Com quem quer casar a carochinha?

O caminho de Costa para o altar, o das eleições de 2019, não pode ser feito de mão dada à esquerda e à direita. Desta vez, o PS vai ter de ser claro.

Quando se está bem acompanhado, não se muda de companhia.” A frase de António Costa para o PS é bonita para um namoro, mas há um dia em que é preciso dar o passo seguinte. Ou não?

O problema que a eleição de Rui Rio criou, como bem explica Francisco Louçã nos conselhos a Catarina e Jerónimo, hoje aqui no PÚBLICO, não é tanto do Bloco e do PCP. Do ponto de vista ideológico (não no dia-a-dia), estes dois partidos estão onde estiveram: à esquerda. Lá ficarão, a governar ou a contestar.

A escolha é de Costa e está bem à vista. Historicamente, o PS é um partido da esquerda a olhar para a direita. Foi aí que Mário Soares o pôs desde o princípio: longe do PCP, com a ajuda da direita. Fora a maioria de Sócrates, foi sempre assim. Até agora, quando precisou da esquerda para chegar ao poder.

Até 2019 não mudará nada, por isso mesmo. O PS não pode abdicar da “companhia”, porque foi o segundo mais votado. Perder o apoio do Bloco e PCP para encontrar em Rio um “companheiro” era prescindir da escolha e entregar o poder a quem ganhou. Porém, em 2019 este namoro acaba-se. E a pergunta já não será “quem quer casar com a carochinha”, mas, antes, com quem quer ela casar-se.

Tudo depende dos votos, como é da democracia. Mas no pressuposto de que pode, desta vez, vencer as eleições, Costa terá de começar a preparar a cerimónia. A esquerda sabe-o e já começou a olhar para o lado. Ora vem uma proposta para acabar com as taxas moderadoras e com as PPP no SNS; ora vem a sugestão para repor toda a legislação laboral vigente antes da troika; ora aparece a exigência de mais investimento nos serviços públicos (e nos funcionários), sejam eles na Justiça, na Educação ou na Saúde.

Em cada um destes temas, uma não opção será sempre uma opção. Será um caminhar lento para o centro, mesmo que de mão dada à esquerda.

E o caminho para o altar, o das eleições de 2019, não pode ser feito de mão dada à esquerda e à direita, porque ainda há um orçamento a aprovar, porque à vista estão as eleições europeias — com toda uma discussão sobre os constrangimentos à governação. E logo depois a campanha das legislativas.

António Costa estará sempre num lugar privilegiado, porque só ele terá as cartas na mão. Mas, desta vez, o PS vai ter de ser claro, porque agora sabemos as novas regras do jogo. E porque a companhia vai ter de dizer “sim” antes do sacramento. Sob pena de ficar sem par — e sozinho à primeira oportunidade.

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