Há stress na Net

Lembro-me da Internet quando era calma e lenta. Agora vai-se ao booking.com, ao TripAdvisor e a outros sites de marcação de hotéis e o ambiente é freneticamente stressante.

Deram-me um conselho: para passar férias escolha um país cuja língua não tenha uma palavra própria para dizer stress. Como a italiana forçada a ir buscar stress à língua inglesa.

É daqueles disparates que fazem sentido até se começar a pensar neles. A verdade é que não conheço nenhuma língua que não use a palavra stress. Aliás, os locais menos stressados devem ser aqueles cujas línguas não só não contêm uma palavra para stress como nem sequer precisam de importá-la.

Lembro-me da Internet quando era calma e lenta. Agora vai-se ao booking.com, ao TripAdvisor e a outros sites de marcação de hotéis e o ambiente é freneticamente stressante.

Adoptou os piores hábitos da venda da banha da cobra. Vai-se ver um hotel e começa logo a gritar que o preço é uma pechincha, que já só falta aquele quarto e que já andam mais quatro abutres a sobrevoá-lo. Pressionam loucamente para fazermos a reserva, assustando-nos com cenários apocalípticos, apelando aos nossos terrores de ficarmos sem abrigo.

Nem é só para caçar multas de cancelamento, já que nos aconselham a escolher hotéis que oferecem cancelamento gratuito. Mas a pressa é sempre má conselheira e eles sabem isso. É a técnica de vendas mais velha que existe, com acrónimo recente: o FOMO ou fear of missing out.

É muito desagradável e só fomenta o ficar em casa. Felizmente acorda-se quando pedem os pormenores do cartão de crédito. A reserva fica pendurada e eles ficam danados, a mandar mails. Bem feito. O stress volta, derrotado, para a nave-mãe.

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