“Marcelo está a reduzir os outros actores políticos quase a figurantes”

Sampaio da Nóvoa dá por boa a “proximidade” de Marcelo, mas vê dois riscos no uso excessivo da palavra. E já nem exclui uma segunda candidatura a Belém.

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PÚBLICO e RR entrevistam Sampaio da Nóvoa Nuno Ferreira Santos
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Nuno Ferreira Santos

Ao fim de dois anos da eleição presidencial, o ex-adversário de Marcelo já lhe traçou a radiografia: “Há um excesso de pronúncia, de palavra sobre tudo, sobre o dia-a-dia” e, com isso, “um desgaste da imagem” e “da palavra presidencial”, diz Sampaio da Nóvoa na “Hora da Verdade”, entrevista ao PÚBLICO e Renascença que será publicada esta quinta-feira.

O ex-reitor da Universidade de Lisboa, que ficou em segundo lugar nas eleições presidenciais de 2016, vê dois riscos nesta estratégia de Marcelo Rebelo de Sousa. O primeiro é o de “muitas vezes reduzir o papel dos outros actores políticos quase a figurantes. Muitas vezes temos a sensação que os outros actores políticos — membros do Governo, deputados, presidentes de câmara — fazem quase o papel de figurantes. E julgo que isso não é bom para a democracia portuguesa”.

O outro risco é o de o Presidente da República “perder o peso da última palavra”, quando chegar um momento em que a sua intervenção será determinante no espaço público — ou político. “É o meu receio”, afirma.

Mas Sampaio da Nóvoa percebe as razões do homem que o venceu, logo na primeira volta das presidenciais. “Há uma preocupação constante de preencher a distância entre o tempo mediático e o tempo político”, de preencher um vazio. Se o próprio Marcelo já o reconheceu, há quase um ano, num encontro com politólogos reconhecidos internacionalmente, na Fundação Champalimaud, Sampaio da Nóvoa percebe as vantagens imediatas que pode ter. 

“O primeiro ano [desta Presidência] foi muito positivo”. Talvez até, reconhece, sem Marcelo não tivesse sido possível a estabilidade da solução de esquerda, que ele próprio profetizou enquanto candidato. Já o segundo ano, acrescenta, “foi muito marcado pela proximidade”. Marcelo “deu uma dimensão de respeito e compaixão” sobretudo na horas das tragédias, que faz e fazia falta. A questão é quando Marcelo entra em excesso, justifica Sampaio da Nóvoa. E quando fala sobre tudo, ocupando todo o tempo.

Na entrevista ao PÚBLICO e Renascença, o ex-candidato prefere não dar conselhos ao PS sobre o que fazer nas próximas eleições presidenciais — menos ainda se deve preparar-se para fazer como o PSD fez com Soares e dar o seu apoio a Marcelo. Mas, mesmo resguardado no papel de ex-candidato independente, recusa também antecipar o que reserva para o seu futuro político. 

“Do ponto de vista da minha intervenção pública ela será o que na altura adequada tiver de ser. Se me tivesse perguntado um ano antes de ter lançado a minha candidatura se pensava candidatar-me a Presidente da República ter-lhe-ia dito que não e, no entanto, um ano depois apresentei a minha candidatura”, diz ao PÚBLICO e Renascença. E dois anos depois, o que é que pondera? “Pondero tudo, está tudo em aberto na minha vida. Não há nada que eu não imagine que possa acontecer”. Até mesmo uma segunda candidatura a Belém? “Se há uma coisa que aprendi é que nunca se deve dizer nunca a nada e eu, pessoalmente, não digo nunca a nada. Portanto, estou aberto a todas as possibilidades, em todos os momentos, se entender que numa determinada fase isso é útil para o país.”

Nesta entrevista, o candidato fala sobre Marcelo e o papel do Presidente, também sobre Rui Rio e o que muda - ou não - no ciclo político português. Sobre o Governo PS com apoio da esquerda - o seu futuro, seus sucessos e insucessos. E também sobre a Educação, o Ensino Superior e Ciência, que lhe ocupam agora os dias, enquanto professor universitário. 

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