Objectos de prisioneiros dos campos de concentração nazis em busca dos donos em Paris

Exposição #StolenMemory estará em Paris durante cinco semanas, devendo, depois, tornar-se itinerante.

O relógio do português Paulo da Silva é um dos bens ainda à guarda do ITS
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O relógio do português Paulo da Silva é um dos bens ainda à guarda do ITS Nelson Garrido
Jóias, relógios, pentes ou documentos são alguns dos objectos à procura do dono legítimo
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Jóias, relógios, pentes ou documentos são alguns dos objectos à procura do dono legítimo DR

Grandes cartazes com nomes de várias nacionalidades e fotografias dos mais diversos objectos pessoais tomam conta, a partir de este sábado, da envolvência da sede da UNESCO em Paris, França. Todos eles representam bens de antigos prisioneiros dos campos de concentração nazis que estão, até hoje, na posse do International Tracing Service (ITS), o arquivo e centro de documentação dos perseguidos e sobreviventes do nazismo, à espera de serem devolvidos aos seus donos — mais provavelmente, aos descendentes dos deportados.

Dos cerca de três mil artigos que o ITS ainda tem na sua posse, em Bad Arolsen, na Alemanha, há um item que pertence a um português. É o relógio de Paulo de Silva, nascido a 10 de Janeiro de 1908 numa localidade identificada como Vinha. Com 36 anos, Paulo foi deportado para o campo de concentração de Neuengamme, junto a Hamburgo, a 21 de Maio de 1944, e sobreviveu à guerra, depois de passar por outros campos. O seu relógio, descoberto naquele campo de concentração, continua à guarda do ITS. 

Com a exposição #StolenMemory, que ficará em Paris durante cinco semanas, devendo, depois, tornar-se itinerante, o ITS espera encontrar mais familiares das vítimas cujos bens continuam à guarda deste organismo. Este é, aliás, um dos objectivos traçados por Floriane Hohenberg, que assumiu a direcção do ITS em 2016. Um arquivo digital, com a lista de bens à guarda do arquivo, e os nomes dos respectivos donos, foi criado em 2015 e, só no ano passado, o ITS conseguiu devolver objectos às famílias de 90 vítimas. “Com a exposição #StolenMemory esperamos conseguir atrair ainda mais atenção e, sobretudo encontrar voluntários que nos ajudem na nossa busca”, disse a directora do ITS, citada num comunicado do centro de documentação.

A maioria dos objectos guardados em Bad Arolsen pertencem a prisioneiros que passaram por Neuengamme, embora existam também alguns itens de deportados para Dachau e Bergen-Belsen, dois campos também em território alemão. No primeiro caso, os objectos dos prisioneiros destinados, sobretudo, ao trabalho forçado eram armazenados com os nomes dos proprietários e só seriam destruídos após a sua morte. Vários sobreviveram ao final da guerra

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