Recuperar o país é trabalho “para uma década”, acredita Costa

O primeiro-ministro apresentou esta tarde a estratégia para a recuperação das matas nacionais que foram atingidas pelos incêndios. Uma tragédia “que não foi obra do acaso”.

Primeiro-ministro apresentou estratégia para matas nacionais
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Primeiro-ministro apresentou estratégia para matas nacionais LUSA/RUI MIGUEL PEDROSA
António Costa plantou um sobreiro
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António Costa plantou um sobreiro LUSA/RUI MIGUEL PEDROSA
De visita ao Pinhal de Leiria
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De visita ao Pinhal de Leiria LUSA/RUI MIGUEL PEDROSA

Por estas terras do Pinhal de Leiria e do total das sete matas nacionais não vão nascer só pinheiros. “Mas só é pinhal se tiver pinheiros”, lembrou o primeiro-ministro, que esta segunda-feira, em Vieira de Leiria e na Marinha Grande, apresentou o Programa de Recuperação de Matas Nacionais. Um plano que vai demorar seis meses a sair do papel e pelo menos mais cinco anos a ser implementado no terreno. Mas a recuperação do território é, para o primeiro-ministro, um trabalho muito mais demorado.

O que aconteceu [em Outubro] não foi obra do acaso, foi obra de profundas transformações que o país sofreu ao longo de décadas, que desvitalizou toda uma região interior e que abandonou a floresta, além do impacto profundo que estamos a sofrer, directa ou indirectamente, das alterações climáticas (…). São realidades estruturais que temos de enfrentar e temos de ter a consciência que não resolveremos num ano, nem em dois anos. É certamente para uma década”, disse na cerimónia de apresentação do plano de recuperação das matas nacionais, o que incluiu o Pinhal do Rei.

Nas sete matas nacionais, a área ardida superou os 24 mil hectares (entre área gerida pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas e perímetros geridos por outras entidades), o que representa um total de um milhão de toneladas de madeira ardida, que pode, numa previsão a valores de mercado, render cerca de 33 milhões de euros quando for vendida. O Pinhal de Leiria, que tem 11 mil hectares, ardeu quase na sua totalidade (86%).

Para recuperar estas áreas, foi constituída uma comissão científica, com o contributo de várias universidades, para apresentar um programa de recuperação e gestão das matas nacionais no prazo de seis meses. Um programa que levará cinco anos a ser implementado, mas que precisará ainda de mais tempo, uma vez que o ciclo de recuperação destas árvores demora décadas.

Para já, não há números para este investimento. “É impossível dar um valor do investimento que é preciso fazer nas próximas décadas”, disse o presidente do ICNF, Rogério Rodrigues.

18 meses a cortar, cinco anos a plantar

O que o fogo destruiu num dia vai demorar anos a renascer. Durante parte do processo de recuperação do Pinhal de Leiria e das restantes matas nacionais do litoral, o Governo vai parquear madeira, para controlar os preços que são praticados no mercado.

O executivo espera conseguir realizar os cortes prioritários de árvores durante os próximos seis meses, dando um ano e meio até que todo o processo esteja concluído. Durante um período de nove meses a três anos, o Estado vai guardando a madeira que for cortando e vai realizando hastas públicas de tempo a tempo. “O parqueamento desta madeira vai permitir que a indústria não tenha uma quebra”, garantiu o secretário de Estado das Florestas, Miguel Freitas.

“Não há memória de um volume de madeira ardida desta natureza”, disse Rogério Rodrigues, do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas. Contabilizados estão 1,7 milhões de metros cúbicos, mas o total pode ser um pouco diferente. “Até ao dia 14 de Outubro não tínhamos sido atingidos na mata por nenhum incêndio”, disse, lembrando aquele dia que destruiu o Pinhal de Leiria.

Ao mesmo tempo que este trabalho de corte das árvores decorrer, a comissão científica apresentará o plano de recuperação que assentará em alguns pilares para melhorar o pinhal. Desde logo, a diversificação da composição florestal. Ou, como disse o primeiro-ministro, que plantou um sobreiro em Vieira de Leiria, “não quer dizer que não tenha pinheiros - porque só é pinhal se tiver pinheiros -, mas para que resista ao fogo não pode ser só de pinheiros”. Além disso, a intenção é aumentar as zonas húmidas e aplicar modelos avançados de silvicultura.

“Temos aqui a oportunidade de, ao fazer, fazer diferente e melhor”, defendeu António Costa, que insistiu nesta ideia várias vezes no discurso que fez na Marinha Grande. “Um dos grandes desafios é, ao mesmo tempo que plantamos, plantarmos melhor, termos a coragem de cortar o que tem de ser cortado para podermos ter um território mais seguro”. Ideia seguida pelo secretário de Estado das Florestas: “Vamos ter uma floresta que vai ser bem pensada”, acredita o governante. “Queremos dar a garantia que é mesmo para fazer. É mesmo para fazer”, repetiu.

Este trabalho terá, contudo, de ser coordenado com a reforma da floresta, que está a ser implementada. Aproveitando um auditório que é favorável a esta intervenção, o primeiro-ministro lembrou que a reforma que iniciou em 2016 não é tarefa fácil: “Sei bem das resistências que vamos ter. O cadastro parou a Sul do Tejo e só esporadicamente foi feito a Norte. O cadastro tem mesmo de se fazer”, insistiu. Porque o país, directa ou indirectamente, será afectado pelas alterações climáticas. “Pode não ser para o ano, esperemos que não seja, nem daqui a quatro ou cinco anos, mas seguramente vamos ter fenómenos climatéricos anómalos mais exigentes”, disse.

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