Presidente da Easyjet baixa o seu próprio salário em nome da igualdade de género

O novo CEO da Easyjet iria ganhar mais 38 mil euros anuais do que a anterior directora-executiva, que esteve sete anos à frente da transportadora aérea low cost. A redução salarial de Lundgren surge depois de seis apresentadores da BBC terem tomado uma decisão similar.

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A companhia aérea britânica tem uma disparidade salarial de 52% e apenas 5% de pilotos comerciais são mulheres Eric Gaillard/REUTERS

O novo presidente-executivo da transportadora aérea Easyjet, Johan Lundgren, decidiu cortar o seu salário, de forma a que o seu vencimento mensal seja o mesmo da sua antecessora, Carolyn McCall, que esteve sete anos à frente da empresa. Quando foi convidado para o cargo, que assumiu no início de Dezembro, Lundgren foi premiado com um salário mais alto do que a anterior presidente-executiva. A notícia da decisão do novo líder da Easyjet foi dada nesta segunda-feira pela própria companhia aérea, referindo que o objectivo de Lundgren é combater a desigualdade salarial entre homens e mulheres.

O salário inicial de Johan Lundgren é de 740.000 libras, o equivalente a cerca de 840 mil euros anuais. O de Carolyn McCall, na altura em que saiu da empresa, era de 706 mil libras anuais, o equivalente a 802 mil euros — menos 38 mil euros do que iria receber o novo CEO. Um porta-voz da companhia aérea low cost disse que esta diferença servia para garantir que tinham “o candidato certo”, sendo que o “salário reflectia a sua experiência e o seu salário anterior”. No local onde trabalhava antes, a operadora turística Tui, Lundgren ganhava cerca de 875 mil euros.

“Na Easyjet, estamos empenhados no compromisso de garantir remunerações iguais e as mesmas oportunidades para mulheres e homens. Quero aplicar esta filosofia a todos os colaboradores e, para mostrar o meu compromisso, pedi ao Conselho de Administração uma redução do meu salário para igualar o da Carolyn quando ela estava na Easyjet”, anunciou Lundgren, num comunicado enviado às redacções.

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O CEO da easyJet, Johan Lundgren, em funções desde o início de Dezembro DR

Segundo o Financial Times, a companhia aérea britânica tem uma disparidade salarial de 52%, uma das mais altas do país (sobretudo em grandes empresas) – mas a empresa explica que esta desigualdade se justifica pelo maior número de pilotos homens, que ganham mais do que a tripulação de cabine e outros funcionários. Só existem seis mulheres CEO na lista das 100 maiores empresas do Reino Unido.

A Easyjet esclarece por email que “os salários dos pilotos e da tripulação de cabine são acordados e negociados colectivamente com os sindicatos”, o que, dizem, “significa que as taxas de pagamento são exactamente as mesmas para homens e mulheres”.

Lungren diz ainda que não se pretende ficar com o objectivo que antevê que 20% dos novos pilotos até 2020 sejam mulheres, mas sim “ultrapassar esta meta”; no comunicado, a Easyjet reconhece que “o desequilíbrio de género é um problema transversal a toda a indústria da aviação” — na Easyjet, como em outras transportadoras aéreas, o número de pilotos comerciais mulheres não vai além dos 5%.

“O género nunca deve ser a razão” para se ganhar mais

Jo Swinson, uma das líderes dos democratas liberais e antiga ministra britânica para as Mulheres e Igualdade, disse ao Financial Times que o facto de Lundgren começar com um salário mais alto do que a anterior presidente mostra “o quão fácil é, até para uma companhia que teve mulheres no topo e que durante esse tempo tomou medidas importantes quanto à diversidade, cair numa velha armadilha”. “Pode haver muitas razões para que um novo funcionário ganhe mais, como se tiver novas responsabilidades, mas o género nunca deve ser a razão”, acrescentou ainda.

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Jo Swinson, antiga ministra britânica para as Mulheres e Igualdade Neil Hall/REUTERS

Algumas empresas britânicas têm sido criticadas pela disparidade salarial, conhecendo-se vários exemplos de mulheres que ganham menos do que os homens em cargos equipolentes. É o caso da BBC. No início do ano, a editora da BBC China, Carrie Gracie, demitiu-se por ganhar muito menos do que os colegas homens, acusando a estação britânica de uma “cultura salarial secreta e ilegal”, reivindicando salários “iguais, justos e transparentes”. Em suma, que homens e mulheres que ocupam funções idênticas recebam o mesmo.

Na sequência da sua demissão (e tomada de posição), seis apresentadores da BBC aceitaram negociar as suas condições salariais, numa tentativa de equilibrar as desigualdades de remuneração dentro da estação televisiva. Huw Edwards, Nicky Campbell, Jon Sopel, Nick Robinson, Jeremy Vine e John Humphrys foram os seis nomes indicados pela BBC que aceitaram a proposta de redução de salário.

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