População de sisões em Portugal reduzida para metade na última década

É uma ave típica do Alentejo: machos têm o pescoço preto e as fêmeas cor acastanhada.

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Sisão Luís Venâncio

Um estudo desenvolvido por cientistas do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Cibio-InBio) mostra que a população portuguesa de sisões, uma ave ameaçada em Portugal, se reduziu para quase metade na última década.

O sisão (Tetrax tetrax) é uma ave típica do Alentejo, parecida com uma abetarda (a ave europeia mais pesada) em miniatura. É possível identificar o macho pelo seu pescoço preto com riscas brancas e a fêmea pela cor acastanhada.

Neste estudo, que deu origem a um artigo científico publicado na revista PeerJ, a equipa demonstrou que a rede de áreas protegidas estabelecida pela União Europeia “não está a ser eficaz” na conservação do sisão, cuja população portuguesa desceu 49%, informou o Cibio-InBio em comunicado.

As Zonas de Protecção Especial (ZPE), parte integrante da Rede Natura 2000, foram criadas para a conservação de aves e abrangem as regiões do país com as populações mais importantes de sisões, que, na Europa, têm decrescido nas últimas décadas devido à perda de habitat, em consequência da intensificação agrícola.

A equipa comparou as tendências da população de sisões no período entre 2003 e 2006 com as de 2016, em 51 áreas (21 das quais dentro das ZPE), observando que, proporcionalmente, o decréscimo foi maior fora dessas zonas do que dentro. “No entanto, em números absolutos, os maiores decréscimos na densidade populacional registaram-se dentro das ZPE”, lê-se no comunicado.

Para João Paulo Silva, investigador do Cibio-InBio referido no comunicado, a “mera designação de zonas de protecção especial em áreas agrícolas não é suficiente para preservar populações de aves”, sendo necessárias políticas agrícolas e investimento para manter não apenas a disponibilidade, mas também a qualidade do habitat. De acordo com o investigador, somente dessa forma serão garantidas as necessidades biológicas das espécies.

O que falhou?

“As áreas Natura 2000 beneficiam de mecanismos legais para impedir mudanças estruturais na utilização das terras”, condicionando “a conversão de terras agrícolas em floresta ou a instalação de infra-estruturas, como estradas ou linhas eléctricas de transporte de energia, sem que haja avaliação de impacto e medidas compensatórias”, acrescenta o comunicado. No entanto, e segundo a explicação avançada pelos investigadores, o que tem acentuado o declínio da população de sisões em ZPE é a degradação da qualidade dos habitats.

“Nos últimos dez anos, verificou-se uma conversão significativa de áreas de agricultura extensiva em pastagens permanentes, acompanhada por um aumento do encabeçamento do gado”, explicou João Paulo Silva. Este processo de intensificação, continuou o investigador, pode afectar a estrutura da vegetação e, em última instância, a qualidade das pastagens para a reprodução da espécie, expondo os indivíduos ou famílias à predação.

Para a equipa – que desenvolveu o trabalho no âmbito da cátedra REN em Biodiversidade Cibio-InBio e contou ainda com os investigadores Ricardo Martins, Marcello D’Amico e Francisco Moreira –, os resultados deste estudo reforçam a importância de estabelecer um esquema adequado de gestão de habitat.

“Em duas das mais importantes ZPE, Castro Verde e Vale do Guadiana, as populações de sisão mantiveram-se estáveis ou aumentaram durante o período em análise”, tendência que coincidiu “com as áreas onde se verificou uma adesão significativa de agricultores a um programa agro-ambiental que promove a agricultura extensiva”, refere o comunicado. “Com este programa agro-ambiental, o habitat de reprodução do sisão é favorecido, pois são estabelecidos limites para a intensidade do gado nas pastagens.”

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