação com as palavras que notabilizaram os seus antepassados  — e quem segue a sua carreira sabe que ele mais depressa se indigna com injustiças sociais do que se encosta à sombra do apelido.

Mas essa mistura de carisma, eloquência e denúncia de injustiças — que seria explosiva em qualquer outro ciclo eleitoral — não tem sucesso garantido num mundo pós-Trump. Apesar da sua ligação ao sector progressista do Partido Democrata (a sua convidada de honra para o discurso desta noite de Trump é uma militar transgénero), não é claro que quem rejeitou Hillary Clinton e Jeb Bush nas últimas eleições tenha os braços abertos para um Kennedy.

Numa época em que uma vantagem definitiva se transforma numa receita para a morte política em menos de um tweet, Joe tem pela frente uma tarefa hercúlea se quiser aproveitar a rampa de lançamento que é aparecer em directo perante dezenas de milhões de norte-americanos logo a seguir ao devorador de audiências Donald Trump: inspirar o partido de Hillary Clinton e agradar ao movimento de Bernie Sanders, tudo isto sem surgir perante os eleitores do Partido Republicano como um elitista que nada tem a oferecer para além de um apelido famoso.