O que o PS será com o PSD depende de Rio e do que a esquerda deixar

Socialistas acreditam que será mais fácil falar com o PSD, porque pior do que estava era impossível. Mas não querem um PS virado para a direita.

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Enric Vives-Rubio

O PS balanceou-se para a esquerda e não quer dar passos em falso na relação com o novo líder do PSD que ponham em causa o equilíbrio que vão conseguindo à esquerda, nos entendimentos políticos e nas políticas. A chegada de Rui Rio faz acreditar os socialistas que é possível negociar dossiers com os sociais-democratas, desbloqueando algumas reformas que estão paradas. Mas o partido de António Costa não espera nem quer muito mais do que isto nesta fase: conversar - até pode dar para namorar, mas não para casar.

E tudo depende da postura que Rui Rio assumir, o que para o PS é uma incógnita. Nesta semana após a eleição, Rio andou discreto e longe dos holofotes mediáticos, mas não será sempre assim. O que adensa as dúvidas: ninguém conhece muito bem o que pensa, o que quer e do que é capaz. Para já, alertam, tem de conseguir unir o partido e muitos têm sido os sinais de que quem apoiou Santana Lopes não se vai calar, por exemplo fazendo pressão para que Rio mantenha Hugo Soares como líder parlamentar. “Houve muito tacticismo esta semana. É um sinal do estado em que o partido está”.

Esse estado, para o PS, tem um nome: Passos Coelho. “O PSD estava numa depressão colectiva. Estava tudo bloqueado”, diz um dirigente do PS. Já um membro do núcleo duro do Governo acredita que “o PSD vai demorar a recuperar das feridas dos últimos anos”. Antes de qualquer disponibilidade para o diálogo à esquerda, o líder do PSD tem de ganhar mesmo o partido, até porque o PS espera entendimentos que disso dependem, a começar por matérias no Parlamento.

A proximidade pessoal e política entre Rui Rio a António Costa não fez soar os sinos de alarme nem no PS nem no Governo. Os socialistas têm fé que o primeiro-ministro não vai desistir de governar à esquerda só porque à direita apareceu um líder com quem pode falar. “Em termos globais prefiro entendimentos à esquerda, mas nunca ninguém excluiu o PSD de qualquer entendimento. O que rejeitámos sempre foram propostas com as quais não concordávamos”, defende o porta-voz do partido, João Galamba.

O PS vê ainda outra vantagem: não deixar Assunção Cristas sozinha, com um estilo de oposição que é encarado com desagrado e perigo. O vereador da Câmara de Lisboa e dirigente socialista, Duarte Cordeiro, gostou de ouvir Rio rejeitar o populismo: “O CDS tem vindo a afastar-se da política construtiva, promovendo apenas uma política de aproveitamento emocional do elementar descontentamento. E, assim, continuaremos a ver uma líder partidária a destacar um qualquer caixote do lixo. Rui Rio decidiu distanciar-se deste caminho. Vai ser interessante analisar quem afinal lidera a direita portuguesa e que estilo vai vingar”, escreveu no Facebook.

Fernando Medina espera que seja possível Rio embarcar nessa “política construtiva” e fazer alguns acordos com o Governo. “Depende dele, do que quiser fazer do mandato”, diz ao PÚBLICO. “Gostava que houvesse a capacidade de entendimentos na descentralização e obras públicas e rapidamente”, disse, lembrando a urgência de acordo sobre o novo aeroporto de Lisboa.

No pacote de temas em que poderá haver acordo entra ainda a descentralização ou a legislação sobre a transparência de cargos políticos, dois temas, que o PS vai debater esta segunda e terça-feira em jornadas parlamentares em Coimbra e que o líder parlamentar Carlos César espera que sejam matérias “consensualizadas entre todos os partidos”.

A esperança nos acordos suspende-se no momento em que isso dificultar a relação com PCP e BE. “Criar problemas à esquerda? Não estou a ver o PS fazer coisas que causariam repúdio à esquerda”, diz João Galamba.

Tudo somado, depende do que Rio mostrar que quer fazer. O posicionamento do novo líder do PSD trará mais dificuldades ao próprio do que ao PS, acreditam. “Com Passos Coelho e Durão Barroso, o PSD mostrou uma certa acantonagem ideológica à direita. Se Rio se quiser distinguir desse legado, terá de encontrar um espaço exíguo para não copiar o PS”, diz Galamba. “Tenho alguma dificuldade em perceber como se vai diferenciar do PS”, diz um membro do Governo. Na prática, poucos anos depois de combaterem a sigla TINA (There Is No Alternative - Não há alternativa, em português), são os socialistas que defendem que não há outro caminho que dê bons resultados além daquele que percorre o Governo.

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