Angola e rescisões penalizam lucros do BPI em 2017

Impacto de Angola e programa de saídas voluntárias travam resultado. Sem factores extraordinários, banco dos espanhóis do CaixaBank teve “o maior lucro líquido desde 2007”, de 191 milhões.

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Miguel Manso

“O BPI registou no exercício de 2017 um lucro líquido recorde de 191 milhões na actividade em Portugal (excluindo não recorrentes) reflectindo uma melhoria de 33 milhões (+21%) face ao ano anterior. Trata-se do maior lucro líquido doméstico desde 2007”, explicou o banco em comunicado enviado ao mercado.

No entanto, “o resultado líquido consolidado ‘como reportado’ foi positivo em 10,2 milhões de euros, absorvendo totalmente o impacto contabilístico da venda de 2% e desconsolidação do BFA (-212 milhões de euros), e os impactos extraordinários na actividade em Angola no quarto trimestre (-107,4 milhões de euros)”, um efeito em particular da “classificação de Angola como economia de elevada inflação pelas empresas internacionais de Auditoria e consequente efeito no reconhecimento contabilístico da participação no BFA de acordo com as IAS 29 (estimados em -69 milhões de euros)", explica a instituição aos investidores.

A pesar nas contas anuais do banco liderado pelo espanhol Pablo Forero esteve ainda o “programa de saídas voluntárias (-78 milhões de euros após impostos)”, enquanto que “em sentido positivo, a mais-valia resultante da venda da BPI Vida e Pensões (nove milhões)” atenuou os impactos negativos.

Em 2016, o BPI, liderado na altura pela equipa de Fernando Ulrich, tinha obtido um resultado consolidado de 313 milhões de euros, um valor que tinha por base o forte contributo da actividade do banco no mercado angolano.

Mais recursos de clientes e mais comissões

Excluindo os extraordinários, o BPI assentou a recuperação do seu resultado líquido numa actividade comercial dominada pelo aumento dos recursos de clientes, tanto no que diz respeito aos fundos de investimento – que cresceram 12,7% ou 678 milhões, entre valorizações e novas entradas -, como ao nível dos depósitos – que aumentaram 1,9% ou 380 milhões de euros.

No total, o BPI captou mais 1.800 milhões de euros junto dos clientes durante todo o ano passado, atingindo um total de 32.960 milhões de euros nesta rubrica. Um desempenho que se verificou em paralelo com o aumento em quase 850 milhões de ofertas públicas de subscrição juntos dos clientes, dominadas pelas OTRV-Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável. 

Isto acontece depois de a gestão espanhola do Banco BPI ter aprovado a venda ao CaixaBank, que detém 84,5% do banco, da actividade de seguros de vida e pensões, da gestão de activos e da banca de investimento, assim como as operações de emissão de instrumentos de pagamento.

Neste contexto, a margem financeira do banco cresceu ligeiramente para os 368 milhões de euros, reflectindo a descida do custo médio dos depósitos, que compensou diminuição dos spreads cobrados nos créditos, em particular às empresas, segundo a informação divulgada pelo BPI. 

Aliás, na concessão de crédito verificou-se uma estabilização do volume global nos 22.244 milhões de euros, embora o destaque vá para o crédito concedido a empresas, que subiu 411 milhões de euros (6,4%) para 6.863 milhões de euros. Nas grandes e médias empresas subiu 4,6% e no segmento de empresários e negócios cresceu 10,5%.

No que diz respeito às comissões, o montante total cresceu 9%, com forte impacto da cobrança de custos na gestão de activos, como os fundos de investimento e de pensões. 

600 trabalhadores saíram em 2017

Na reestruturação executada no último exercício, BPI fechou o ano de 2017 com 4.931 trabalhadores em Portugal, menos 594 do que os que tinha em 2016. O banco levou a cabo em 2017 um programa de redução de pessoal, através de rescisões por mútuo acordo e reformas antecipadas, que teve um custo de 78 milhões de euros.

O BPI já vinha reduzindo o quadro de pessoal em anos anteriores (só em 2016 tinham saído 392 em Portugal), mas o processo acelerou em 2017, ano em que passou a ser controlado pelo CaixaBank.

Sobre este tema, Pablo Forero explicou, em conferência de imprensa, citado pelo Jornal de Negócios, que "não há nenhum plano para fazer outro programa de saída, em absoluto", acrescentando que "agora, temos a equipa que precisamos, o número de balcões que precisamos e, portanto, estamos em situação de tranquilidade e normalidade”.

Em termos de rede comercial, o banco tinha 431 balcões no final de 2017, menos 14 do que os 445 de 2016.

Além das agências, o BPI tinha em Dezembro 39 centros de investimento e 35 centros de empresas, no total de 505 unidades comerciais, segundo o banco.

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