Palavras, expressões e algumas irritações: despedimento

No caso da Triumph, a pressão foi tal que a formalização do “despedimento colectivo” soou como vitória. Tão-só porque os funcionários viram garantidos os direitos que lhes seriam devidos

“Dispensa de um trabalhador por parte da entidade patronal” é uma definição que se encontra no dicionário de língua portuguesa e uma prática que se alastra a vários pontos e actividades do país. “Despedimento”, pois. “Porque não? O mundo mudou”, dirão os cínicos bem instalados.

Nesta semana, foi a Triumph que “dispensou” quase 500 trabalhadores (sobretudo trabalhadoras), depois de estarem sujeitos a meses de salários em atraso, a dias e noites de vigília (e vigia) e a momentos de angústia sobre o futuro.

A pressão foi tal que a formalização do “despedimento colectivo” soou como vitória. Tão-só porque os funcionários de há dezenas de anos viram garantidos os direitos que lhes seriam devidos. Houve até quem brincasse com a palavra “triunfo”.

Nos CTT, o encerramento de 22 estações irá também obrigar à “exoneração” de pelo menos 55 funcionários. Está agendada uma greve e uma manifestação para 23 de Fevereiro, para contestar “os despedimentos, o encerramento de estações de correio e a sobrecarga de trabalho dos carteiros”. Os representantes dos trabalhadores dos CTT “exortam a população a participar na manifestação que vão promover em Lisboa”. Faz sentido.

No caso da PT/Altice, ficámos a conhecer a figura jurídica “transmissão de estabelecimento”, ou seja, e em português corrente, “vais daqui para ali”. Dizem os sindicatos, e desta vez com razão, que é “um despedimento encapotado”.

Com notícias destas, é difícil partilhar das euforias do Governo com a vinda da Google para Oeiras, ao que consta para instalar um centro tecnológico de serviços para a Europa, Médio Oriente e África. Não será apenas mais um call center? E parece que a Amazon também vem. Vai beneficiar de que contrapartidas?

Outra definição para “despedimento”: “Dispensar a presença.” Adeus.

A rubrica Palavras, expressões e algumas irritações encontra-se publicada no P2, caderno de domingo do PÚBLICO

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