Directoria do Norte da Polícia Judiciária recupera em Espanha dez moedas romanas

Especialista diz que denário é uma “peça única”. Foram ainda recuperadas outras nove moedas.

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Imagem do denário agora recuperado DR

A Directoria do Norte da Polícia Judiciária recuperou, num leilão em Espanha, uma moeda romana em prata do ano 68-69 d.C., considerada peça da antiguidade clássica “única no mundo”, e entregou-a nesta segunda-feira ao Museu Arqueológico D. Diogo de Sousa (Braga). Na operação foram ainda recuperadas outras nove moedas da mesma época.

“É um denário [antiga moeda romana] de prata, do período das guerras civis, dos anos 68/69 [do tempo do imperador romano Galba], e, portanto, é uma peça única (...), emitida na Península Ibérica, na Hispânia”, avançou à agência Lusa Rui Centeno, um especialista com um doutoramento sobre O Furto e o Comércio de Património Numismático – O caso do tesouro de denários do monte da Nossa Senhora da Piedade, em Alijó.

A moeda romana apareceu num leilão em Madrid (Espanha), em Outubro de 2016, com uma base de licitação de sete mil euros. Foi descoberta e reportada pelo historiador português Rui Centeno à Polícia Judiciária, que accionou os trâmites necessários para que se conseguisse transferir aquele espólio de Espanha para Portugal.

A apreensão das moedas romanas e a sua entrega ao Estado português é o culminar de uma investigação da Judiciária, cujo inquérito foi aberto em 2016 no Departamento de Investigação e Acção Penal, explicou à Lusa fonte daquela polícia.

O denário e o resto da colecção de moedas romanas tinham desaparecido do Santuário de Nossa Senhora da Piedade, no concelho de Alijó (Vila Real), e, segundo a Polícia Judiciária, são património português. Foram furtadas em 1985 do santuário, depois de terem sido descobertas “dentro de um pote” durante umas escavações arqueológicas.

A colecção de moedas da antiguidade clássica, que foi recuperada pela brigada da Secção dos Crimes de Furto e Falsificação de Obras de Arte da Directoria do Norte da Polícia Judiciária, poderia facilmente ter sido vendido no leilão de Madrid para o British Museum (Reino Unido) ou para o Museu de Berlim (Alemanha) ou para o Cabinet des Médailles de Paris da Biblioteca Nacional de França, explicou o historiador Rui Centeno.

“Temos uma moeda única e deve estar bem acautelada, porque hoje a numismática movimenta biliões em todo o mundo e isto é uma peça muito apetecível em qualquer leilão”, acrescenta o especialista, afirmando que a instituição que vai acolher este património “deve ter condições de segurança e de preservação”.

A instituição que vai acolher o denário e o resto das nove moedas romanas recuperadas é o Museu Arqueológico D. Diogo de Sousa, em Braga, disse à Lusa o director da Directoria do Norte da Judiciária, Batista Romão, considerando que o trabalho da “pequena, mas especializada e muito dedicada” brigada da Polícia Judiciária é um bom exemplo de como a “Judiciária está atenta a este fenómeno do contrabando e dos furtos” do património português, “seja nas moedas, seja na pintura, seja noutras áreas”. “Desde que efectivamente tenha elementos para trabalhar, rapidamente se põe no terreno e consegue os bons resultados nesta área”, concluiu.

Em entrevista à Lusa, Isabel Silva, uma das responsáveis pelo Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa, avançou que o denário e o resto da colecção recuperada poderão ser vistos pelo público ao longo deste ano de 2018, comentando: “[Estas moedas] acabam por reentrar no museu e ser fruídas pelo público tantos anos depois. Isto significa que, por um lado, há uma polícia que está atenta e empenhada nestes processos de recuperação de obras de arte e, por outro, vem realçar a importância das colecções serem inventariadas e estudadas”. E considerou “extraordinário” que a brigada da Judiciária tenha conseguido recuperar, cerca de 20 anos depois, as moedas romanas desaparecidas de Alijó.

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