Encontro com Presidente de Angola foi “extremamente positivo”

“Não ignoramos que existe uma questão – e uma só questão – estritamente jurídica, que decorre da responsabilidade única das autoridades judiciárias”, diz primeiro-ministro sobre conversa com João Lourenço em Davos. Mas visitas de alto nível continua, congeladas.

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António Costa e João Lourenço encontraram-se à margem do Fórum Económico Mundial LUSA/LAURENT GILLIERON

A julgar pela avaliação feita por António Costa do encontro com João Lourenço nesta terça-feira à noite, a Operação Fizz não abala as relações diplomáticas entre Portugal e Angola. “Reuni-me esta noite em Davos, à margem do Fórum Económico Mundial, com o Presidente da República de Angola. Foi um encontro extremamente positivo, em que fizemos o ponto da situação das nossas boas relações, a vários níveis”, afirmou o primeiro-ministro no final, em duas publicações no Twitter.

“Não ignoramos que existe uma questão – e uma só questão – estritamente jurídica, que decorre da responsabilidade única das autoridades judiciárias”, sublinhou ainda António Costa, referindo-se ao processo que envolve o ex-vice-presidente angolano Manuel Vicente, acusado de ter corrompido o então procurador do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) Orlando Figueira, para que este arquivasse dois inquéritos.

O primeiro-ministro escreveu que “tudo decorre normalmente com uma única excepção: não haver visitas ao mais alto nível aos respectivos países”. Costa recuperou, no entanto, uma expressão já utilizada por estes dias pelos ministros dos Negócios Estrangeiros de Portugal e Angola: “As relações entre os nossos países e povos são fraternas e insubstituíveis. Estamos juntos."

Costa falou depois aos jornalistas no final de uma reunião de 40 minutos com João Lourenço que decorreu no hotel em que o líder do executivo português está instalado e que começou com cerca de 50 minutos de atraso: "Este foi um encontro no quadro das relações permanentes que temos mantido - dos bons encontros que tenho mantido com o Presidente João Lourenço. Fizemos o ponto das relações muito fraternas que existem entre Portugal e Angola, que, felizmente, decorrem muito bem dos pontos de vista económico, das relações entre as nossas empresas, das relações culturais e entre os nossos povos", cita a Agência Lusa.

MNE angolano congratula-se com decisão judicial de separar o processo de Manuel Vicente

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Angola congratulou-se com a decisão da Justiça portuguesa de separar o processo do ex-vice-Presidente angolano Manuel Vicente, dizendo que corresponde a um passo no sentido desejado pelas autoridades de Luanda.

Manuel Domingos Augusto falava aos jornalistas em Davos, na Suiça, no final da reunião entre o primeiro-ministro português e o Presidente angolano. O chefe de Estado angolano delegou no seu ministro dos Negócios Estrangeiros as declarações à comunicação social sobre os resultados da reunião com o primeiro-ministro português. "Angola nunca interrompeu o diálogo com Portugal", começou por salientar o responsável máximo da diplomacia angolana, antes de se referir ao processo da Justiça portuguesa contra o ex-vice-Presidente angolano Manuel Vicente.

"Todos desejamos que o problema venha a ser resolvido o mais breve possível, para que a harmonia que tem caracterizado as nossas relações possa ser retomada. Nós, hoje, tivemos a oportunidade de trocar algumas ideias com o primeiro-ministro português e não fugimos à questão que a todos incomoda", disse.

Manuel Domingos Augusto referiu-se então, neste preciso contexto, à decisão judicial da passada segunda-feira de separar o processo de Manuel Vicente no âmbito da Operação Fizz: "Tomámos nota da evolução que o processo está a conhecer e reafirmámos a esperança de que haja a muito breve trecho um desfecho que corresponda à vontade dos dois governos, mas também dos povos angolano e português", declarou.

Segundo ministro dos Negócios Estrangeiros de Angola, a delegação governamental angolana já se encontrava em Davos quando tomou conhecimento do mais recente desenvolvimento no processo judicial. "Tomámos conhecimento da decisão judicial sobre a separação dos processos. Sem entrar em detalhes técnicos, acreditamos que se trata de um passo no sentido do desejo das autoridades angolanas e - acredito - que também das autoridades portuguesas. Não há razões para que este processo continue a ser uma sombra naquilo que são as relações harmoniosas e altamente desejadas pelos povos dos dois países", declarou o ministro dos Negócios Estrangeiros de Angola.

Numa referência ao princípio da separação de poderes, Manuel Domingos Augusto defendeu depois que, "sendo o poder judicial português um dos três poderes do Estado, no cumprimento do que a lei prevê em Portugal, deverá ser encontrada uma solução que corresponda ao desejo supremo dos povos dos dois países".

"Para que as relações entre Portugal e Angola possam não só conhecer os ritmos que já têm, mas também ser reforçadas para benefício mútuo. As perspectivas são boas, a economia de Angola está em recuperação e Portugal também tem tido um comportamento muito bom ao nível da sua economia. Quando assim é, o potencial para que as relações possam trazer benefício potencialmente maiores aumenta", sustentou o chefe da diplomacia angolana.

Numa alusão ao processo contra Manuel Vicente, Manuel Domingos Augusto manifestou-se "optimista de que o escolho (obstáculo) que está no caminho luso-angolano possa ser removido". "É aquilo que todos desejamos: Uma relação forte, singular e única", acrescentou o ministro dos Negócios Estrangeiros de Angola.

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