Vai fechar a organização só de homens que fez jantar de caridade onde se “apalpava” mulheres

Depois da polémica e das críticas ao assédio sexual num jantar da semana passada, os membros do President Club Charity anunciaram que iriam deixar de fazer jantares de caridade, onde se juntavam vários empresários e figuras de renome. Muitas organizações já devolveram os donativos.

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Às mulheres era pedido que usassem saltos altos e roupa "sexy" Kim Kyung Hoon/REUTERS

A President Club Charity – um clube só de homens que se reunia para angariar fundos para fins de solidariedade – anunciou que vai fechar. A decisão foi tomada na sequência do escândalo na 33.ª edição do seu jantar - com recurso a uma jornalista infiltrada, o  Financial Times revelou que as mulheres contratadas forma assediadas.

Um dos organizadores do jantar, David Meller, presidente do Departamento de Educação do Governo britânico, demitiu-se.

Durante 33 anos, a organização fez um jantar anual em Londres, um acontecimento formal que esteve muitos anos escondido da atenção pública. Até  terça-feira à noite, quando foi publicada a reportagem da jornalista Madison Marriage, do Financial Times, que se infiltrou da única forma possível: num jantar só para homens, foi uma das 130 empregadas, com o intuito de averiguar as denúncias de “condutas sexuais impróprias”.

Num primeiro sinal de aviso, foi-lhe dito que os homens “podiam ser incómodos”. A gala juntou 360 figuras da finança, da política e do entretenimento, recebidas com a frase “bem-vindos ao evento menos politicamente correcto do ano”. No jantar estiveram (neste ano ou em anos anteriores) nomes como o político Nadhim Zahawi, o comediante David Walliams, o antigo presidente da Fórmula 1 Bernie Ecclestone ou o apresentador de televisão Vernon Kay, entre muitos outros nomes pertencentes à classe alta, alguns deles donos de influentes negócios.

Roupa "sexy" era um dos requisitos

Todas as mulheres tinham de usar vestidos pretos “sexy”, com roupa interior a condizer e saltos altos. Aquelas que se integravam nos critérios exigidos (“altas, magras e bonitas”), ganhavam cerca de 170 euros, mais 28 euros para apanharem um táxi até casa; o trabalho começava às 16h. Ao chegarem ao local, tinham de assinar um acordo de não-divulgação de cinco páginas, sem que tivessem oportunidade de ler ou ficar com uma cópia do que assinaram, lê-se na reportagem do Financial Times. O trabalho envolvia ir buscar bebidas para os homens quando necessário, e mantê-los ocupados e felizes.

Na festa depois do jantar, várias das empregadas – algumas delas estudantes a ganhar algum dinheiro extra, actrizes a trabalhar em part-time ou modelos – foram apalpadas e assediadas. Algumas confessaram sentir-se assustadas; um homem chegou a perguntar a uma delas se era uma prostituta.

Também a jornalista diz ter sido apalpada várias vezes e o mesmo aconteceu com outras empregadas, que ouviram “comentários lascivos” e foram convidadas, por várias vezes, para se juntar aos convidados no quartos. Várias mulheres disseram que os homens punham as suas mãos por dentro das suas saias e uma delas disse que um homem lhe mostrou o pénis durante o jantar.

Só no evento de quinta-feira passada, foram angariados mais de dois milhões de libras (2,28 milhões de euros); ao todo, já foram angariados mais de 20 milhões de libras (22,8 milhões de euros) pela organização — mas, depois da polémica, muitas associações (como o Hospital Great Ormond Street, em Londres, e o Evelina London Children’s Hospital) têm recusado ou devolvido as contribuições do grupo.

Outras empresas que tinham combinado oferecer produtos para serem leiloados (o principal modo de angariação no jantar anual), como a Tesla e a BMW, disseram que não iriam prosseguir com os donativos.

O President Club reagiu na altura em que foi publicada a reportagem, afirmando que tinham conseguido reunir milhões de libras para ajudar “crianças desfavorecidas” e dizendo estar desconcertados pelos relatos de condutas inapropriadas, segundo o Financial Times. “Tal comportamento é totalmente inaceitável. As alegações serão investigadas”, concluíam, admitindo que tomariam as medidas necessárias.

Também a Comissão de Beneficência britânica – uma agência do Governo que regula as associações de solidariedade – disse ter aberto uma investigação para perceber o que tinha acontecido no jantar de quinta-feira passada. A primeira-ministra britânica, Theresa May, condenou o assédio relatado, admitindo que existe ainda um longo caminho a percorrer no tratamento que é dado às mulheres. 

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