Vigilância mais apertada à Legionella arranca no próximo mês

Programa de Intervenção Operacional de Prevenção Ambiental da Legionella vai para o terreno em Fevereiro. Número de infectados do surto ligado à Cuf Descobertas subiu para seis. Unidade privada está a contactar 800 pessoas que estiveram em internamento.

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O Programa de Intervenção Operacional de Prevenção Ambiental da Legionella (PIOPAL) vai arrancar em Fevereiro garantindo uma vigilância mais apertada aos hospitais públicos. O programa, coordenado pelo Instituto Nacional Ricardo Jorge (Insa), foi criado na sequência do surto de Legionella que afectou o hospital S. Francisco Xavier em Novembro do ano passado e que causou a morte a cinco pessoas.

Numa segunda fase o PIOPAL vai também abranger hospitais privados. Entretanto, subiu para seis – cinco mulheres e um homem - o número de casos de doença dos legionários com ligação ao Hospital CUF Descobertas, em Lisboa, depois de a Direcção-Geral da Saúde (DGS) ter confirmado, nesta segunda-feira, que mais duas pessoas estavam infectadas. As autoridades de saúde acreditam que a bactéria Legionella se desenvolveu no sistema de água do hospital, apontando os chuveiros como a fonte de emissão mais provável.

“O Programa de Intervenção Operacional de Prevenção Ambiental da Legionella é um plano de vigilância e a partir do próximo mês vamos para o terreno fazer colheitas de avaliação, também em articulação das autoridades de saúde com a Direcção-Geral da Saúde e com a colaboração de alguns dos laboratórios de saúde pública da Rede Nacional de Saúde Pública”, adiantou o presidente do Insa, Fernando Almeida, acrescentando que vão "de forma articulada fazer esta avaliação para perceber o que se passa nas unidades prestadoras de cuidados de saúde”.

O responsável espera que seja possível “percorrer todos os hospitais da rede pública até ao final do ano”, explicando que vão “prever uma segunda fase [de vigilância] a unidades privadas”. Sem afastar a hipótese, adiantou, de conseguir já neste primeira fase fazer vigilância a alguns hospitais privados, de acordo com as possibilidades do instituto e das restantes entidades envolvidas no programa.

O programa foi criado na sequência do surto que em Novembro de 2017 afectou o hospital S. Francisco Xavier, em Lisboa, e que infectou mais de 50 pessoas e causou a morte a cinco. Na altura do anúncio das primeiras mortes o Insa e a DGS disseram que iam avançar naquele momento com fiscalizações a todos os hospitais públicos. Desconhecem-se para já os resultados dessa acção.

Chuveiros como fonte provável

Em relação ao surto actualmente existente no hospital Cuf Descobertas, as autoridades de saúde acreditam que a bactéria Legionella se desenvolveu no sistema de água da unidade, apontando os chuveiros como a fonte de emissão mais provável.

Os novos casos reportados nesta segunda-feira dizem respeito a um homem de 69 anos que tinha estado internado na unidade de saúde privada, no Parque das Nações, e uma mulher de 60, acompanhante de um doente.

Entretanto o hospital já contactou 160 das 800 pessoas que estiveram ali internadas entre os dias 6 e 26 deste mês, para despistar eventuais casos de infecção. Dois utentes foram aconselhados a ir ao hospital, por poderem ter "alguns sintomas", adiantou o diretor clínico adjunto da instituição, Paulo Gomes, citado pela agência Lusa.

Das situações que já eram conhecidas desde domingo, altura em que o surto foi divulgado, duas dizem respeito a utentes infectadas quando estiveram naquela unidade "há umas semanas" e duas são funcionárias auxiliares de saúde no hospital. Encontram-se estáveis e apenas um dos doentes tem outras patologias associadas, informou a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, primeiro numa nota publicada no site da DGS, depois em conferência de imprensa.

Os doentes terão sintomas desde o dia 23, adiantou a directora-geral, sabendo-se que o período de incubação da doença pode chegar aos dez dias.

"Choque químico"

O primeiro caso foi detectado durante na madrugada de sábado. Ao final da tarde, a CUF notificou as autoridades de saúde da existência de dois casos de infecção por Legionella e durante a noite outros dois foram confirmados, explicou Graça Freitas. Desde o primeiro momento as autoridades acreditam que a infecção teve origem no hospital. Por isso, os seus responsáveis adoptaram medidas de descontaminação das águas, através de um "choque químico", por via do aumento dos níveis de cloro, e de um "choque térmico", com o aumento da temperatura da água.

Os chuveiros do hospital, que as autoridades de saúde apontam como a fonte mais provável de emissão, foram entretanto desligados por precaução, pelo que a directora-geral da Saúde acredita que a “fonte de transmissão em princípio está interrompida” e a possibilidade de ter havido contágio depois de sábado é “muito, muito diminuta”. Menos provável, diz Graça Freitas, é a possibilidade de as torneiras serem a foco de infecção.

Caso se confirme a origem nos chuveiros, a autoridade de saúde prevê que este surto tenha uma dimensão menor do que aquele que aconteceu no Hospital São Francisco Xavier no ano passado. Isto porque, no caso do surto hospitalar de Novembro, a bactéria teve origem nas torres de refrigeração, equipamento com maior capacidade de disseminar gotículas de água contaminada (um foco de infecção que agora não está em causa, uma vez que a CUF Descobertas não tem este tipo de equipamento).

“Nada indica que a fonte seja uma fonte externa ao hospital”, assegurou Graça Freitas.

O hospital também partiu “do pressuposto" de que o surto teve origem no interior da CUF, apontando para a possibilidade das "águas sanitárias e duches" serem o foco de infecção.

233 casos de Legionella num ano

A directora-geral da saúde adiantou que estas conclusões são preliminares, uma vez que ainda decorre a investigação epidemiológica e ambiental, não havendo resultados das análises em cultura no Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge. Estas análises resultam das colheitas feitas em diversos pontos da rede de água do hospital e permitirão perceber se a estirpe da bactéria recolhida nos doentes é semelhante à encontrada na fonte de emissão. Tanto a DGS, como o hospital fizeram as próprias recolhas, enviadas de seguida ao instituto, informou Graça Freitas.

A directora-geral da Saúde destacou que, tanto no caso da CUF como no São Francisco Xavier, os hospitais tiveram capacidade de fazer o diagnóstico e “de imediato” o comunicar às autoridades da saúde. Também o delegado de saúde regional de Lisboa e Vale do Tejo Mário Durval sublinhou a eficácia das autoridades de saúde, que "em menos de 24 horas tomaram as medidas de saúde pública que se impunham".

Só no ano passado houve pelo menos 233 casos de Legionella em Portugal, apontam os dados preliminares apresentados por Graça Freitas. Grande parte (174) trata-se de casos isolados de infecção, que tiveram origem em casa ou no trabalho. Segundo a directora-geral de Saúde estes dados estão em linha com a média dos outros anos, lembrando que a maior capacidade de detectar a doença que existe actualmente faz com que pareça que há mais casos.

Este valor inclui ainda os 59 infectados do surto do São Francisco Xavier, sobre o qual a DGS reviu o número de vítimas mortais de seis para cinco. A DGS concluiu que um dos infectados acabou por morrer devido a outra causa, já estando curado da infecção por Legionella. Com Ana Maia

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