Quem é o jovem conservador que adora Portas e Zeca Afonso e conquistou a Forbes?

Francisco Rodrigues dos Santos é líder da Juventude Popular e integra a lista “30 under 30” da Forbes. Do colégio militar à faculdade de Direito, do associativismo à política: como é que ele se tornou uma rising star para a revista americana?

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Francisco Rodrigues dos Santos tem 29 anos e é líder da JP há dois anos Nuno Ferreira Santos

Pode até estranhar quem ouvir o assumido conservador Francisco Rodrigues dos Santos tratar os amigos por camarada. Mas o advogado e líder da Juventude Popular (JP) desde 2015 “não tem nenhum problema” em fazê-lo — e isso tem uma explicação com morada para os lados do Colégio Militar, onde passou oito anos como aluno interno. “É engraçado que a camaradagem foi sendo transportada para o espectro político, e logo o mais à esquerda”, graceja, “mas o termo é eminentemente militar”. E os ensinamentos desse tempo continuam na ponta da língua. Francisco ainda sabe de cor todo o código de honra da instituição: amor à pátria, disciplina, repúdio da violência... e por aí adiante.

O jovem nascido em Coimbra em Setembro de 1988 foi no início da semana surpreendido com a distinção da revista Forbes, que o considerou um dos “30 jovens mais brilhantes, inovadores e influentes da Europa” na categoria Direito e Política, fazendo companhia a mais três portugueses: o bailarino Marcelino Sambé e as empreendedoras no comércio de vestuário de luxo Filipa Neto e Lara Vidreiro.

Para Francisco dos Santos, esta nomeação — justificada pela Forbes com o facto de o advogado ter ajudado a JP a chegar aos 20 mil filiados e a duplicar o número de membros eleitos da sua jota — é sobretudo “um reconhecimento de um mérito colectivo” e um “restaurar da esperança no futuro” da política.

“Casas de formação” e espaços “fundamentais na renovação política”, as juventudes partidárias devem “dizer aquilo que pensam até às últimas consequências”, defende. E a “irreverência” é compatível com o conservadorismo? “Um conservador não é retrógrado. Sou conservador porque me considero um tipo de futuro.”

A agenda da JP centra-se em temas como a precariedade laboral, o ensino superior, a mitigação do desemprego, a habitação jovem. “É nisso que temos apostado e temos o objectivo de voltar a ter um representante no Parlamento”, divulga.

E os temas ditos fracturantes? Interrupção Voluntária da Gravidez: “Acredito que a vida começa na concepção e acaba na morte natural.” Casamento homossexual: “Acredito no amor entre duas pessoas do mesmo sexo, aceito a homossexualidade. [Mas] não devia chamar-se casamento.” Adopção de crianças por casais do mesmo sexo, eutanásia, liberalização das drogas leves? A resposta é não. “Mas queria deixar claro que não temos uma agenda [para estes temas].”

O mais velho de três irmãos rapazes, filho de uma advogada e um oficial do exército, viveu em Coimbra até aos cinco anos, altura em que o pai foi deslocado para Tancos e a família foi viver para Vila Nova da Barquinha. Por ali fez a escola primária e transitou depois para o Colégio Militar. “Só ia a casa aos fins-de-semana”, recorda o sportinguista. “[Lá] aprendi valores que tenho no meu código de honra para a vida”.

Por esta altura, Francisco revelava-se um bom aluno em diferentes áreas e a ideia dos tribunais já lhe agradava. A mãe, advogada ciente das dificuldades do ofício, desencorajava-o. O pai, ponderado, aconselhava-o a escolher uma área científica: seria mais fácil transitar dessa para as letras do que o contrário.

Assim foi. No 12.º ano, acabou por eleger a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e nunca se arrependeu. E em relação ao exercício da profissão, pode dizer-se que as mães têm sempre razão? “É muito desgastante, é verdade”, concede, “mas espero que a Ordem consiga regulá-la e que as coisas possam ir mudando”.

Os primeiros combates políticos deram-se na associação de estudantes, ainda longe de partidos. Em casa, foi sobretudo o avô quem o influenciou — ainda que este tivesse sido vice-presidente da câmara de Oliveira do Hospital pelo PSD. “Fui investigar, li as cartas de princípios do CDS e PSD — e a do PS só por curiosidade — e percebi com quem mais me identificava”.

A filiação na JP aconteceu apenas em 2012 e os convites para se inscrever na juventude social-democrata, com “carta de filiação entregue nas mãos e já com o proponente assinado”, foram todos declinados.

Pela “inteligência superior” e “carisma”, tem especial admiração por Paulo Portas, mas também pela actual líder Assunção Cristas, por Pedro Mota Soares (de quem foi assessor) ou Nuno Melo. De além fronteiras, para citar apenas três: Margaret Thatcher, Ronald Reagan e Winston Churchill.

Entre o escritório de advogados Valadas Coriel & Associados e a JP, não sobra muito tempo livre a Francisco Rodrigues dos Santos. Vai ao cinema, devora jornais, aposta em livros de história, política e biografias e não dispensa a música, “sem padrões” para lá do da “qualidade”: Coldplay, Beatles, Queen, Pearl Jam, Rui Veloso, Samuel Úria, B Fachada e... Zeca Afonso. “É uma das minhas referências musicais. Gosto muito de música de intervenção. Claro que não subscrevo a mensagem política subjacente àquele tipo de musicalidade, mas a verdade é que gosto muito”.

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